É um dos mais talentosos nomes da música portuguesa dos últimos tempos
Tiago Nacarato, nasceu no Porto há 32 anos, mas as suas raízes remetem também para o Brasil e são evidentes no seu trabalho. Esteve ao vivo na Feira de Santiago, no dia 1 de Agosto. Razões de sobra para uma conversa com o cantautor.
É um dos nomes mais em destaque na música em Portugal, nos últimos cinco anos. Em 2017 surgiu no programa de talentos “The Voice”, onde deu nas vistas. No ano seguinte, em Abril, saía “A Dança”, o seu primeiro single, que foi um grande sucesso, e logo de seguida apresentou-se no EDP Cool Jazz, convidado de Salvador Sobral, músico que Tiago convidaria para participar no “Tempo, o segundo single editado no final do mesmo ano de 2018. Nesse ano ainda foi ao Brasil para uma serie de concertos, esgotados, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza. Um ano em grande.
Em 2019 editou o álbum de estreia “Lugar-comum”, com enorme sucesso e gravou “Sol de Inverno”, em dueto com músico brasileiro Paulinho Moska e “Só me apetece dançar”, outro single, aqui em dueto com Ana Bacalhau. Entretanto foi um dos compositores convidados a participar no Festival RTP, e esgotou salas emblemáticas como o CCB em Lisboa, a Casa da Música no Porto e o Convento de S. Francisco, em Coimbra, e participou em importantes festivais como o Meo Marés Vivas, no Porto e o Nós Alive, no Passeio Marítimo de Algés.
Em 2022, com dois álbuns editados, vários temas de sucesso, parcerias de qualidade (do referido Salvador Sobral a Barbara Tinoco, de Irma a Tiago Bettencourt, entre muitos outros), uma carreira já sólida com incursões de relevo fora das fronteiras portuguesas.
Vamos começar pela tua vinda a Setúbal. Penso que é o teu primeiro concerto nesta cidade, certo?
Penso que sim, não me recordo de ter tocado. Estamos sintonizados, é uma estreia.
O que pode o publico, que, eventualmente, não te conhecerá ao vivo, esperar do teu concerto?
As pessoas podem esperar um concerto mais animado que anteriormente, vou buscar umas músicas do primeiro álbum e também do disco novo, que, juntas, compõem um concerto bastante ritmado, com uma banda super “ensaiadinha” e maravilhosa (risos). A maioria das canções são em português de Portugal, mas há algumas em português do Brasil.
Porque as tuas raízes, do Brasil, estão lá.
Claro, uma mistura de raízes, das minhas raízes.
Será, deduzo, um concerto menos intimista do que alguns marcantes, como os do CCB em Lisboa ou da Casa da Música no Porto.
Sim, até porque, com certeza, irei apanhar muito público que não me conhece e penso que é bom, é importante, dar alguma energia a esse concerto, para me dar a conhecer.
Neste período pós-pandemia, como tem sido a agenda? Mais festas populares, ou concertos indoor, em teatros ou outras salas?
Este ano tem sido o ano mais internacional de todos. Tive uma tournée com uma serie de concertos no Brasil, depois houve concerto em Londres, no Jazz Café, vou a Itália tocar. Têm sido coisas muito boas, mais internacionais. Mas, em termos de concertos em Portugal, tem sido um misto das duas coisas. Este mês vou ter muitos concertos outdoor, na Covilhã, Valença, e outros, e vou ter o EDP cool jazz.
As caraterísticas do EDP Cool Jazz são diferentes. Tu estiveste em 2018 como convidado do Salvador Sobral.
Foi uma experiência fantástica. Também esteve o Janeiro. Essa foi uma época de parcerias muito intensas e interessantes. Mas, voltando ao EDP Cool Jazz, é um festival que tem efectivamente outras caraterísticas, o conceito é de diferentes abordagens, mais solos.
Lançaste há pouco o álbum “Peito Aberto”. Como tem sido a receptividade? Que diferenças separam este trabalho, do teu disco de estreia, que foi um sucesso inquestionável?
Este segundo disco tem sido bem recebido, é mais experimental, sai um pouco do meu registo de cantautor, está mais virado para o Groove. É, digamos, um disco de transição, de experimentação. São novos registos.
Sinto que em relação ao outro, não está ainda a ter tanta expressividade, mas ainda está no início. E houve uma onda muito boa no primeiro. E este surge numa época pós-pandémica, com um fluxo de informação muito grande, muita coisa a acontecer, toda a gente a lançar discos, isto está um ciclo meio montanha-russa, a ver quem chama mais a atenção.
Falaste num disco de transição.
Sim, é uma procura de uma sonoridade nova, uma experimentação, ver o que posso melhorar.
Em poucas palavras, como te apresentarias a alguém que nunca ouviu falar de ti ou da tua música?
Boa pergunta. É complicado. Não gosto muito de me definir, é uma característica minha, e contra mim falo, porque o mercado gosta de colocar as coisas em gavetas. Gosto de experimentar coisas. Sinto que sou um cantautor experimentalista, de ascendência brasileira, mas tenho muito afecto pelas minhas raízes portuguesas e gosto de misturar essas culturais. Eu entendo que isso possa dificultar o trabalho das pessoas que gostam de catalogar, dos jornalistas em geral (risos). Sinceramente, não consigo dar uma definição da minha música, de mim. Tenho que pensar nisso.
Opinião Musical