Somos filhas e netas da revolução. Somos herdeiras das comissões de moradores, do “casas sim, barracas não”.
Somos devedoras do projecto SAAL e da dignificação dos bairros. Somos parte da Constituição que aclamou o Direito à Habitação, no artigo 65º.
Sabemo-lo de cor: “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e privacidade familiar”.
Mas somos também testemunhas de um distrito ao qual foi arrancado a visão de mudança e de esperança, onde muitas já não conseguem morar.
Somos as aflitas dos aumentos recorde das rendas. Somos as excluídas dos bairros de casas degradadas. Somos as despejadas das cidades dominadas pelos fundos imobiliários. Somos jovens que enfrentam a 2.ª crise económica das suas vidas.
Somos migrantes precárias em casas sobrelotadas. Somos quem mora cada vez mais longe do trabalho. Somos famílias desesperadas com o crédito. Somos mulheres forçadas a viver com agressores.
Somos as vítimas de Governações de austeridade e de imposição neoliberal dos lucros da elite. Dos benefícios fiscais que fazem de nós nómadas analógicos. Do centrão duro que faz de Portugal um paraíso para a especulação.
Somos contribuintes de autarquias credoras de iniciativa. Do passado, que lavou as mãos das responsabilidades, ao presente, que enche a boca de projectos megalómanos e promessas vazias, Setúbal é uma das manifestações mais fortes da actual crise habitacional.
Em Setúbal, é o Bloco que fala e age sobre a habitação, num compromisso com o mote “uma casa, uma causa”. Somos a força que propõe regular o alojamento local. Somos as autarcas que confrontam os Executivos com os orçamentos por executar. Somos as que denunciam os empreendimentos que querem fazer do distrito um parque de diversões para ricos.
Somos a inquietação que combate os herdeiros do fascismo. É na garantia dos direitos, do Estado Social e da igualdade que estão as armas contra a extrema-direita. Desocultamos o populismo que nada muda. Recusamos voltar aos tempos dos grandes senhores nas mansões e do povo nas barracas.
Todos os dias mais uma idosa é despejada, mais uma família forçada a ocupar uma casa emparedada. Mais uma tenda montada, mais uma vizinha se perde. As paredes enchem-se com frases como “Margem Sul já só é para ricos”. Mas não estamos condenadas a aceitar esta sina trágica.
Sejamos maiorias sociais. Pela descida e controlo das rendas. Pelo reforço do parque habitacional público. Pelo fim dos benefícios fiscais. Pelo fechar da porta aos fundos imobiliários. Pela reabilitação urbana. Pela autogestão democrática dos bairros.
Há semanas fomos largos milhares nas ruas com o sonho de uma casa para viver. A 25 desenharemos o projecto por uma vida boa. A cada dia que se segue seremos as revolucionárias que gritam “casas para morar, não para especular”.
Também pela habitação, desceremos a Avenida. E para a Margem Sul habitar, seremos as destemidas que vão lutar. Junta-te.
Com João Carvalho