O cantor de música popular portuguesa promete sempre noites de festa e alegria
Quando se fala de Quim Barreiros, todos temos a consciência de estar perante alguém com uma carreira longuíssima, repleta de sucessos classificados por uns de populares e por outros de popularuchos. Seja como for, não há ninguém, arrisco dizer absolutamente ninguém, que não conheça dois, três, quatro, cinco temas de Quim Barreiros. Faz parte do imaginário popular e, por isso, a sua presença em festas populares é sucesso garantido.
O último dia das Festas de Sant’Iago, dia 7 de agosto, não fugiu à regra, quando o artista subiu ao palco. “Em Setúbal vai ser uma festa, uma alegria, muita alegria mesmo. É o que vai ser…alegria”, foi a resposta de Quim Barreiros, com as suas célebres gargalhadas, à minha questão sobre como iria ser a sua apresentação ao vivo em terras sadinas.
Acompanhado por seis músicos, Quim Barreiros está com agenda cheia para este verão. “Tenho concertos quase todos os dias, de norte a sul.” A pandemia (com os seus efeitos nefastos) já lá vai. “Meu amigo, a pandemia já foi com a…” (abstenho-me de completar a frase, mas dado o conhecido espírito brejeiro de Quim Barreiros, não será difícil imaginar o resto, terminando com… da tia).
Mas façamos uma viagem rápida pela vida deste minhoto de 75 anos, cuja energia, boa disposição sentido de humor e “talento para a coisa” são inquestionáveis. Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros nasceu em junho de 1947, dia 19, em Vila Praia de Âncora. Cresceu entre acordeões e grupos folclóricos da região, mas o primeiro instrumento que aprendeu a tocar, aos 8 anos, foi a bateria, que chegou a executar (e a adormecer em simultâneo) no grupo musical que o pai tinha na altura.
“O baterista que tocava com o meu pai no Conjunto Alegria adoeceu e eu disse ao meu pai que podia substituí-lo. O Conjunto Alegria era muito conhecido na altura aqui no Alto Minho. E eu lá fui tocar bateria, nas festas do Carnaval, que duravam imensas horas e iam pela noite dentro. Por vezes, chegava a adormecer atrás da bateria e, então, lá iam o saxofonista ou o trompetista tocar-me aos ouvidos para eu acordar e voltar a tocar”.
A história foi contada pelo próprio.
Depois surgiram os Ranchos Folclóricos, onde o acordeão teve lugar de destaque, com o qual fez inúmeras viagens ao estrangeiro e por aí se manteve até à tropa. A história diz que passou pela Força Aérea e pela respetiva banda musical, onde tocou outros instrumentos, “aterrando” em Lisboa, onde começou – imagine-se – a movimentar-se no mundo das casas de fado. É aqui que começa a tocar acordeão, uma fórmula estranha, mas que à época resultou em Alfama e no Bairro Alto.
Carlos do Carmo, Alfredo Marceneiro, Hermínia Silva e o guitarrista Jorge Fontes, são alguns dos grandes nomes com os quais se cruzou nos meios fadistas. Antes, enquanto membro de ranchos folclóricos, já se tinha cruzado no estrangeiro com Amália Rodrigues.
Em 1971, o artista gravou o seu primeiro disco. Hoje, conta com mais de 80 gravados. Na segunda metade dos anos 70, Quim Barreiros partiu à conquista do mercado de emigração, com especial destaque nos Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha e Holanda, para nos anos 80 alargar a todos os locais onde houvesse gente de Portugal. Foi nessa altura que, numa estadia no Rio de Janeiro, conheceu o consagrado músico brasileiro Luís Gonzaga, que o influenciou com os ritmos do forró do Nordeste.
A meio dos anos 80, quando as Queimas das Fitas e as Semanas Académicas começam a proliferar entre as associações estudantis universitárias, Quim Barreiros torna-se, passe a expressão, membro honorário requisitado para todas as festas, onde o tema “Mestre de Culinária” serviu de banda sonora ideal para uns excessos de diversão regados a álcool. Curiosamente, o cenário, no que diz respeito aos meios estudantis, mantêm-se no mesmo nível desde há quase quatro décadas. Também curiosamente, ou talvez não, é uma parte desses meios estudantis, mais tarde transformada em elites ditas culturais, que então ostracizam o trabalho e o nome de Quim Barreiros.
Associando o frenesim das festas estudantis ao crescente número de festas populares no país, Quim Barreiros é desde há muito um dos nomes mais requisitados para concertos em Portugal e simultaneamente o artista mais imitado, diria mesmo descaradamente imitado, na música, nas palavras, no instrumento, no chapéu e até no bigode, o que lhe confere um estatuto único de originalidade, fundamentado em mais de meio século de carreira, com dezenas e dezenas de canções e expressões que todos conhecem e que atravessaram várias gerações.
Posto isto, a festa é certa qualquer que seja o local de apresentação. Porque todos vão: os que gostam e os que só vão ver como é.
Opinião Musical