25 Abril 2024, Quinta-feira
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Os pequenos, muito pequenos, donos do Mundo

Não que eu me considere melhor que outros; socialmente falando, é claro. Mas se há coisas em mim, socialmente falando, que me orgulho ter: são a educação e o sentido cívico. Daí, que me revolte particularmente ver o quanto, alguns conseguem converter a liberdade conquistada, num regime democrático, portanto, de tendência tolerante e que deveriam encarar como responsabilizador, numa oportunidade de dar asas ao seu egoísta egocentrismo, olhando a sociedade, não como fazendo parte dela, nos seus direitos e deveres, mas sim, como se toda ela ali estivesse ao seu redor para os servir. E isto num tempo, em que cansados de oportunistas, regimes se precipitam na autoridade e repressão, em busca de ordem e justiça social.

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Começando talvez no mais simples e popular exemplo, entre os muitos nas regras de condução, os que acham que os piscas nos carros estão a mais: afinal, ninguém tem nada que saber para onde eles vão! E indo até, em especial em meios pequenos, aos que gozando da influência que como comerciantes a povoação lhes concede, abusam dos espaços comuns. Esplanadas roubando passeios, ou deles fazendo estacionamento para clientes, quando não e porque lhes faz jeito, os espaços cativar, com duas latas de tinta e uma madeira o garantem e ali ficam. Dia ou noite, quer o necessitem ou não. Temos pelo meio, os que fazem pontaria ao risco separador, bem ao centro do carro que parecem ver maior do que é, e só assim, ocupando dois lugares vai caber. Afinal, sobra espaço ao chegarem e pouco lhes importa que falte aos outros. Os que aproveitam a espera frente ao volante, para ali mesmo, sem vassoura ou tapete para esconder, debaixo da viatura despejar o cinzeiro. Ou os que montam escritório no multibanco, consultam o saldo, fazem um, dois ou três pagamentos e veem o saldo, e depois, levantam dinheiro, e para se tranquilizarem, veem o saldo, trocam de cartão e repetem, enquanto nós esperamos.

Que todos temos um dia mau; um dia de: “-Quero lá saber! Que se dane o Mundo!”, e em que mais tensos ou mais distraídos, um ou outro gesto de abuso social praticamos, eu entendo. Também os tenho, lamento e evito. É a exceção comum que não me preocupa.

Preocupa-me sim, quem sob um prisma, que receio em crescendo, olha o resto da sociedade com puro desprezo no que é, ou faz. E nesse modo de estar e ser que alimentam, uma deformada visão da vida em sociedade, transmitam aos filhos. Sentem-se donos de um mundo em que seus são os direitos e dos outros, os idiotas que não percebem ou não merecem respeito sequer, os deveres. E assim, maltratam no supermercado os produtos que outros comprariam, e abandonam em qualquer sítio, decidindo não levar. Pegam ao colo a criança que correu pelos corredores na última meia hora, mas chegando á caixa garante prioridade, pois estar na fila é para otários. Apanhar o cocó do cão é nojo a que não se sujeitam e se festa, é festa e é deles, o fogareiro fica bem onde o querem, não os incomodando a eles, fumo, cheiro ou barulho e finda a festa, fora de horas, qualquer sítio, menos aquele que já lhes foi oficina mecânica e ficou cheio de óleo, desperdícios e peças velhas, é caixote de lixo. Pois é para eles e só para eles, que os técnicos de limpeza da camara trabalham e a quem já ajudam, largando junto ao contentor o lixo de casa, sendo pedir demais abrir a tampa para o pôr lá dentro: não cheguemos a tanto!

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Afinal, o mundo é deles e grandes se consideram. Pequenos, muito pequenos os vejo eu!

António Guerreiro
Autor literário
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