Município é um bom exemplo de “equilíbrio entre os edifícios e as árvores” e tem vários exemplares classificados como de interesse público, afirmou a investigadora Raquel Lopes na conferência “A Árvore e a Cidade”, sobre os benefícios das árvores monumentais
Cartão verde para a gestão da chamada “floresta urbana” no município de Setúbal, que além de procurar assegurar um “equilíbrio” entre as árvores e os edifícios tem vários exemplares classificados como Arvoredo de Interesse Público. Foi este o diagnóstico feito pela investigadora Raquel Lopes na conferência “A Árvore e a Cidade”, a primeira de um ciclo organizado pela Observatório – Centro de Ciência Viva de Coimbra, a Fundação “La Caixa” e a Câmara Municipal de Setúbal.
Em Setúbal, a doutoranda em Biologia no Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores da Universidade de Aveiro diz ter encontrado “um cenário bastante positivo, uma vez que é um município que tem uma série de árvores classificadas de interesse público”, estatuto que é atribuído às árvores conforme características como a idade, raridade, forma, valor natural, histórico-cultural e paisagístico.
O distrito tem cerca de 20, segundo a investigadora, um número positivo tendo em conta que metade dos municípios do país não tem nenhuma classificada. As árvores monumentais “constituem um património incalculável” com elevado valor educativo, natural e científico e ajudam também a filtrar o ar poluído, permitem formar “corredores ecológicos” e têm um valor paisagístico, histórico e cultural associado à fruição estética da cidade, explicou.
Raquel Lopes deu ainda o exemplo do sobreiro, muito característico no território do distrito, como uma árvore da qual se podem tirar proveitos. “Uma região pode ser potenciada a partir das suas árvores monumentais, e “em Portugal há muito potencial para serem exploradas”. A criação de rotas turísticas e outro tipo de actividades que envolvam e sensibilizam a comunidade, a começar pelas crianças, são também hipóteses nesta área.
Os choupos que se encontram à entrada da Escola Secundária de Bocage, a pimenteira do Brasil, “espécie rara no país” com cerca de 70 anos na Avenida da Portela, a malaleuca “de grande longevidade” que está no Jardim da Beira-Mar e um pinheiro-manso no bairro de Vanicelos foram alguns dos exemplos de árvores de interesse público elencados pela investigadora. De resto, há exemplares classificados um pouco por todo o distrito, como em Palmela, Moita, Azeitão, Seixal, Alcácer do Sal e Almada.
Portugal foi um dos primeiros países europeus a criar legislação de protecção deste tipo de árvores, em 1938, e cujos estatutos são atribuídos e geridos pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Um passo importante tendo em conta que no século XX desapareceram 80% das árvores monumentais na Europa, “devido à intensificação da agricultura, pastoreio, pressão urbana e às guerras mundiais”.
Em termos urbanísticos Setúbal é um município em que, “fazendo uma pequena deslocação pela zona histórica, há um equilíbrio entre os edifícios e a própria árvore, e também os transeuntes. É muito importante dar espaço aos transeuntes para poderem usufruir das árvores”, resumiu Raquel Lopes em declarações a O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO.
Esta foi a primeira de quatro conferências de índole ambiental que terão lugar na Casa da Baía (as próximas são nos dias 4, 10 e 15 de Abril), organizadas pelo Observatório – Centro de Ciência Viva de Coimbra, a Fundação “la Caixa” e a Câmara Municipal de Setúbal. O ciclo surge no contexto da exposição “A Floresta – muito mais do que madeira”, que está patente numa tenda no Largo José Afonso até ao dia 25 de Abril e tem entrada livre.