Com 54 anos, e depois de ter passado vários anos da Suíça onde presidiu ao Conselho Municipal de Genebra, Carlos Medeiros voltou o ano passado a Portugal onde ingressou no Aliança, sendo o militante número 14. Candidato pelo Distrito de Setúbal, diz-se da direita moderada e defende uma economia forte para fazer um social eficaz. Bom senso é uma das suas regras na política
Como chega ao Aliança e a candidato pelo círculo eleitoral de Setúbal?
Sempre tive uma relação forte com a margem sul e, neste momento, estou a morar em Setúbal, isto depois de ter estado muitos anos imigrado na Suíça onde, através da imprensa, seguia o que se passava em Portugal, e também o percurso de Pedro Santana Lopes.
Nunca estive ligado ao PSD, mas sempre me identifiquei com Pedro Santana Lopes. Gosto da sua maneira de ser, da sua atitude e das suas ideias. É um homem que se assume, que nunca quis estar do lado aconchegado e sempre tomou riscos, nomeadamente quando foi primeiro-ministro, e isso é raro na política.
A sua linha política é mais à direita do que a de Santana Lopes. O início da sua actividade política é na Juventude Centrista. Isso tem enquadramento com a sua candidatura pelo Aliança?
Eu era do lado político de Lucas Pires, Adelino Amaro da Costa e estive na primeira vitória de Krus Abecassis para a Câmara de Lisboa. Comecei a colar cartazes na rua aos dez anos.
O que motiva a sua candidatura pelo Distrito de Setúbal?
Estou de acordo com a linha de pensamento de Santana Lopes relativamente ao necessário crescimento económico, mudança das relações sociais e uma sociedade inclusiva. Defendo a política do bom senso, independentemente de onde vêm as ideias, se forem sensatas e colectivas, são boas.
O Distrito de Setúbal é como um país diversificado. Temos pesca, agricultura, indústria e comércio, a nossa realidade é um pouco daquilo que se passa no resto do País. Tem problemas e muitas potencialidades que não estão a ser colocadas em valor. Joga-se pelo poucochinho. Nem se valoriza o capital paisagístico, nem o hoteleiro, estes entre outros valores que não estão a ser aproveitados. Eu quero defender e valorizar o enorme potencial do Distrito.
[O distrito] tem muitas potencialidades que não estão a ser colocadas em valor. Joga-se pelo poucochinho
Sendo o Aliança vista como um partido de estrutura de direita, que resultado espera conseguir tendo em conta que o Distrito de Setúbal vota à esquerda?
Nas Europeias, Setúbal foi o terceiro melhor distrito em votos para o Aliança. Quando as pessoas me conhecerem vão perceber que sou de direita, mas de direita muito moderada. Defino o meu conceito político numa frase: Uma economia forte para fazer um social eficaz.
Entendo que uma economia liberal, com parcerias, por exemplo na saúde, permite nivelar pelo cimo. Mais uma vez é preciso a política do bom senso. Os empresários têm de aumentar os ordenados, tem de se criar uma economia interna porque não basta só turismo e exportações. Isto para mim é uma bandeira.
Outro ponto é termos de fazer rentabilidade, e não é trabalhar mais. Olhando a Europa, verificamos que os trabalhadores portugueses são os que mais horas trabalham, mas temos dos salários mais baixos e o rendimento horário dos mais baixos. A culpa é de quem? Do trabalhador português? Claro que não! Porque fora de Portugal temos o mesmo rendimento que os outros trabalhadores. O problema é uma gestão mal pensada, e aqui o Estado tem grande responsabilidade. É preciso dar formação aos pequenos e médios empresários.
Estamos muito atentos aos problemas do Distrito e vamos agir. Acredito que vamos conseguir eleger um deputado por este círculo eleitoral.
Sendo o aumento dos salários uma das suas bandeiras, considera que o salário mínimo em Portugal é injustificável.
Quem consegue governar-se com isso? É preciso aumentar os salários que em Portugal são muito baixos. A riqueza tem de ser distribuída, é preciso criar um mercado interno. Eu também sou empresário e o que digo aos meus amigos empresários é para não terem medo de pagar salários mais altos, esse dinheiro é redistribuído e volta outra vez para as empresas. Como se pode justificar um salário mínimo de 630 euros? Pelo menos deveria chegar aos 850 euros.
Como se pode justificar um salário mínimo de 630 euros? Pelo menos deveria chegar aos 850 euros
Já disse que as NUTS que temos neste momento não servem à região. Qual a sua proposta?
É um escândalo! Como é que o Distrito, sendo a quarta região do País mais pobre, está aliado à região de Lisboa que nos dá um per-capita superior e, por isso, não temos direito aos fundos de coesão europeus. Então os nossos deputados não são capazes de fazer uma aliança, independentemente das cores políticas, e defender o Distrito? Vou-lhes propor esse compromisso pré-eleitoral.
Se for eleito em Outubro, faço um contrato com a população em que eu, Carlos Medeiros, vou defender o Distrito de Setúbal. Não vou defender a Aliança em prioridade, mas sim o Distrito onde fui eleito.
Defende o conceito de Regionalização?
Não sou pelo regionalismo. Vi o que aconteceu em França, o que se fez foi criar barões de província. Networks que se perpetuam duas ou três décadas. Ora temos visto o que se passa em algumas autarquias, agora imagine-se regiões a funcionar da mesma maneira
Defendo, isso sim, a descentralização. Mas uma verdadeira descentralização, não basta dizer às câmaras que têm mais competências, têm também de ter meios. Ninguém, conhece melhor o seu território do que as próprias autarquias. Em Genebra fui membro de um conselho municipal e ali faz-se a política do bom senso onde se vê resultados em poucos meses, sejam eles bons ou maus. É real.
Dou o exemplo do que vi numa das visitas a Sines onde há empresas gigantescas, onde há dinheiro; mas logo por ali, na Ribeira dos Moinhos, há um cheiro nauseabundo. A resolução disto devia estar devidamente descentralizada pelo Ministério do Ambiente ou o do Mar, e não é com directorzinhos disto ou daquilo, é com real descentralização e fazer pelas populações. É preciso agir onde existem os problemas, isso faz-se no terreno e não dentro de gabinetes ministeriais.
Defendo, isso sim, a descentralização. Mas uma verdadeira descentralização, não basta dizer às câmaras que têm mais competências, têm também de ter meios
Na apresentação da sua candidatura elogiou a criação do passe Navegante, mas criticou o planeamento do mesmo. Porquê?
O Governo devia ter percebido que o Navegante iria aumentar a procura. Mais uma vez a política do bom senso. Se aumenta a procura e não há mais oferta, naturalmente que isto não vai funcionar. Antes da introdução deste passe deviam ter sido reforçados os meios de transporte público, não basta fazer uma acção eleitoral a poucos meses das Legislativas. A medida foi boa, mas tem de se fazer o resto.
Também quem reside na margem sul e não tem a opção transportes públicos, sendo obrigado a usar o seu carro para ir trabalhar, devia ter uma compensação, por exemplo uma isenção na taxa de autoestrada. Um País tem de considerar várias formas de beneficiar as pessoas, sejam elas do litoral ou interior.
E quanto ao transporte fluvial, temos assistido a greves atrás de greves na Soflusa (Barreiro / Lisboa). Considera que a solução apenas pública continua a ser funcional?
O que me admira é que a seja empresa pública. Um Governo por mais que queira não consegue resolver tudo. Defendo as Parcerias Público Privadas quando o Estado não tem capacidade de dar uma resposta minimamente de qualidade aos problemas das pessoas, quando assim é, temos de nos socorrer do privado.
O privado não pode ser visto como um papão, é um complemento. Não podemos ter dogmas de esquerda e direita, o que é preciso é resolver os problemas das pessoas. Mas note-se, eu quero um Estado forte, não podemos é continuar em ‘guerra de trincheira’, temos de vir para o centro do debate.
No seu programa pré-eleitoral, o Aliança definiu oito grandes temas para o Distrito. Esses temas vão passar por todos os concelhos?
Não forçosamente. Com o primeiro – combater um Estado Poluído – estivemos em Sines onde há duas das empresas grandes poluidoras. Também pedimos uma audiência com a presidente dos Portos de Setúbal e Sesimbra depois de termos sido contactados por associações ambientalista que dizem estar preocupados com a fauna do Estuário do Sado caso ocorram as dragagens [devido ao alargamento do canal marítimo de acesso ao porto].
Pelo o que nos foi mostrado, e se assim for feito, o que tem de ser verificado, o desenvolvimento do Porto de Setúbal é importante para a região e temos de monitorizar as fases desse desenvolvimento para que não surjam problemas graves para o meio ambiente.
Percebo que aceita estas dragagens no Estuário do Sado?
Depois das explicações que me deram considero que são um mal necessário. Neste momento moro em Setúbal, no Viso, de onde tenho uma vista alargada para o Sado, e aqueles problemas que a presidente do Porto de Setúbal nos disse sobre dois barcos não conseguirem cruzar no canal do estuário são facilmente visíveis.
Depois das explicações que me deram considero que [as dragagens] são um mal necessário
O PS incluiu a Terceira Travessia do Tejo na lista de 100 projectos do Programa Nacional de Investimentos 2030. Concorda com esta terceira travessia e, neste caso, entre Chelas e o Barreiro?
Se o projecto for rodo-ferroviária é de ponderar, desde que circule. Mas isto são medidas eleitoras. É um investimento de várias dezenas de milhões de euros e mesmo com comparticipação comunitária, tem de haver um investimento substancial do Governo português, e depois vamos ter o Ministério das Finanças a fazer cativações em sectores fundamentais como a saúde, educação e transportes.
Nós somos por este projecto. Mas antes disso gostaríamos de ter investimentos como o hospital no Seixal e a resolução de problemas noutros hospitais da região. Estes são investimentos que podem e devem ser realizados hoje. Uma coisa são promessas, a outra são obras executadas. E o aeroporto, de repente desapareceu?
Para o aeroporto defende a solução Portela mais um – BA6 no Montijo –, ou um novo aeroporto de raiz?
Há quem seja positivo a esse projecto no Montijo; mas a nível nacional, pessoas que trabalham com essa área convenceram-nos, com dados concretos, que seria melhor a opção Alverca. Isto porque está ao lado no actual aeroporto e permite mais facilmente a criação de infraestruturas necessárias. A opção Montijo é, uma vez mais, uma solução manca, não sei quais os interesses económicos que se pretendem servir.