Congresso federativo marcado por homenagens a Mário Soares, Joel Hasse Ferreira e ex-presidentes de câmara. Pinotes Batista vai reunir-se com concelhias
Evocar a história e projectar o futuro. Foram estas as linhas orientadoras do 21.º Congresso Federativo de Setúbal do PS, realizado na última sexta-feira e no sábado, no Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira, Moita, com cerca de três centenas de participantes. E no final foi deixada uma garantia: “O PS leva daqui uma grande energia e vai apresentar projectos autárquicos ambiciosos e audazes nos 13 municípios, naqueles que já lidera e nos que virá a liderar”, resumiu a O SETUBALENSE André Pinotes Batista, recém-eleito presidente da Federação Distrital de Setúbal do PS, que vai ter Paulo Lopes como vice-presidente da estrutura.
Os trabalhos ficaram marcados por três homenagens: uma, no primeiro dia, a Mário Soares – com a apresentação do livro de David Castaño sobre aquele que para muitos é considerado o “pai da democracia” em Portugal – e, no segundo dia, outra a Joel Hasse Ferreira (enquanto primeiro eurodeputado eleito pelo círculo de Setúbal) e outra ainda aos antigos presidentes de câmara eleitos pelo partido no distrito.
Foram distinguidos os ex-autarcas João Jaleco (a título póstumo), Maria Amélia Antunes e Nuno Canta (todos de Montijo), Orlando Curto (título póstumo) e Mata Cáceres (Setúbal), Carlos Beato e Graça Nunes (Grândola), José Dias Inocêncio (Alcochete), Emídio Xavier (Barreiro), Amadeu Penim (Sesimbra) e Pedro Paredes (Alcácer do Sal). Mas, nem todos estiveram presentes, uns por motivos de agenda, outros por doença. “Orgulho” e “gratidão” foram as palavras mais ouvidas da parte dos homenageados ou daqueles que os representaram. Porém, houve uma mensagem que se destacou das demais. Veio de José Dias Inocêncio, em tom de alerta e ao mesmo tempo de união, dirigida directamente ao seio das concelhias do partido, sobretudo, para os que ambicionam ser cabeças-de-lista nas próximas autárquicas.
“Olhem-se primeiro ao espelho e depois vejam-se de trás. Se fizerem esse exercício profundo de análise, é fácil reconhecer-se as qualidades que são necessárias. Não é a ambição. Chamo a atenção de todas as concelhias: muito cuidado com factores que desagregam e que podem fragilizar-nos neste combate autárquico”, atirou o antigo presidente da Câmara de Alcochete.
E o recado não passou em claro a André Pinotes Batista. “A equipa que vou constituir vai ter como primeira medida reunir-se com todas as estruturas para nos vermos ao espelho, José Inocêncio. Colectivamente, não como exercício de egos, mas como exercício de percebermos quem são os melhores preparados para fazer a diferença na vida das pessoas”, anuiu o novo presidente da distrital socialista.
Críticas duras a PCP e Chega
Antes, e com as próximas autárquicas no horizonte, Pinotes Batista já havia centrado atenções na força política que se constitui como principal adversária do PS na região. “A governação de uma câmara pelas mãos do PS não é igual, nem em acção nem em solidariedade, a uma câmara gerida pelo PCP. Não há nenhuma razão para votar no PCP no distrito de Setúbal. O imobilismo, o perpetuar das dependências, da queixinha, ao invés de ousar, de ambicionar, de nos prepararmos, é algo que as pessoas notam”, disparou.
E, mais à frente, carregou nas críticas aos comunistas. “Uma coisa tenho por garantida: não há ninguém que esteja convicto de que sair de casa e votar no PCP seja um acto de progresso. O progresso é no PS e o exemplo está nas autarquias que lideramos”, reforçou, sem deixar também de disparar completamente à direita.
“Neste momento, o discurso do Chega é racista, xenófobo, é desumano, mas é claro naquilo que passa”, advertiu, para se focar na questão da imigração. “O PS tem de ter a coragem de assumir uma agenda para as migrações com uma forte nuance humanista, sem nenhum tipo de complexos.”
De permeio, o novo líder da distrital assumiu que o PS só pode ir a jogo para ganhar. “Seria fácil, para baixar expectativas, dizer que vamos tentar. Mas, quem joga para empatar não vence. E vejo os sítios onde já vencemos e os sítios onde vamos vencer, porque esta é a lógica correcta. As pessoas aderem ao sucesso, não aderem a conversa. As pessoas aderem a propostas concretas, em que sintam que a sua vida vai mudar”, sustentou.
A terminar, André Pinotes Batista mostrou-se confiante na capacidade de resposta do partido no distrito. “As eleições autárquicas de 2025 são nevrálgicas para o PS no distrito de Setúbal, mas de Setúbal daremos um sinal muito importante para o PS nacional”, concluiu.
Entre as forças políticas convidadas a marcar presença na sessão de encerramento do congresso fizeram-se apenas representar o PCP e o CDS-PP.
Eurídice Pereira “Notei vontade de se partir para um novo ciclo mesmo a sério”
André Pinotes Batista sucede a Eurídice Pereira na liderança da distrital. No final dos trabalhos, a socialista realçou que o congresso “correu bem em toda a linha”. “A dignidade da homenagem a Mário Soares e a presença de várias gerações na plateia foi um registo muito interessante. Notei, nas intervenções de André Pinotes Batista, uma vontade muito grande em, não desperdiçando o trabalho já feito mas dando-lhe um cunho diferente, partir para um novo ciclo mesmo a sério”, analisou. “Estou convencida de que dos próximos dois anos de mandato vão sair propostas extremamente interessantes, para os autarcas e também do ponto de vista de uma intervenção no Parlamento para nossa região. Estou muito satisfeita com o ímpeto que aqui renasceu”, juntou.
Já a ex-ministra Mariana Vieira da Silva encerrou o encontro com uma mensagem de confiança. “Durante este e os outros congressos que realizou por todo o País, o PS mostrou que está forte, que está vivo. Mostrámos que estamos prontos para todos os desafios que nos cabem”, rematou.