No final da cena da missa de corpo-presente da mãe da protagonista do filme “Cidade Rabat”, esta, pede para dizer algumas palavras, e faz um grande elogio à mãe. Que era uma pessoa solidária, carinhosa e boa. A sua grande referência. Um exemplo. Mas disse que não sabia se era crente. Se acreditava em Deus. Segundo o padre, “o único caminho que nos pode conduzir à vida eterna”. Acrescentando; uma pessoa que tais palavras merece, só podia ser crente.
Durante a guerra colonial, quando os militares regressavam sãos e salvos, o sacerdote dizia à mãe portuguesa: “vês minha filha, Deus ouviu as tuas preces! “Quando lá tombavam ou regressavam estropiados e inválidos: “Então, são insondáveis os desígnios do Senhor.”
Portanto, palavras sem fundamento. Vulgares.
Como vulgares, se têm revelado os homens da Igreja. Capazes do pior e do melhor, como todos os outros.
Os exemplos são mais que muitos. Os bons, a começar, pelo seu fundador, Jesus Cristo, que se bateu contra o imperialismo romano e pelos famintos e deserdados da sorte. Por isso, pagou com a vida, mas deixou uma mensagem contra a injustiça e a opressão. Uma mensagem de fraternidade entre os homens. Os seus seguidores foram perseguidos e castigados. Mas perante a expansão dos ideais do Mestre que passaram a ser os seus, Roma vendo que não os conseguia vencer, juntou-se a eles. A partir do imperador Constantino, o Grande, que se “converteu”, a mensagem foi deturpada e posta ao serviço do poder.
Depois a história da Igreja Católica Apostólica Romana, é conhecida. Com páginas bem negras; as Cruzadas, a Inquisição, o apoio a ditadores, etc. E, como sabemos, já nos nossos dias, muitos dos seus membros, padres e até bispos, voltaram a borrar a opa. Voltaram a comportar-se como os piores dos leigos, atacando os mais frágeis e indefesos, as crianças, com crimes sexuais.
Mas ao longo dos séculos e até à atualidade, sempre houve gente da Igreja, comportando-se exemplarmente. Cumprindo a mensagem de Cristo. Aliás, como tantos outros não cristãos.
Nem o Papa Francisco, um homem reconhecidamente bom, um homem que contra a hipocrisia instalada no Ocidente, apontou um dos motivos da guerra na Ucrânia; “a NATO a ladrar às portas da Rússia”, nem a Jornada Mundial da Juventude, vêm tornar a Igreja numa referência porque ela continua a albergar gente nada cristã.
A mensagem que Francisco deixará aos muitos milhares de jovens que o escutarão em Lisboa, será baseada, com certeza, na do Mestre. E isso será positivo. Neste mundo onde uma minoria é a principal responsável por ele ser tão injusto, pelos seus interesses mesquinhos e egoístas, manipula a grande maioria. Até no pior, que é a guerra. Não vemos nesta que grassa na Ucrânia? O Papa já apontou um dos motivos para o seu agravamento com a invasão, mas a tal minoria e os que apoiam os seus interesses, continuam a omitir outros tão ou ainda mais graves, como já aqui temos referido. E a alimentar o conflito que é imperioso parar.
Seja bem-vindo, Papa Francisco!