“O pico mais alto da Sardinha, nos últimos cinco anos, é este ano, mas a quota para os barcos é quase a mesma”, lamenta Daniel Panal
A pesca artesanal enfrenta dias difíceis mas o gosto por “andar no mar” é maior e comum a inúmeros setubalenses que não abandonam a faina apesar das dificuldades. Inserida no contexto da pesca tradicional, e em proximidade com as gentes do mar, a Associação de Pesca Artesanal – Setúbal Pesca reforça a participação na Semana do Mar e do Pescador, fazendo parte de várias actividades da programação para esta semana.
O evento valoriza a pesca no presente e “projecta a economia do mar no futuro”, diz Daniel Panal, um dos fundadores da associação e actual presidente.
“Esta associação foi criada com o intuito de resolver problemas da pesca, de dar apoio aos pescadores”, começa por dizer o presidente da Setúbal Pesca, que representa os armadores da pesca local e costeira em Setúbal, na Gâmbia e na Carrasqueira, que divide o seu tempo entre o mar e os escritórios da associação.
Filho do mar, recebeu da família as tradições e o amor pela pesca e pelo mar. “Acreditamos que a associação faz muita falta e que é possível fazer um bom trabalho porque a pesca tem muitos problemas para resolver”, conta.
Nas palavras de Daniel, que anda no mar há mais de 40 anos, não falta peixe no rio Sado, como raia, cação e sardinha. “Temos muito peixe para apanhar. Segundo o estudo recente nos últimos cinco ou seis anos, o pico mais alto que encontraram da sardinha foi este ano e a quota vai ser praticamente a mesma para esses barcos. E é este tipo de situação que falta resolver”.
Numa das lutas que travou, a associação conseguiu legalizar a pesca do salmonete com malhagem apropriada. “Há cerca de três anos pedimos um estudo sobre o salmonete, que era proibido apanhar em Setúbal. A Setúbal Pesca pediu ao Instituto de Investigação das Pescas e do Mar para realizar esse trabalho connosco e chegaram à conclusão de que havia peixe para apanhar e que aquela arte não prejudica mais nenhum tipo de peixe. Conseguimos, assim, ter essa licença para mais de 20 embarcações”, adianta, acreditando que “sendo esta mais uma prova de que através destes estudos se pode fazer muito”.
Diz que a pesca enfrenta dias difíceis, sente que os governantes se esquecem muitas vezes do sector, mas acredita que é uma profissão com futuro. “Temos que cativar as pessoas mais jovens para vir para o sector, dando-lhes condições. Hoje os pescadores e os armadores queixam-se com falta de pessoas para trabalhar e tudo isto nos preocupa”, partilha.
“Participamos desde o inicio neste evento, que tem uma grande importância para todos nós. Somos uma cidade capital de distrito, terra de peixe e é muito importante mostrar isso”, considera. “Este ano, uma vez que também coincide com o Dia da Criança, vamos ter actividades onde as crianças vão poder ver e aprender como se faziam artes antigas, para que possam passar um bom dia connosco e quem sabe se os consigamos cativar para o futuro”, continua.
A Associação Setúbal Pesca está empenhada em ajudar a que a pesca em Setúbal cresça mas deixa o aviso: “Temos de fazer alguma coisa, se continuar assim vamos acabar por deixar de ser uma terra de peixe. Ou melhor, com muito peixe mas sem gente para o apanhar”.
Foto: Alex Gaspar