20 Abril 2024, Sábado
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De quem é o tempo que se passa nos transportes?

Tenho para mim que se o tempo que os trabalhadores passam nos transportes fosse descontado no horário de trabalho, em vez de ser roubado ao descanso e tempo livre, muitos dos problemas de mobilidade já estariam resolvidos. Tempo é dinheiro, diria o patrão a quem se fizesse tal proposta, e nenhum patrão aceitaria que a deslocação casa-trabalho prejudicasse o tempo que lhe pertence, ou “os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas”, como diria José Mário Branco. Mas tempo não é só dinheiro também é saúde, descanso, amor, educação, cultura, felicidade. E é isso que centenas de milhares de pessoas perdem todos os dias em transportes de má qualidade ou simplesmente à espera na paragem do autocarro.

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Na área Metropolitana de Lisboa e na margem sul em particular este problema é histórico e tem sido épica a falta de vontade para o resolver. Existindo um rio, o mais previsível é que vamos precisar de barcos. Mas a Transtejo e a Soflusa funcionam há anos no osso, sem investimento em embarcações nem em pessoal. Tal como nos comboios, não estamos a falar de áreas em que os problemas se resolvam rapidamente, é preciso formar gente e uma encomenda de material pesado como este pode demorar anos a ser concretizada.

Sendo mais grave no caso da Fertagus, uma PPP que já custou milhões aos contribuintes e que se vangloriava de prestar um serviço exemplar sem explicar que só o conseguia fazer porque os preços dos passes eram exorbitantes, também era previsível que a redução desses preços ia pressionar os transportes públicos. A sobrelotação dos comboios da Fertagus veio acrescentar um problema à falta de embarcações da Transtejo/Soflusa e tanto num caso como no outro, o erro foi correr atrás do prejuízo. Com a pandemia tudo mudou de figura, para pior.

Enquanto os transportes públicos, como a Carris, aguentaram o embate e continuaram a dar a resposta de emergência mesmo durante o confinamento, as populações que dependem de transportes coletivos concessionados ou privatizados, como é o caso dos TST, ficaram à mercê do grau zero de uma política de transportes coletivos. Lembremos como a partir de 9 de abril, todas as carreiras de e para Lisboa foram cortadas de forma abusiva e unilateral, deixando sem transporte tantos trabalhadores de serviços essenciais e milhares de pessoas que precisavam de aceder a serviços de saúde e outros bens de primeira necessidade.

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Recordemos o lay-off que cortou carreiras quando elas eram precisas para a retoma económica e para garantir a distância física entre passageiros. Testemunhamos os atrasos e supressões constantes num serviço que ainda não está sequer a funcionar a 100% do período pré pandemia. Esta empresa com tão mau nome é uma das concorrentes ao novo concurso internacional para transportes rodoviários da margem sul.

E como se não tivéssemos aprendido nada com uma história de maus serviços públicos e uma pandemia, a maioria das câmaras municipais decidiram voltar a entregar este serviço a privados em vez de lançar as pedras para a construção de uma verdadeira “carris da margem sul”. Com linhas e frequências que foram decididas sem consultar a população nem participação pública, o eixo Almada/Seixal/Sesimbra arrisca-se agora a continuar nas mãos dos TST. Enquanto isso, da expansão do Metro Sul do Tejo nem sinal. A maior parte do tempo que os trabalhadores passam nos transportes públicos é um prolongamento não pago do seu horário de trabalho. E mesmo depois de chegarem a casa para a maioria das mulheres segue-se nova jornada sem salário. Esta é a importância de lutar por um bom sistema de transportes públicos, de qualidade, tendencialmente gratuitos.

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