25 Abril 2024, Quinta-feira
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Ensinamentos da Primeira Grande Guerra Mundial

Caro leitor, o tema não é habitual, embora tenha escrito outros semelhantes no anterior jornal Diário da Região. É sobre o livro João Almeida, o último fuzilado: e outras leituras da Grande Guerra, de dois autores consagrados de Setúbal e região.

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─ Albérico Afonso Costa produziu uma obra de referência sobre a História Local e sobre acontecimentos que, com o epicentro aqui, tiveram projecção nacional (O Congresso Republicano de Setúbal: o republicanismo entre a revolução e a ordem, de 2009; Setúbal: Roteiros Republicanos, de 2010; História e cronologia de Setúbal (1248-1926), de 2011; Setúbal sob a Ditadura Militar (1926-1933), de 2014; Setúbal, cidade vermelha (1974-1975), de 2017).

─ João Reis Ribeiro tem uma produção mais do âmbito da antropologia cultural (Histórias e Cantinhos da Região de Palmela, de 2002; Histórias da Região de Setúbal e Arrábida, de 2003; Imagens da Península da Arrábida no século XIX ─ «O Panorama» (1837-1868) e «Archivo Pittoresco» (1857-1868), de 2003). Dedica-se ainda a figuras da cultura e das letras, como Sebastião da Gama, preparou a edição completa e anotada do Diário, (2011), foi membro-fundador da Associação Cultural Sebastião da Gama e é seu dirigente.

Este período da História da Europa tem tido pouca atenção, mas hoje, pelo que se passa pelo mundo, em particular no Ocidente (EUA, Europa, Brasil, etc.), ganha especial importância. Exemplifico, Portugal foi pioneiro na abolição da pena de morte (1852, para crimes políticos; 1867, crimes civis; 1870, crimes civis no Ultramar), tendo sido elogiado na comunidade internacional. Em 1911, a Constituição acolheu a abolição da pena de morte para todos os crimes, até os militares, mas foi reintroduzida em 28/09/1916, pela Lei n.º 635, devido à guerra, o que foi um retrocesso civilizacional. Retrocesso semelhante aos que os actuais tempos anunciam.

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Mas a ligação deste livro a Setúbal e à região não se fica pelos autores, filhos adoptivos que à sua História se dedicaram, deve-se, também, ao facto de aqui haver documentação relevante sobre a Primeira Grande Guerra (sobre aspectos da sua gestão oficial: a correspondência do Administrador do concelho com o superior hierárquico do Governo; ou como a sociedade a recebeu: no movimento operário, nos partidos políticos, nas elites e nos intelectuais), documentação que está no Arquivo Distrital e na Biblioteca Municipal (de que destaco os jornais Germinal e Trabalho).

O livro tem duas partes:

1.ª ─ Vivências colectivas e individuais da Grande Guerra: o movimento operário, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro.

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2.ª ─ O fuzilamento do soldado João Almeida – da farsa de um julgamento à tragédia de uma execução.

Tem ainda uma Síntese conclusiva e um Índice alfabético.
Além do retrocesso civilizacional referido, podemos retirar outros ensinamentos da guerra e deste período histórico:

─ A conflitualidade que gerou na sociedade (a radicalização entre os adeptos e os opositores) e a irracionalidade que este ambiente criou (de que é exemplo a execução criminosa de um soldado perturbado psicologicamente, que não cometeu nenhum crime), ambas são semelhantes aos dias de hoje.

─ A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) redefiniu o novo mapa político e o poder na Europa, em Vestefália. Esta «Nova Guerra dos Trinta Anos» (1914-1918, mais os conflitos intermédios que culminaram na de 1939-1945), marcou o início do fim da Europa, tutelada pelos EUA e hoje por eles abandonada, que não resolve os problemas internos e se arrisca a perder o que de bom construiu desde o Tratado de Roma (1957), como disse Viriato Soromenho-Marques ao apresentar o livro.

Diz-se que os homens não se medem aos palmos, os livros também não se medem às páginas: este aparente pequeno livro pode (deve) levar-nos a reflectir sobre as incertezas do tempo presente.

Escrito pelas regras pré-Acordo Ortográfico.

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