Buscas por desaparecidos em naufrágio em Troia alargadas amanhã
Ricardo e Francisco Neves, pai e filho, de 45 e 13 anos, e os irmãos Gabriel e José Caeiro, de 30 e 21 anos, iam aos chocos a bordo da embarcação de pesca de recreio ‘Lingrinhas’ na zona do cambalhão quando regressavam a terra e uma onda os atroiçoou, provocando o naufrágio. O único sobrevivente, o timoneiro, ainda os avistou e chamou por eles agarrado a uma boia, mas desapareceram.
Os quatro moravam em Grândola. Ricardo com mulher e filho no bairro do Isaías, em Grândola, Gabriel na aldeia de Cadoços com mulher e filha, no ponto oposto da vila e José em Canal Caveira, com os pais e irmão. Gabriel e José participavam pela primeira vez, a convite do amigo Ricardo, na pesca embarcada. Era a segunda vez de Ricardo. Cada um pagou 50 euros pela viagem.
A tragédia deu-se perto das 7 horas da manhã de domingo. Os quatro estavam a bordo da embarcação de recreio ‘Lingrinhas’, em Sol Troia, e foram conduzidos por Manuel Coelho, 62 anos, proprietário da embarcação. O destino era o Cambalhão, uma zona de ilhas ao largo de Troia onde o choco é profícuo, mas que tem correntes bastante fortes.
De acordo com declarações do proprietário da embarcação de recreio, às autoridades, o naufrágio deu-se perto da zona de pesca e quando tentavam regressar a terra perante um aumento inesperado da ondulação. Manuel Coelho contou à Polícia Marítima que uma onda cuspiu todos da embarcação e já no mar, ainda avistou os quatro ocupantes.
No mar, o homem do leme chamou-os, mas nenhum deles conseguiu chegar até ele, que se agarrou a uma bóia de salvação até ser encontrado. Acrescentou que apenas a criança tinha o colete posto, referindo que a colocação de coletes só é obrigatória quando se encontram a praticar a pesca e não em trânsito para o local. Só três horas depois do naufrágio, às 10 horas, é que foi dado o alerta por uma embarcação que passava ao lado. e resgatou o sobrevivente.
O corpo de Ricardo ainda não foi encontrado, mas já se fala dele no passado. “O Ricardo tinha ido apenas uma vez à pesca nesse barco e agora levou o filho Francisco e dois amigos este domingo para apanhar chocos, é uma tragédia enorme”, diz a avó do cunhado de Ricardo, Laurentina, sem conseguir conter as lágrimas e sem esperança de que Ricardo esteja vivo.
O corpo de Francisco foi domingo recuperado nas operações de buscas pela Polícia Marítima, bem como o de Gabriel Caeiro, 30 anos, um de dois irmãos que acompanhava o dia de pesca. Deixa mulher e filha menor. José Caeiro, de 21 anos, seu irmão, continua desaparecido.
Ricardo Neves, 45 anos, entusiasta da caça em Grândola, só recentemente ganhou gosto pela pesca desportiva embarcada. Trabalhava na área da cortiça, chegou a trabalhar com o marido de Laurentina, Adílio. “Fazia de tudo, era um grande homem e trabalhador”, diz Adílio Pereira.
Na aldeia de Cadoços, também em Grândola, morava Gabriel Caeiro, 30 anos, com a mulher e filha menor. No café, os vizinhos contam que na noite anterior à tragédia, Gabriel estava entusiasmado. “Ia pela primeira à pesca a convite do amigo Ricardo e ia levar o irmão, o José, dizia que ia trazer baldes de chocos até perder a conta e que tinha pago 50 euros para este passeio”.
Gabriel trabalhava numa herdade em Canal Caveira como agricultor e era aí que o seu irmão, José, de 21 anos, morava com os pais. O outro irmão era para ir também no passeio de domingo, mas decidiu não o fazer.
O Clube Recreativo Grandolense lamentou através das redes sociais a morte de Francisco Neves, atleta pelas camadas de formação de futebol do clube.
“Uma perda desta natureza deixa um vazio irreparável nos nossos corações e na história do nosso clube. Que as memórias do Francisco possam trazer algum conforto aos que ficam. Descansa em paz, querido Francisco”, pode-se ler na nota nas redes sociais.
As buscas pela Autoridade Marítima realizaram-se durante todo o dia sem que fosse encontrado qualquer vestígio dos dois desaparecidos até final da tarde de segunda-feira. Amanhã as buscas serão alargadas “oito milhas náuticas”, disse a Polícia Marítima.