29 Março 2024, Sexta-feira
- PUB -
InícioOpiniãoO canto do cisne negro

O canto do cisne negro

Por muito que queiramos, nestes dias torna-se difícil abordar outro tema que não seja a Covid-19 e a forma como tem afetado a vida de cada um e cada uma de nós. Este cisne negro marca de forma inegável o início da década. O conceito de cisne negro aplica-se a eventos imprevistos e raros que transformam a realidade como a conhecemos, devido ao seu impacto socioeconómico.

- PUB -

Sabemos que a nossa economia não se encontrava de óptima saúde – em recuperação ainda dos efeitos da crise financeira de 2008 e da estadia da Troika que se prolongou até 2014 -, embora o Ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno, previsse um excedente no OE e afirmasse mesmo que este sector teria “todos os seus indicadores de sustentabilidade muito fortalecidos face ao que acontecia há cinco anos”.

Mas vejamos, segundo as previsões actuais, os sectores económicos mais afectados por esta pandemia serão o turismo e o consumo de bens não alimentares, sendo que o primeiro representa no nosso país mais de 8% do PIB, e o segundo 64%!

Ao nível europeu, somos o 5.º país mais dependente do turismo e o 4.º mais dependente do consumo. E, assim sendo, o impacto económico em terras lusas será superior ao dos restantes países europeus, havendo a possibilidade de uma recessão de até menos 2% do PIB em 2020.

- PUB -

Com estes números em mente, mas numa perspectiva mais alargada, convido-vos a reflectir sobre esta situação em que vivemos. Até porque todo este cenário tem necessariamente de nos fazer pensar ou repensar o nosso modo de vida actual. O nosso modelo económico, penso, peca sobretudo pela sua orientação para o lucro, incentivando um consumo desenfreado, sem um olhar consciente para as consequências a longo prazo. Nesta equação, as Pessoas e o próprio Planeta parecem ser de importância menor: as primeiras são quase apenas mão-de-obra e consumidores, e o Planeta um recurso a ser explorado sem limites.

O estado de emergência climática global é anterior ao estado da emergência nacional e ambos estão relacionadas.

Há muito que urge repensar a forma como estamos na Terra, tanto individual como globalmente. Mas agora, neste que é um momento decisivo, urge fazê-lo sem adiamentos e sem lirismos! Não podemos continuar a ignorar os avisos, pois esta pandemia, temo, será apenas o início de algo maior se protelarmos uma verdadeira e profunda alteração na nossa sociedade.

- PUB -

Esta crise acarreta grandes perdas e temos que estar preparados! Mas há também muito a ganhar. Prova disso são as notícias relacionadas com a diminuição das emissões de CO2, as cadeias de solidariedade nas comunidades que se prestam a ajudar os vizinhos mais necessitados, o aproveitamento das novas tecnologias para manter a proximidade, para trabalhar em casa ou para transmitir aulas e concertos gratuitos online…

Não esqueçamos, por isso, que um cisne negro implica eventos disruptivos mas as suas consequências podem mudar o mundo de uma forma positiva! O canto deste cisne pode ser a dádiva de um mundo mais verdadeiro, mais Humano, mais conectado. E essa é uma escolha que também se encontra ao nosso alcance!

- PUB -

Mais populares

Selecção Nacional lança equipamento com semelhanças “inegáveis” ao do Vitória FC

Designer da camisola dos sadinos garante estar “lisonjeada” e realça que se trata de “pelo menos uma grande coincidência”

Praça do Brasil permanece em mudança e avança com transformação urbana

Espaço começou ontem a ser preparado para ser criada uma área exclusiva de usufruto público

“A peça do Zeca Afonso não é minha, é das pessoas de Setúbal”

Ricardo Crista tem trabalhos espalhados por todo o mundo. Autor do memorial a Zeca Afonso revela nova peça que vai nascer na cidade
- PUB -