26 Abril 2024, Sexta-feira
- PUB -
Início Opinião PENSAR SETÚBAL: Os cem anos da 1ª Guerra Mundial

PENSAR SETÚBAL: Os cem anos da 1ª Guerra Mundial

PENSAR SETÚBAL: Os cem anos da 1ª Guerra Mundial
Giovanni Licciardello - Professor
Giovanni Licciardello – Professor

Ontem, dia 11 de Novembro de 2018 perfizeram cem anos sobre a assinatura do Armistício, que colocou fim à 1ª Guerra Mundial.

É um assunto que nos diz respeito a todos. À nossa História individual e colectiva.
Pela nossa parte, tivemos familiares directamente envolvidos no conflito.

O meu avô Carlos comandou um destacamento do exército, na província de Cuando Cubango, junto à fronteira com a Namíbia, na altura território ultramarino alemão.
Um tio-bisavô da Ana, Jerónimo, comandou um destacamento do CEP (Corpo Expedicionário Português) em França. Esteve na batalha de La Lys.

Ambos sobreviveram à guerra.
Embora não fosse explicitamente assumido na ocasião, o reconhecimento internacional de uma República ainda vacilante, foi um dos principais motivos que determinaram a nossa participação na guerra.

Salazar não voltaria a cometer o mesmo erro com a 2ª Guerra Mundial. Iria cometê-lo nos anos 60, com o deflagrar da Guerra Colonial.

Pela sua magnitude e importância históricas, este tema foi abordado de diversas formas, nas mais variadas vertentes.
Nesta crónica, fico-me pelas vítimas.

A Alemanha registou cerca de 2 milhões de mortos; a Rússia, também 2 milhões; a França, 1,4 milhões; a Áustria-Hungria, 1,4 milhões; a Grã-Bretanha, 960 000 mortos; a Itália, 600 000 mortos; o Império Otomano, 800 000 mortos; os Estados Unidos, 120 000 mortos, somente para referir as baixas mais significativas.

Relativamente a Portugal, entre 1914 e 1918 partiram para a Guerra mais de cem mil soldados portugueses, que combateram em África e em França. Portugal registou quase 40 mil baixas, o que faz de Portugal um dos países proporcionalmente mais flagelados.
Uma das batalhas mais mortíferas para Portugal, foi a Batalha de La Lys, que durou de 9 de Abril até 29 de Abril de 1918.

A segunda divisão portuguesa, comandada pelo General Gomes da Costa (que viria a ser Presidente da República), com cerca de 20 000 homens, perdeu cerca de 8000 homens, ao resistir ao ataque de quatro divisões alemãs, de 50 000 homens, do VI° exército alemão comandado pelo general von Quast.

Em todas as zonas atingidas pela guerra, as perdas de vidas humanas foram devastadoras.
Ninguém pode sequer fazer uma estimativa e calcular o número de feridos, cujas vidas ficaram definitivamente afectadas como resultado desta guerra. Lesões físicas, acarretando deficiências gravíssimas e lesões psicológicas marcaram para toda a vida milhões de pessoas. Nos cinco continentes.

Em Setúbal, na nossa Av. dos Combatentes da Grande Guerra, existe um monumento evocativo, com o nome dos soldados setubalenses que morreram no conflito.
Todos pensavam que iria ser uma guerra rápida, fulminante, com o objectivo de regressar o mais rapidamente possível para casa.
Aquilo que foi pensado para durar cinco meses, durou quatro anos. O mundo novo prometido não passou de uma ilusão.

A 1ª Guerra Mundial não foi a guerra decisiva; foi somente a primeira de muitas que haveriam de se seguir: 2ª Guerra Mundial, Coreia, Vietname, Tibete, Guerras Israelo-árabes, Afeganistão, Kuwait, Iraque, Irão, Malvinas, Angola, Moçambique, Sudão, Etiópia, Somália, Balcãs, Geórgia, Crimeia, Ucrânia, Líbia, Síria, terrorismo, Daesh, atentados, etc.

Contudo, com a 1ª Guerra Mundial, a Humanidade atingiu seguramente um dos seus pontos mais baixos de sempre.
A Dor, a enorme Dor Humana, individual e colectiva, essa é, de facto, a característica que perdura.
Nunca nos devemos esquecer disso.