20 Abril 2024, Sábado
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Uma surpresa pouco surpreendente

A maioria absoluta do Partido Socialista surpreendeu o país, a começar pela maioria dos militantes do PS, mas ao longo de toda a campanha a maioria esteve sempre mais próxima do que uma vitória do PSD. A surpresa vem mais do tratamento jornalístico, que falava das “eleições mais renhidas de sempre”, do que do sentimento do país ou do que se foi passando no terreno.

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Claro, a evolução das sondagens e televisões a passar a ideia de uma “onda laranja”, condicionou a forma como cada um acabou por olhar para a campanha. Acresce a isso a incerteza, normal, sobre a mobilização dos cidadãos numas eleições que coincidiram com números recorde de infectados e confinados.

A aproximação do PSD nas sondagens, de resto, foi muito mais construída do que real. O empate técnico da última semana esconde que, no voto directo das pessoas inquiridas, a vantagem do PS nunca foi inferior a seis ou sete pontos. Foi na distribuição dos indecisos que, com medo de repetirem o falhanço estrondoso que tiveram em Lisboa, os institutos de sondagens atribuíram quase todo o voto dos indecisos ao PSD, distorcendo os resultados da sondagens. Nada mais errado. Se há lição que os resultados de Lisboa trouxeram aos eleitores socialistas é que o dia de eleições não é para ficar em casa. O inesperado sucesso de Carlos Moedas abriu as portas à maioria do PS no país.

O que é curioso é que, olhando agora para as sondagens do início de novembro, vemos como os seus resultados são o retrato fiel do voto dos portugueses. Na sondagem do Público, o PS obtinha 39% e o PSD 30 pontos. Na do Expresso a vantagem do PS era ainda maior, 40% contra 26% do PSD. As condições políticas resultantes de uma crise política que o país não queria, a somar a um Orçamento de Estado que ninguém percebeu como foi chumbado, estavam à vista de todos. Os portugueses queriam António Costa como primeiro-ministro e não havia qualquer desejo de mudança.

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Subestimar António Costa e a sua relação com os portugueses foi o erro de Rui Rio. Para quem passou a vida inteira a criticar a elite política e jornalística de Lisboa, acabou levado pelas opiniões de uma bolha mediática com muita presença nos jornais e televisões mas pouca ligação ao país e aos seus temas e preocupações. Foi a partir desse erro de avaliação que Rio montou uma campanha centrada apenas na sua imagem e sem nenhuma alternativa mobilizadora, passando um mês a construir uma imagem de diálogo, abertura e simpatia.

Ao mesmo tempo o Partido Socialista foi eficaz em explorar as contradições do adversário, lembrando que Rui Rio se foi opondo ao aumento do salário mínimo nacional ou apresentou uma proposta de revisão constitucional para acabar com a gratuitidade do SNS. A campanha eleitoral não foi o PSD a opor-se às medidas da governação, mas o PS a criticar as medidas do maior partido da oposição. Pior era difícil, mas Rio conseguiu. Fustigado por dias seguidos a estar à defesa, perdeu a compostura e atitude que vinha criando e nos últimos dias voltou ao registo zangado e pouco democrático que lhe era reconhecido.

Agora vem o mais difícil. Quatro anos de maioria são um teste (ainda) mais exigente ao Partido Socialista. Muitos eleitores desejavam a sua vitória, mas não uma maioria, e a tolerância a qualquer erro ou desvio será menor e não maior. O passado de António Costa, em Lisboa, onde teve maioria mas conseguiu sempre acordos com oposição sobre as suas principais medidas, é um bom prenúncio. Assim esperamos, em nome dos interesses do país.

José Rafael Martins
Consultor de marketing político
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