20 Abril 2024, Sábado
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Será que me enganei?

Em 1943 cheguei a Setúbal para iniciar a minha vida profissional. Pouco ou nada conhecia desta cidade, apenas que por aqui se fabricavam conservas de peixe.

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Era nessa altura uma “cidadezinha”, pobre, rodeada de bairros de lata e… de laranjais no meio dos quais estava a estação dos comboios, o que me fez carregar duas pesadas malas até encontrar alguém que me dissesse onde era o Hospital do Espírito Santo, improvisado nos restos dum convento junto à Igreja de Jesus. E vim pela necessidade de ter um emprego e… dar o salto para Lisboa onde prosperava a Ciência médica… a valer, que me atraía. Aos poucos fui conhecendo esta boa gente que aqui vivia especialmente nos bairros pobres, pois a classe a que chamamos média era bem escassa juntamente com umas três ou quatro famílias a que chamei “da alta”.

E com a minha medicina baseada numa relação de simpatia e com a minha rápida inserção nas classes que reivindicavam liberdade e melhores condições de trabalho, pois se vivia em ditadura, rapidamente me “senti em casa”. E tendo até casado com uma bela setubalense, não passou muito tempo que me sentisse verdadeiramente setubalense.

As pessoas simpáticas e acolhedoras, e (depois do 25 de Abril) este povo de Setúbal revelou-se um povo empreendedor e lutador acolhendo sempre bem e integrando correntes migratórias do Alentejo e até gentes do norte para trabalhos sazonais.

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E o tempo corre, os anos sucedem-se, a cidade cresce, nascem indústrias, implementa-se as pescas – tudo isto em redor dum estuário fantástico do “rio azul ”sob o olhar do castelo de S. Filipe, esta gente trabalhadora e reivindicativa foi-se politizando, sempre predominando forças a que é uso chamar-se de esquerda com a característica de pôr sempre a tónica nos problemas sociais.

O tempo não pára, nasce a Troia e o turismo passa a ser mais um caminho de progresso. E nos últimos anos Setúbal continua a crescer e a… alindar-se, deixando de ser uma “cidadezinha” com um porto de qualidade.
Aos poucos, sempre colaborando como podia nesta transformação de Setúbal, comecei a deixar nos fundos do meu sentir a minha origem coimbrã, e passei a considerar, e a ser, de alma e coração, “um setubalense”, pois aqui deixei décadas de intenso trabalho e de intensa intervenção cívica, aqui deixo muito suor e lágrimas, como é uso dizer-se. Que linda cidade e que povo tão trabalhador e acolhedor! E os dirigentes eleitos por este povo de qualidade têm sido e têm de continuar a ser o seu espelho! E o mundo lá por fora também não pára.

Começa a guerra na Ucrânia, e começa o êxodo das mulheres e das crianças fugindo da barbária, e, fiel à sua maneira de ser os setubalenses em geral recolhem bens essenciais, organizam viagens diretamente para a fronteira da Ucrânia para trazer refugiadas crianças para um meio de paz e segurança! Mas, ou surpresa das surpresas, há quatro ou cinco dias não há canal da TV que não inicie o seu noticiário falando de Setúbal… e não por bem. Jornais fazem primeiras páginas falando igualmente de Setúbal e da sua Câmara! Mas será que me enganei e a tal cidade acolhedora deixou de o ser?

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Quem explica o que aconteceu? Se houve erros ou má fé, é necessário explicar, investigar, avaliar e… punir se for caso disso. Não quero ver Setúbal, a minha Setúbal, nas “bocas do mundo”! Será que me enganei, será que fiz uma avaliação superficial? Quem explica e põe as coisas no que são? Eu não quero deixar de ser Setubalense!

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