Desistir é uma palavra que não consta no vocabulário de um dos melhores ciclistas portugueses da actualidade, natural do Montijo
Um dos últimos exemplos da sua tenacidade e resiliência em cima da bicicleta revelou-se na segunda etapa da Volta a França de 2022. O corredor português foi envolvido numa queda, ficou com o lado esquerdo do corpo “sem pele”, mas continuou em prova.
Ruben Guerreiro, 27 anos, natural do Montijo, é um ciclista trepador nato e conseguiu, para já, o seu momento de maior glória em 2022 que é também o seu maior feito no trajecto
como ciclista profissional, a conquista do Mont Ventoux Dénivelé Challenge, um sonho apenas ao alcance dos predestinados.
De acordo com o Le Dauphiné, Guerreiro conseguiu a quarta subida mais rápida ao mítico Mont Ventoux desde o início do século, à frente de nomes de peso como Alberto Contador, Chris Froome ou Tadej Pogacar. De 2004 para cá, só mesmo o espanhol Miguel Ángel López conseguiu um tempo melhor.
No final de tremendo êxito, Rúben Guerreiro, confessou aos jornalistas que tinha boas sensações para este Challenge no Mont Ventoux. “Quando acordei de manhã fiquei surpreendido. O Dauphiné (prova disputada dias antes) é uma corrida tão dura, é difícil recuperar assim tão rápido. Vi que podia ter o meu dia e tentei comunicar isso à equipa. O Esteban Chavez (colega de equipa) também estava muito bem e controlámos a corrida. No início da subida, senti-me muito bem, ataquei, sempre com a confiança que podia manter aquele ritmo. O Esteban também estava atrás de mim, o que nos dava muita tranquilidade, e, por isso, fui subindo aqueles quilómetros todos, com muito sofrimento e no final todo esse esforço foi compensado”.
A este feito, o ciclista montijense, junta a conquista classificação geral final do Prémio da Montanha da Volta à Itália 2020, envergando a Camisola Azul, símbolo de um triunfo inédito na história do ciclismo português e uma vitória de etapa nessa edição do Giro. “Só acreditei mesmo que ia ganhar quando eu ataquei e o Castroviejo ficou sentado na bicicleta, nos últimos 100 ou 150 metros. Aí percebi que ia chegar primeiro e nem olhei para trás. É difícil pensar em alguma coisa. Tentei perceber onde estava e o que tinha acontecido. Até perguntei ao massagista que me estava a acompanhar se aquilo era mesmo verdade. Porque nem acreditava. Depois, como o dia estava tão mau, as ideias congelaram completamente. Só mais tarde, depois da conferência, quando estava a caminho do hotel é que me lembrei dos momentos em que precisei de pensar que um dia tudo iria valer a pena.”. Aquele foi esse dia, diria no final Ruben Guerreiro.
Da Trek Segafredo à EF Pro Cycling, uma vida como emigrante
Este é mais um momento de glória de uma carreira que, aos 27 anos, ainda tem espaço e tempo para acomodar mais momentos para o Ruben em particular e para o ciclismo português em geral.
Este ano estreou-se no Tour de France depois de já ter participado na Vuelta (2019) com um 17º final. No Giro de Itália conta também com uma participação, em 2020, tendo terminado no 33o lugar, conquistado uma etapa e consagrado como o Rei da montanha.
Actualmente na equipa EF Pro Cycling, Rúben Guerreiro é um jovem atleta do distrito de Setúbal, residente em Santo Isidro de Pegões, que tem vindo a conquistar o seu espaço na elite do ciclismo internacional. O seu percurso iniciou-se no BTT, aos oito ou nove anos. Depois, aos 16, ingressou na primeira equipa de ciclismo de estrada, começou a ter bons resultados e, a partir dai, foi sempre a escalar a montanha.
Saiu de Portugal em 2014, com 20 anos. Nesse ano tinha tido bons resultados: Ganhou a Volta a Portugal do Futuro e na Volta a França do Futuro conseguia sempre acompanhar os melhores na montanha. Classificou-se entre os 15 primeiros, quando ainda era muito novo. Depois, chegou a uma equipa norte-americana Axeon Cycling Team, que é a melhor equipa sub-23 do mundo. E a partir daí, foi competir muito e chegar ao patamar de excelência onde se encontra actualmente.
Ruben Guerreiro tem feito o seu percurso profissional no estrangeiro e cedo o seu valor começou a ser reconhecido.
A porta de entrada deu-se pela norte-americana Axeon Cycling Team. Seguiu-se a Trek-Segafredo, para as temporadas de 2017 e 2018. Durante este período, é, sobretudo, Campeão de Portugal em estrada, em 2017, e classifica-se como quinto da Bretagne Classic, em Agosto de 2018, após ter tomado o sexto posto no ano precedente.
Apanha a equipa Katusha-Alpecin para a temporada de 2019, com um contrato de um ano. Desde Janeiro, é oitavo do Tour Down Under. Em Agosto, participa na Volta a Espanha. Para a sua primeira grande volta, distingue-se terminando 17º do geral, após ter obtido o segundo lugar na etapa no Santuário do Acebo e quarto na etapa que leva a Igualada.
Em 2020, após o final da equipa Katusha, apanha a equipa EF Pro Cycling. Em Agosto, é seleccionado para representar Portugal no Campeonato Europeu de Ciclismo em Estrada, em Plouay, no Morbihan. Classifica-se em 41º na prova de ciclismo em linha.
Rúben Guerreiro à queima-roupa
Idade: 27 anos
Naturalidade: Montijo
Residência: Sto Isidro de Pegões
Modalidade: Ciclismo
O ciclista, a quem os amigos tratam por cowboy, por ter sido sempre irrequieto e enérgico, garante que a alcunha já pegou no pelotão internacional