Verbas resultantes da venda do álbum e dos concertos realizados têm revertido nesse sentido. Está neste momento a gravar um novo álbum com Jorge Fernando, que sairá no final do ano
Nascido em Setúbal, João Mendonza recorda os tempos de infância passados na baixa da cidade e a catequese que fez na Igreja de São Julião, onde também cantou no coro. Com ligação à música desde sempre, logo em criança disse aos pais que queria ser cantor de ópera.
“Um dia descobri um disco de Luciano Pavarotti lá em casa. Comecei a ouvir e a imitar e até soava bem. Na altura já dizia que era mesmo isto que queria fazer. Os meus pais riam-se muito, achavam graça”, recorda.
Foi tendo aulas de piano e com 14 anos entrou no Conservatório Regional, em Setúbal, onde teve a sua primeira aproximação séria com a música. “O talento trabalha-se, mas nascemos com a voz que temos e eu considero-me um sortudo por ter um timbre indicado para o canto lírico”, refere. “De Setúbal fui para Lisboa para o Conservatório Nacional, com a mesma professora, Filomena Amaro, grande soprano portuguesa”, adianta.
Durante a estadia em Lisboa, estudou canto durante dois anos e foi aí que “realmente dei o salto, a minha voz evoluiu bastante e fui até convidado para fazer uma ópera no CCB, a minha primeira estreia profissional, com 17 anos. Para mim foi um grande impulso na minha vida e na minha carreira”. No mesmo período, licenciou-se em Comunicação Social. “Ajudou-me muito, até porque cantar é comunicar, as áreas estão muito interligadas”, refere.
Em 2015, é co-fundador do grupo Passione, “que surgiram através de um desejo meu antigo de juntar o canto lírico à canção portuguesa e ao fado. Fizemos o ‘Avé Maria’ para o Papa e o projecto ganhou uma dimensão nacional”, declara. Em Maio do mesmo ano, o tema original “Ave Maria” é entregue em mão como “Oferenda Oficial do Estado Português”, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a sua Santidade Papa Francisco, em Fátima. Um ano mais tarde, o Santo Padre agradece o tema editado em sua homenagem e abençoa os artistas com uma Bênção Apostólica. Em 2018, são recebidos no Vaticano, pelo Papa Francisco, a quem oferecem o seu álbum e de quem recebem a sua bênção. “Foi o momento alto da minha vida espiritual e profissional, sem dúvida, ouvir do Papa um ‘obrigado’ e poder agradecer-lhe, senti-lo, abraçá-lo, foi muito intenso, uma experiência que guardarei para sempre”, partilha.
Em Setembro de 2019, foi agraciado com o título de Embaixador de Setúbal, título que recebeu “com muito orgulho. Gosto muito de viver aqui e quando vou lá fora levo muito Setúbal comigo e digo com todo o orgulho que sou de cá”.
Em 2021, participa no programa “All Together Now”, na TVI, que “correu muito bem. Fui de coração e peito aberto e acabei por homenagear o meu avô que tinha partido”. Esta experiência abriu-lhe “portas para um projecto que tinha em mente, a minha carreira a solo, que comecei em 2021. Começar a solo é começar do zero mas sempre com pés e cabeça”, afirma. “Tem sido uma aventura e ao mesmo tempo uma experiência positiva. Tenho tocado e trabalhado muito com o guitarrista Renato Sousa, também de Setúbal, que conheci o ano passado, ainda em pandemia”, acrescenta.
“Senti que tinha a missão de usar este disco como veículo de entreajuda”
“Acabei por dedicar o disco que lancei este ano à Ucrânia porque no momento em que tenho o disco pronto a guerra começa e pensei que a melhor maneira que tenho de homenagear estas pessoas e apoiá-las é usar este disco como ferramenta para ajudar financeiramente e logisticamente”, explica. “Senti que tinha a missão de usar este disco como veículo de entreajuda. Os concertos que damos são as canções do disco e muitas vezes a entrada é um valor ou a entrega de bens essenciais”, acrescenta. Em Maio, foi recebido pela Embaixadora da Ucrânia, “que me agradeceu por estar envolvido numa acção destas de solidariedade e entreajuda, na qual quero continuar até a guerra acabar e depois na reconstrução e me convidou para dar um concerto na Ucrânia quando a guerra terminar”.
O disco “Ao Vivo”, apresentado no “Concerto a Maria”, é uma edição de autor composta por 13 canções. “Sou crente, sou um grande seguidor e então dediquei todos os temas a Nossa Senhora de Fátima, canções como Ave Maria, Recado e Aleluia, que canto já há muito tempo e quis voltar a cantar, gravadas na Igreja da Anunciada”.
Neste momento, está em estúdio a gravar um novo disco de originais, com o músico e produtor Jorge Fernando, que será lançado no final deste ano e “ainda não tem nome”.
No que diz respeito ao panorama cultural setubalense, João Mendonza considera que “estão a aparecer novos talentos, novos músicos. Setúbal está a ficar mais cosmopolita, conseguimos trazer artistas de fora para cá e levar os nossos artistas para fora e é importante haver esse intercâmbio. Setúbal nunca teve uma cultura tão aberta como tem hoje e ainda bem, porque também me sinto incluído nisso e espero que perdure”.