29 Março 2024, Sexta-feira
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500 palavras: Matilde Rosa Araújo entre a verdade e a redenção (2)

O conto “História de um Cão” impressionou Sebastião da Gama, que, em 29 de Agosto de 1944, escreveu a Matilde Rosa Araújo a partir da Arrábida: “Vamos ao muito importante: ao que poderia encher dez folhas, se eu fosse exuberante e soubesse mais que ficar mudo e ajoelhado diante de uma coisa bela ou grande. Isto tudo é a propósito do Amor; do seu cão. Digo-lhe cá muito do fundo que o seu conto é simplesmente admirável; que me agradou tanto como um bom poema; e que deve fazer mais assim (…). Mais do que elogios, que em mim, por deficiência de expressão, ficam sempre curtos, lhe diria o ter eu chegado ao fim e ter voltado logo à primeira linha. É lindo, lindo, lindo…”

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Este conto, protagonizado por um cão chamado “Amor”, em que a autora navega filosoficamente entre a subjugação e a liberdade, abriu o volume “Estrada sem Nome” com uma nota entre parênteses – “à maneira de prefácio”. Estranha forma de prefaciar um livro usando uma narrativa sem quaisquer outras considerações! Mas também subtil forma de chamar a atenção para o estatuto de genuinidade, de autenticidade e de humanidade que as personagens das várias histórias vão assumir!…

A gestação de “Estrada sem Nome” foi sendo acompanhada por Sebastião da Gama, que, em 3 de Abril de 1947, na proximidade da sua publicação, serenava a amiga Matilde: “Podes ter a certeza, mesmo contra a opinião dos senhores críticos que vão ler o teu livro, de que fizeste alguma coisa digna da tua alegria, e da minha como teu Amigo, e da minha como teu camarada de geração. (…) Esta carta, escrita à beira de o teu livro sair, é a minha saudação de Irmão, de Camarada, de Amigo, pela publicação do teu livro. É a minha alegria comovida por esse milagre: porque um primeiro livro, quando nele pusemos toda a nossa generosidade e toda a nossa alma, é um milagre. Fica a ser um marco da nossa vida, tão importante como dia do nosso nascimento, ou mais importante ainda. Irá regular, embora ultrapassado, toda a tua actividade futura. Que o público o acarinhe, se quiser, a esse irmão da ‘Serra-Mãe’. Por mim, abraço-o em ti, e desejo-lhe boa viagem.”

Duas semanas depois, em 19 de Abril, na entrevista ao “Século Ilustrado”, o subtítulo “Pequenas Histórias”, que acompanhava o livro, era justificado por Matilde Rosa Araújo: “São pequenas histórias que me vieram sem eu saber como e têm um aspecto quebradiço, que vai desiludir muita gente habituada a espinhas dorsais. (…) Histórias fortes? Não. Deixei a tendência das histórias fortes…” Com efeito, nove das dez histórias do livro são marcadas pela curta dimensão, exceptuando-se a que recebe título homónimo do livro, novela de 60 páginas premiada nos Jogos Florais Universitários de 1945.

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A crítica publicada recebeu estas histórias de uma forma em que o entusiasmo e a reserva coabitavam – houve quem gostasse e quem não apreciasse a história do cão Amor, houve quem preferisse uns a outros contos, mas sobressaiu o reconhecimento de se estar perante uma autora de valor, ainda que no início do trajecto de escritora – “possui verdadeiro talento de composição de quadros humanos ou episódios e sabe infiltrar neles um veio lírico, emocionado, por vezes tocantemente simples, que revela o melhor da sua sensibilidade de mulher e de escritora”, dizia, na edição de “Mundo Literário”, de 1 de Maio de 1948, Álvaro Salema, crítico a quem o livro fora oferecido dias antes da recensão, em Abril.

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