Desde 2005 que Nuno Magalhães se sentava na Assembleia da República eleito pelo círculo de Setúbal, no domingo não conseguiu renovar o mandato. Aceita este resultado como responsabilidade própria e lamenta que o centro-direita tenha perdido representatividade. Há muito que o seu nome era apontado para liderar o CDS, com a renúncia de Assunção Cristas poderá estar mais perto do lugar, mas Nuno Magalhães afirma ser um erro começar o futuro do CDS pela discussão de nomes
A última vez que o CDS-PP concorreu sozinho em legislativas foi em 2011, teve na altura 12,02% no distrito de Setúbal e elegeu dois deputados. Quatro anos depois concorreu coligado e o único centrista eleito entre cinco mandatos da coligação PAF na região foi Nuno Magalhães. Com o efeito geringonça era esperada uma quebra do centro-direita mas até as sondagens o indicarem, poucos acreditariam que o CDS-PP ficaria na fasquia dos 2,96% no distrito e sem deputados
Que leitura faz do resultado eleitoral de domingo no distrito de Setúbal, em que o CDS-PP não elegeu nenhum mandato?
Foi evidentemente um muito mau resultado, que nós não estávamos à espera. A responsabilidade foi minha, assumo, não posso atribuir essa responsabilidade à direcção de campanha, militantes e estrutura do CDS porque todos deram o máximo para que este resultado não acontecesse.
Por outro lado, temos o facto de o resultado no distrito de Setúbal sempre ter tido muita relação com o global no país. Sempre que o CDS teve mais votação nacional teve mais votação em Setúbal, onde chegámos a eleger dois deputados. Portanto, este resultado no distrito tem o efeito nacional, o efeito de voto útil e o de dispersão de votos noutros partidos, o que prejudicou o CDS. Mas seria um erro esconder que tivemos um muito mau resultado.
Nas Legislativas 2015 o CDS-PP concorreu coligado com o PSD, a nível nacional e também no distrito onde em conjunto obtiveram 22.59% de votos. Nas Legislativas de 6 de Outubro o PSD obteve 14,36% e o CDS-PP 2,96%. A baixa de votação centrista estaria camuflada com a coligação?
Não creio. O país em 2015 era outro e, a verdade, é que quem ganhou as eleições foi o PSD e o CDS, apesar de não terem maioria absoluta. Se há quatro anos já houvesse uma baixa de votação no CDS, significava que o PSD agora teria cerca de 20% de votos, o que não aconteceu.
Esse seria um problema menor, seria a valorização do PSD e desvalorização do CDS, ou seja, do ponto de vista do centro-direita haveria esse espaço político e social representado, mas a verdade é que não houve. Sem querer comentar os resultados do PSD, verifico que o CDS não perdeu um deputado para o PSD, até por ele próprio também perdeu um deputado.
Creio que terá visto a projecção da Eurosondagem que O SETUBALENSE publicou na passada sexta-feira, onde indicava que o CDS não conseguiria eleger nenhum mandato. Achou este resultado possível e ficou incomodado?
Vi. Achei que era possível, e vem de encontro ao que fui dizendo quer às bases do partido quer às pessoas que, em campanha, encontrava na rua, apelando ao voto útil porque eu estava a disputar um deputado com o PAN e com o Bloco de Esquerda, pretendia assim mobilizar o eleitorado de centro-direita. Mas o que tivemos foi dispersão de votos em vários partidos. É também provável que algumas pessoas de direita tivessem votado no PSD para que perdesse menos em relação ao PS.
Desde as Legislativas de 2005 que é eleito pelo distrito de Setúbal. Agora fica fora do parlamento na Assembleia da República, o que vai fazer?
Ficarei para sempre com o distrito de Setúbal marcado em mim. Já escrevi que é um distrito que aprendi a amar, é um distrito de futuro e cheio de potencialidades que poderá sempre contar comigo, embora não o podendo representar na Assembleia da República como eu desejaria. Mas no que puder ser útil estarei com o distrito, a minha vida política foi sempre feita em Setúbal pelo que me sinto um pouco setubalense. Devo muito às pessoas do distrito de Setúbal, e ingrato não sou.
O seu nome já há algum tempo que era apontado para a liderança do CDS-PP. Com a saída de Assunção Cristas da direcção do partido, estará a pensar nesse lugar?
O CDS mais do que pensar em nomes tem de pensar em projectos, ideias e tem de reflectir sobre estes resultados eleitorais. Começar por discutir o meu nome ou de outros seria um mau começo, portanto não vou contribuir para aquilo que considero um erro.