19 Abril 2024, Sexta-feira
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Uma questão de dignidade e patriotismo

Longe de primar pela qualidade, a programação da televisão, mesmo a que mais obrigação tem de o fazer, a pública, no entanto, reconhecemos as exceções. Foi o caso da excelente reportagem que a RTP1 passou na noite do passado dia 15 intitulada “A Invasão da Agricultura Insustentável”, da autoria do jornalista Luís Henrique Pereira, imagem de Pedro Rothes e Carlos Pinota e grafismo de Miguel Castro. Parabéns, portanto, a estes profissionais e ao diretor de informação da estação, António José Teixeira.

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Isto sim! É serviço público. Diremos mais,é serviço patriótico.

Já aqui tínhamos abordado este assunto, cuja gravidade, o título da reportagem diz tudo. Trata-se, concretamente, da exploração de culturas agrícolas em regime intensivo e superintensivo, agora já não só no Alentejo, mas como o apurado trabalho mostra, estenderam-se à região da Cova da Beira ,  Algarve e ao Oeste, Estremadura.

As terras, muitos milhares de hectares, foram/são alugadas ou vendidas a empresas, sobretudo estrangeiras, e destinam-se à produção de azeitona, amêndoa e uva. No litoral alentejano e no Algarve, também produtos hortícolas em estufas e frutas tropicais como o abacate, cuja planta, consome enormes quantidades de um bem que nos tempos que correm, consequência das alterações climáticas, precioso: a água.

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Como se pode ver na reportagem(mantém-se on line), toda a vegetação e arvoredo tradicional é arrancado e as novas plantações, para além da muita água que consomem, são tratadas com doses industriais de fertilizantes e pesticidas com vista às maiores produções possíveis.

Os efeitos são devastadores para as outras plantas, para a fauna, para a água do subsolo e de superfície e para os solos que ficam contaminados e mais tarde, esgotados.

Portanto, para estes novos “agricultores”, o que está em causa é pura e simplesmente o lucro. Depois, quando os solos estiverem esgotados e as suas contas bancárias bem recheadas, vão embora, e nós ficamos com um país parcialmente improdutivo, contaminado, desértico.

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Outro aspecto imoral, são as miseráveis condições de vida da grande maioria dos trabalhadores contratados, emigrantes de países asiáticos.

Para além da generalidade das organizações ecologistas que se opõem a este crime de lesa-pátria, há muito que o PCP, o PEV e ultimamente o PAN, têm confrontado o Governo na AR sobre esta matéria. O PS e a direita, dão-lhe suporte.

Ouvido o Sr. Ministro do Ambiente, diz que tais culturas ocupam apenas 1/5 das terras com aptidão agrícola do Alentejo. Mas elas,como mostra a reportagem, já se estendem à Beira Baixa ao Algarve e  à Estremadura. E mesmo que fosse “apenas” como diz Matos Fernandes, já seriam muitos milhares de hectares. Plantações a perder de vista.

Trata-se de um atentado ecológico que não diz apenas respeito aos habitantes das referidas regiões, mas a todos os portugueses.

A preservação do meio ambiente, da agricultura sustentável, do futuro de Portugal, é  também uma questão de dignidade e patriotismo.

Francisco Ramalho
Professor, Corroios
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