25 Abril 2024, Quinta-feira
- PUB -
InícioOpiniãoRendimento Básico Universal - A urgência de dignificar as pessoas

Rendimento Básico Universal – A urgência de dignificar as pessoas

Várias são as definições que existem para o Rendimento Básico Universal (ou Incondicional, como em Portugal vai sendo conhecido). Uma das mais simples e que mais gosto está patente neste link, que apresenta uma interessante infografia: https://futurism.com/images/universal-basic-income-answer-automation/. Sobre o que é o Universal Basic Income aparece-nos a seguinte descrição: “(…) a fixed amount, at a level sufficient for subsistence, given by the state to all its citizens regardless of income or work status”. Traduzido dá algo como, a criação de uma quantia mensal fixa cedida pelo Estado a todos os cidadãos, independentemente dos seus rendimentos ou situação laboral. Acerca deste mesmo Rendimento Básico (RB), apelidemo-lo desta forma para simplificar e unificar as diferentes terminologias, o vencedor das primárias socialistas francesas e candidato à presidência, Benôit Hamon teve uma expressão deveras curiosa e enigmática: “O Rendimento Universal permitirá escolher o trabalho e não sofrê-lo”. De facto, tendo em conta a vital necessidade do acesso ao rendimento com que a actual sociedade se confronta, inúmeras vezes temos de nos subjugar e sacrificar simplesmente para sobrevivermos.

- PUB -

O LIVRE tem levado a cabo internamente o debate desta questão, da qual somos adeptos, no sentido de ter uma posição oficial sobre a matéria. Pessoalmente, gosto de encarar o RB como um salto civilizacional e como uma inevitabilidade. Deixo as questões macroeconómicas e de orçamentação para os mais entendidos da matéria, sendo certo que quando existir vontade política para implementar semelhante instrumento depressa se encontrará uma solução viável. Assim, dentro desta lógica e simplificando a questão, subdivido a implementação do RB em dois campos, cada um dos quais contendo duas premissas. Uma dupla de duplas, por assim dizer, que fundamentam a implantação desta medida.

No campo teórico ou idealista destaco, por um lado o acesso ao rendimento como um direito humano. Com efeito, a forma como a sociedade está estruturada torna essencial o acesso ao capital por parte de todas as pessoas. O que temos assistido com a globalização é a um aumento das desigualdades económicas, o que se traduz em cada vez mais pobreza que, paradoxalmente, inclui também muitos trabalhadores no activo, que se vêem sem um mínimo para garantir uma existência digna. Por outro lado, o princípio da libertação do indivíduo é também um ponto fulcral neste campo. A ideia de que todos podemos ganhar a nossa independência individual, escolhendo viver a nossa vida como quisermos, pois teremos sempre a salvaguarda de um montante suficiente para garantir uma subsistência condigna. Isto é algo emancipatório e que implica uma mudança radical na forma como a distribuição da riqueza tem vindo a ser encarada, numa clara aposta nos meios de pré-distribuição.

No campo prático interessa referir dois princípios que devem ser levados em conta. Primeiro, a assumpção da evolução tecnológica e da quarta revolução industrial. É relativamente consensual entre os especialistas que esta nova revolução deixará marcas visíveis no mercado de trabalho e extinguirá milhões de postos de trabalho. Estima-se que até 2020 sejam destruídos 5 milhões de empregos. Por muito que se alvitre que outros novos tipos de emprego serão criados existem 2 factos inegáveis. O contínuo aumento da população mundial, o que dificultará cada vez mais o desígnio do pleno emprego, e as décadas de vazio que podem decorrer até a sociedade se adaptar ao novo modelo tecnológico, para que se criem efectivamente os tais novos tipos de trabalho. Segundo, a possibilidade imensa que daí advém de transitar para um novo paradigma mais saudável (socialmente) e sustentável (ambientalmente). Este ponto é, por ventura, o de maior importância, tendo em conta os desafios que o planeta e a humanidade enfrenta. A ideia do ser humano poder abrandar o ritmo, ou mesmo parar, e escolher um outro modo de vida, é uma mais-valia tremenda para a sua saúde mental e física. Numa sociedade em que cada vez se pede mais e mais rápido, a possibilidade de desconectarmos e desligarmos o botão não pode ser encarada como uma questão de somenos importância. Com a implantação de um RB vem também a responsabilidade para que não seja apenas mais um incentivo ao consumo. Daí achar crucial que a ideia se mantenha no campo do progressismo ideológico.

- PUB -

O RB é, indubitavelmente, uma ferramenta que emancipa o ser humano, munindo-o do suficiente para a sua sobrevivência e reconhecendo que todos os cidadãos têm, por princípio, direito a uma quota-parte igual da riqueza gerada. Pois toda a gente contribui, directa ou indirectamente, para a criação dessa riqueza. No fundo, não deveria ser já assim?

Miguel Dias
Licenciado em Geografia
- PUB -

Mais populares

Cavalos soltam-se e provocam a morte de participante na Romaria entre Moita e Viana do Alentejo [corrigida]

Vítima ainda foi transportada no helicóptero do INEM, mas acabou por não resistir aos ferimentos sofridos na cabeça

Árvore da Liberdade nasce no Largo José Afonso para evocar 50 anos de Abril

Peça de Ricardo Crista tem tronco de aço corten, seis metros de altura e cerca de uma tonelada e meia de peso

Homem de 48 anos morre enquanto trabalhava em Praias do Sado

Trabalhador da Transgrua estava a reparar um telhado na empresa Ascenzo Agro quando caiu de uma altura de 12 metros
- PUB -