28 Março 2024, Quinta-feira
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A propósito de uma nomeação

Foi com surpresa, mas também alegria e orgulho que soube da minha nomeação como Figura do Ano de 2022 pela redacção de O SETUBALENSE A idoneidade e isenção dos nomeadores trazem acrescida responsabilidade ao nomeado, aqui mero escriba.
E por essa designação ser de peso, necessita que se faça mais justiça sobre ela, e se lancem alguns avisos aos nossos leitores.
A justiça faz-se repartindo o mérito com equidade, pois como é evidente à saciedade, desde os Heróis da Antiguidade, ninguém comete proezas sozinho.
Portanto, nesta saga estive muito bem acompanhado pelos restantes membros dos Órgãos Sociais da AISET, do Conselho de Fundadores presidido por Antoine Velge, aos membros das duas direcções em que tenho exercido mandatos e ao reduzido staff profissional da Associação, sem esquecer naturalmente a Secil, a Empresa em nome da qual exerço este mandato.
Mas nada teria sucedido sem o empenho de todos os deputados eleitos pelo distrito, por todos os partidos, com acréscimo de labor e responsabilidade, por suportarem o Governo, dos deputados, ou melhor, das deputadas do PS. Acompanharam estes eleitos todos os autarcas e candidatos a autarcas com quem mantivemos inúmeras conversações. No poder, ou na oposição, todos entenderam a situação e pugnaram pela sua resolução, designadamente no âmbito da AMRS.
Muitos empresários, profissionais liberais e quadros de grandes empresas nos estimularam com o seu incentivo. Presidentes do IPS ou da FCT foram essenciais, pelo que os invoco pelo nome: Pedro Dominguinhos, Ângela Lemos, Virgílio Cruz Machado.
Outros parceiros sociais como a ACISTDS, os cidadãos do Movimento Pensar Setúbal ou a Caritas Diocesana de Setúbal juntaram a sua voz a este clamor, o mesmo sucedendo com as estruturas sindicais distritais da UGT e da CGTP.
Para além destes intervenientes institucionais, que tinham mandatos e poderes para exercer, duas pessoas foram determinantes para o desfecho do processo: Maria Amélia Antunes, jurista e ex-autarca e Guy Villax, Presidente da empresa Hovione, também associada da AISET.
O SETUBALENSE, na pessoa do diretor Francisco Rito, foi um constante e providencial apoio a esta causa, e com ele todos os jornalistas e meios de comunicação social da Península.
Perante tanta gente e tantas vontades coube-me, de forma algo aleatória, o papel de dínamo e baluarte, mesmo em alguns dias em que quase tudo parecia já perdido.
Inspirado pelo imortal verso de Rudyard Kipling “ Se puderes defrontar o Triunfo e o Desastre / como iguais impostores que são” fiz por não desistir. Parece que valeu a pena.
Feita a elementar justiça, subsiste a necessidade de alguns avisos: ganhámos uma justíssima batalha, mas não ganhámos ainda a guerra do nosso desenvolvimento. Esta NUTS Península de Setúbal só surtirá efeito prático após 2027, talvez mesmo só em 2030. Até lá – invocando a pergunta retórica do amoral revolucionário Lenine – o que fazer?
A meu ver, temos que manter o essencial da solução que nos permitiu aqui chegar: concentrar esforços, articular vontades, sacrificar o acessório pelo essencial. Insistir, persistir, resistir. Até 2030 faltam 7 anos, em que precisamos recuperar da carência de investimento público e privado na Península. Precisamos abraçar e vencer os desafios da descarbonização, da digitalização, da inclusão social e da falta de Capital Humano com as qualificações necessárias.
É necessário, portanto, que de hoje até ao final da década sejam encontrados mecanismos de apoio intermédio que permitam financiar selectivamente, através de avisos dedicados, comparticipações majoradas ou programas especiais alguns investimentos prioritários na Península.
Sabemos, de experiência feita que, nos anteriores quadros comunitários, o País não conseguiu executar integralmente os Fundos que tinha à sua disposição. Muito provavelmente, o mesmo sucederá com o actual PT2030 e com o PRR. Há que antecipar essa possibilidade e renegociar, nos quadros legais existentes, alguma reprogramação de fundos, que podem, e devem, ser canalizados para a novel NUTS II Península de Setúbal
A AISET fará a sua parte, no que respeita ao necessário desenvolvimento industrial, no âmbito da definição da estratégia de especialização inteligente a vigorar no próximo quadro comunitário de apoio na nova NUTS II
Com duas ou três honrosas e pontuais excepções, como as dragagens do Sado ou a A33, não houve qualquer investimento público relevante em infraestruturas neste território nas ultimas duas décadas, para além daquele que as Autarquias conseguem fazer.
Há, quase estruturalmente, uma gritante falta de coordenação das políticas públicas, entre Educação, Saúde, Habitação, Transportes, Formação, Segurança Social. Não é um tema deste ou daquele Governo, é uma questão de falta de visão e integração que nos conduz às lamentáveis situações da rede hospitalar regional, dos inomináveis bairros sociais, da persistência inconcebível de alguns milhares de habitantes da Península em situação de exclusão económica e social continuada, da obrigação de dezenas de milhares de pessoas terem que fazer deslocações pendulares insustentáveis para a Margem Norte do Tejo.
Aqui, entre Tejo e Sado, temos quase tudo: Serra e Mar, pesca tradicional e actividade portuária de excelência, Turismo, Ambiente e Indústria, bons vinhos e bons queijos, o bom hábito de correr toiros bravos no Montijo, na Moita ou em Alcochete. Temos golfinhos e ostras, maçã riscadinha, auto estradas e vias férreas, empresas competitivas e exportadoras, instituições de ensino superior e investigação científica. Temos pessoas, mais jovens e com mais qualificação do que a média do país.
O que nos falta, para ser um destino turístico relevante, complementar à capital, uma zona industrial de referência, um pólo logístico de excelência, uma zona de praia, natureza, qualidade de vida urbana invejável para qualquer outro cidadão nacional?
Faltará quem possa e queira servir a Península com humildade, empenho e dedicação?
Este exemplo da NUTS Península de Setúbal demonstra bem que, por vezes, por vezes, é possível tornar um sonho em realidade.
Que não se ajoelhem os habitantes desta Península.
Post Scriptum – Nesta nota final desejo felicitar vivamente os outros nomeados como Figuras do Ano – Ângela Lemos, Pedro Dominguinhos, António Mendonça Mendes e Danilo Ferreira, a quem desejo sucesso na prossecução das nobres e complexas missões a que estão cometidos. Desejo também deixar uma palavra de congratulação pela nomeação do projecto de Refinaria de Litio Aurora como facto económico do ano, pelo que significa para a revitalização industrial de Setúbal e para a Sustentabilidade em geral.

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