Centro Jovem Tabor de Setúbal discorda, mas tem de receber de volta suspeitos de homicídio
O Tribunal de Setúbal libertou os dois jovens de 16 e 17 anos detidos pelo homicídio de Lucas Miranda a 15 de outubro em Palmela. O cadáver do jovem de 15 anos foi abandonado pelos suspeitos, colegas no Centro de Jovens Tabor, num poço junto à instituição onde os três estavam acolhidos.
O Tribunal de Setúbal decidiu, na noite desta sexta-feira, aplicar a medida de coação menos gravosa para os dois arguidos, naturais de Setúbal e Moita, indiciados por homicídio e profanação de cadáver. Terão que se apresentar diariamente no posto da sua residência.
O homicídio de Lucas Miranda deu-se no dia 15 de outubro e o corpo foi encontrado no passado dia 16 de Fevereiro, em elevado estado de decomposição, ossadas apenas. Na noite do crime, o cadáver da vítima foi enrolado num lençol e jogado dentro de um poço inutilizado. Os homicidas taparam depois o poço com galhos de árvore e regressaram ao centro.
Lucas tinha sido institucionalizado no dia dois de outubro a pedido da sua mãe adotiva que sentia receio pelo comportamento violento do filho em casa no Barreiro. Entre a institucionalização e o homicídio, o jovem fugiu seis vezes do Centro de Jovens Tabor, mas era sempre localizado e regressava ao espaço.
As fugas faziam supor que o desaparecimento de Lucas se tivesse devido a mais uma das suas fugas. O primeiro rumor que apontou para a morte de Lucas foi dado em Novembro e dava conta de que o corpo do jovem se encontrava num poço, não em Palmela, a cem metros do centro Tabor, mas algures no concelho da Moita. A Polícia
Judiciária de Setúbal foi confrontada com denúncias que apontavam ora para a localização de Lucas, desde o Algarve a Lisboa, ora para o seu homicídio. O padrasto do jovem do Barreiro garantiu tê-lo visto a embarcar no terminal fluvial do Barreiro rumo a Lisboa em Dezembro.
No dia 15 de Fevereiro chegou uma denúncia à PJ que apontava para a localização exata do corpo e a forma como tinha sido assassinado, por dois jovens. O corpo foi encontrado em elevado estado de decomposição, ossadas apenas. Volvidas duas semanas, foram detidos os dois autores do crime, os dois jovens de 16 e 17 anos.
A PJ acredita que, depois de consumarem o crime num terreno abandonado contíguo ao Centro Jovem Tabor, os dois jovens embrulharam o cadáver num lençol e lançaram-no para o interior do poço seco.
Centro Jovem Tabor mas tem de acolher suspeitos do homicídio
O presidente do Centro Jovem Tabor de Setúbal disse este sábado que não concorda que tenha de voltar a acolher os dois jovens suspeitos do homicídio de outro jovem da instituição, mas vai recebê-los.
“Não compreendemos esta decisão do tribunal. E já decidimos enviar os outros 16 jovens para suas casas – já estamos a fazer contactos nesse sentido -, porque receamos pela segurança desses jovens e dos colaboradores do Centro Jovem Tabor”, disse à agência Lusa Carlos de Sousa, presidente da Direção do Centro Jovem Tabor.
“Após a decisão do Tribunal de Setúbal conhecida na sexta-feira à noite, foram feitas algumas tentativas, em conjunto com a Segurança Social, para que os dois suspeitos, de 16 e 17 anos, fossem acolhidos noutras instituições, mas sem êxito”, acrescentou.
O Centro Jovem Tabor é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) sob a dependência da Diocese de Setúbal da Igreja Católica, que acolhe cerca de duas dezenas de jovens com dificuldades de inserção na sociedade.
“Não podemos, nem queremos, colocar em causa a saúde e a segurança dos outros jovens, de que somos tutores, e que, por isso, estão sob a nossa responsabilidade”, disse Carlos de Sousa, salientando que “um dos dois suspeitos também já tinha ameaçado esfaquear a diretora técnica” da instituição.
“Na prática, pelo menos temporariamente, vamos ficar apenas com um dos suspeitos de um crime de homicídio, porque o outro decidiu ir para sua casa logo que foi conhecida a decisão do tribunal”, acrescentou o presidente da Direção do Centro Jovem Tabor, que é também candidato independente à presidência da Câmara de Palmela nas próximas eleições autárquicas.
Com Lusa