17 Abril 2024, Quarta-feira
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A oposição numa sociedade desenvolvida

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A oposição numa sociedade desenvolvida
David Martins - JSD Seixal
David Martins – JSD Seixal

O termo “oposição” é tão velho quanto a gestão da coisa pública. Uma palavra tão simples, mas com uma aplicabilidade e um sentido tão complicado para alguns, uma vez que se traduz naquilo que é a assistência direta ao funcionamento da democracia.

Numa sociedade desenvolvida, heterogénea e pluralista, as ideias e opiniões difundem-se no modo de pensar de cada um. As bagagens emocionais, a educação desde de tenra idade, os grupos de pertença, as diversidades económicas, sociais e geográficas, são fatores que influenciam o modo de ação e, por sua vez, de reação face àquilo que rodeia o indivíduo.

Na política, rejo-me por uma premissa, respeito os outros e tenho em conta as suas opiniões e crenças, bem como, espero que me respeitem a mim de forma semelhante. Na política, como em qualquer outro ponto da sociedade, o debate e a auscultação do contraditório permitem o enriquecimento da discussão que, por sua vez, permite o engrandecimento das conclusões e das medidas tomadas.

Na política, tendemos a criar grupos para vermos reforçadas as nossas ações, com a formação de partidos políticos e movimentos sociais. Relativamente à ação dos partidos políticos, enquanto uns estão no exercício do poder, os restantes permanecem na oposição, uma condição que lhes permite discordar e fundamentar opiniões contrárias que respeitem os seus representados, eleitores e, consequentemente, apoiantes.

Na Grécia e Roma antigas apareceram os primeiros grupos defensores de uma ideia ou doutrina, e Aristóteles veio reforçar a noção de que a democracia estaria ultimamente condicionada à existência de mais do que um partido para a otimização da sua existência. A Inglaterra prevê a pluralidade de partidos e, adicionalmente, a instituição do “governo sombra” (Her Majesty’s Loyal Opposition), uma oposição formal e direta ao governo.

Diversas ditaduras políticas ou medidas descabidas foram travadas pelo poder e discernimento da oposição. Não nos esqueçamos que o direito de oposição está em exercício nas nossas instituições de forma a consagrar o efeito democrático que é pretendido com estas. A oposição é crucial para que a decisão seja tomada em conformidade com diversas perspetivas sobre o mesmo tópico. A oposição ao poder dignifica a democracia e espelha a diversidade da população numa sociedade desenvolvida que respeita a diferença de opiniões, ideologias e vontades. Pensar e agir contrariamente à maioria não significa que estejamos errados ou deslocados, é simplesmente a liberdade de fazer diferente e de adicionar valor à comunidade, apresentando-lhe um caminho alternativo ao destino unidirecional pelo qual os regentes a querem fazer seguir.