Utentes agradados com autocarros da Carris Metropolitana mas revoltados com atrasos e falta de informação

Utentes agradados com autocarros da Carris Metropolitana mas revoltados com atrasos e falta de informação

Utentes agradados com autocarros da Carris Metropolitana mas revoltados com atrasos e falta de informação

|||Vanda Carla

Conversão das linhas tem deixado as pessoas confusas e os mais velhos dizem não conseguir aceder aos horários digitalmente

 

As expressões vão deixando transparecer a inquietação com que os utentes aguardam pela chegada dos novos autocarros da Carris Metropolitana. “Qual é aquele autocarro?” é a questão que mais se ouve por estes dias nas paragens, enquanto as novas linhas são ainda desconhecidas por muitos, que afirmam não conseguir aceder digitalmente aos horários.

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“Não consigo ver as linhas no telemóvel. Tem de ser a minha filha a dizer-me, até porque não colocarem as horas em lado nenhum”, disse Teresa Gomes, enquanto aguardava, na quinta-feira, na Avenida Mariano de Carvalho pela sua ‘boleia’ para regressar a casa.

“Falta muita informação. Já tive inclusive de ajudar um senhor numa paragem, quando nem eu ainda percebi bem como funciona o serviço”, acrescentou rapidamente Susana Miranda, de 42 anos. No seu caso, explicou ter conseguido identificar as novas carreiras “relativamente rápido”, mas que este processo “não está nada facilitado”.

Isto porque nas paragens espalhadas pela cidade sadina apenas foram colocados “Códigos QR [acessíveis através do telemóvel], o que não faz sentido nenhum”. “Os horários nas paragens ainda são os antigos, o que tem feito com que as pessoas quase que lá durmam. Havia muita expectativa no início, mas do que vale ter um autocarro em condições, se o serviço está deficitário?”, perguntou, para em seguida apanhar o 4438.

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A bordo da carreira que equivale ao antigo 610, naquela que foi a primeira viagem feita pelo jornal O SETUBALENSE num dos novos autocarros amarelos, Paula Ferreira também fez questão de demonstrar o seu desagrado. “Não cumprem horários e não gosto dos novos autocarros. Têm menos lugares, enquanto durante a pandemia chegou a haver espaço para todos”.

Outra das lacunas que diz ter identificado é “a falta de informação por parte dos motoristas”. “Não apanhei ainda um autocarro onde estivesse tudo como deve ser. Os preços são inadmissíveis e as pessoas não têm respeito pelo equipamento, como se estivesse já tudo estragado”, adiantou.

A passageira queixou-se dos preços porque a quantia cobrada pelo bilhete comprado no autocarro nesse dia foi de 2,60 euros, para o percurso Monte Belo Norte – Saboaria, quando o montante correcto por passagem é de 1,25 euros (anteriormente era de 1,45 euros).

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O SETUBALENSE tem conhecimento de outros episódios, em concelhos diferentes, de cobrança de preços superiores aos anunciados pela TML e, pelo que apurou, trata-se de um lapso motivado pela confusão entre o que são linhas municipais e intermunicipais.

Os motoristas terão recebido mapas em formato PDF, mas a confusão não foi evitada, até porque algumas linhas estão mal identificadas nesses mapas. O que é certo é que estas diferenças deixam em muitas pessoas a percepção de que as tarifas aumentaram, quando o que aconteceu foi o contrário. Em regra, o preço avulso dos bilhetes baixou.

“As mudanças fazem confusão às pessoas”

Antes, ainda na paragem situada junto à Escola Secundária Sebastião da Gama, Vera Lúcia disse ser da opinião que “as mudanças fazem confusão às pessoas”. “Os novos autocarros não se comparam aos da Transportes Sul do Tejo (TST), que já pingavam e estavam sujos, apesar de terem menos lugares. Tinha de acontecer esta mudança”.

No entanto, fez questão de frisar que “contrariamente ao informado, de que a partir de 1 de Junho ia estar tudo a correr bem, não está tudo preparado”. “Não há horários afixados e não há informação nenhuma espalhada. Até estar tudo acertado, não vamos ter um serviço de transporte público em total condição”, garantiu, enquanto caminhava em direcção ao 4438.

No trajecto Monte Belo Norte – Saboaria, muitas foram as dúvidas que se fizeram ouvir nos momentos em que o autocarro abriu portar nas paragens que compõem o percurso. “É o da CHE Setúbal?”, questionou uma utente naquela que é conhecida como a paragem da lavagem automática. “Não. Para a CHE Setúbal tem de apanhar o 24, 25 ou 26”, ouviu-se alguém responder de dentro do autocarro.

Sem perder tempo, o motorista foi prosseguindo viagem, com a ‘camioneta’ a atingir lotação máxima à medida que se foi aproximando do destino, local onde Vanda Carla estava a aguardar por informações.

Vanda Carla

“Já não consigo ir à fisioterapia. No horário diz que o autocarro é às 12h45, são 13h25 e ainda não passou”, comentava com um senhor, que também aguardava pelo transporte. A O SETUBALENSE disse considerar “inadmissível a Carris Metropolitana ter dado ordens para o serviço começar se não tinha condições para o fazer”.

“Ao princípio parece tudo bem, mas nada está a bater certo. As pessoas estão confusas, além de que agora sou obrigada a ir carregar o cartão à Praça do Brasil”, acrescentou.

Transporte rodoviário “é melhor para o ambiente”

A viagem para a Terroa foi já mais calma, com o autocarro a partir a horas do Mercado do Livramento. Apesar de escuros, os vidros dos novos transportes deixavam passar o cinzento que pintava o céu no dia a seguir ao arranque da Carris Metropolitana na região.

Maria Manuela Guerreiro

Neste autocarro, os passageiros não tiveram de pagar pela viagem, uma vez que o sistema não se encontrava a funcionar. Foi precisamente na última paragem que Maria Manuela Guerreiro saiu. “Os autocarros são confortáveis e consegui compreender perfeitamente as linhas”, adiantou, enquanto se instalava junto à paragem, à espera do marido.

“Ele só vem no seguinte”, afirmou, para em seguida revelar: “Só acho uma coisa mal, que é o facto de os mais velhos não darem o exemplo e não preservarem o que é novo”. “Ontem [quarta-feira], tive de dizer a uma senhora de idade para tirar os pés de cima do banco. Se não dão o exemplo, como vão os mais novos respeitar?”, confessou.

Sobre o porquê de utilizar transportes públicos, explicou não ter carta de condução por “ser uma pessoa distraída”, além de “até gostar de andar de transportes”. “É melhor para o ambiente, porque não poluo”.

Contrariamente, na mesma paragem, um idoso, ao escutar a conversa, adiantou: “Não sabemos os números, são complicados de se perceberem. Já os autocarros são bons agora, mas depois começam a ser velhos e volta tudo ao normal”.

Lapsos Carris Metropolitana garante que “situações reportadas” estão a ser corrigidas

Setúbal, Palmela, Moita, Montijo e Alcochete foram os primeiros cinco concelhos onde a Carris Metropolitana estreou na quarta-feira o novo serviço de transporte rodoviário de passageiros, com o primeiro autocarro a partir do concelho moitense pelas 04h30 da madrugada.

No entanto, têm vindo a ser detectadas algumas “situações”, nomeadamente no que diz respeito aos preços cobrados nos autocarros e aos horários. A O SETUBALENSE, fonte da Carris Metropolitana garantiu que “as situações [identificadas pelos utentes] têm sido reportadas internamente”.

“Ainda estamos em actualizações. Estamos a tentar resolver tudo”, disse, sem avançar com uma data. “Queremos que fique tudo normalizado nas próximas semanas, antes de o mês acabar”, acrescentou.

Questionada sobre os horários em vigor, revelou a mesma fonte que “de momento [os autocarros] estão a circular nos horários antigos da TST”, o que tem vindo a causar confusão nos passageiros.

“Ao longo destas semanas é que vamos conciliando com os novos horários da Carris Metropolitana. Tanto que os horários que estão apresentados no site ainda não estão a 100%. Ainda vão sofrer alterações”.

Na área 4, a que diz respeito aos cinco referidos concelhos, a Carris Metropolitana está a ser operada pela empresa Alsa Todi, consórcio formado pela NEX Continental e a Transportes Luísa Todi, em substituição da Transportes Sul do Tejo.

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