Participante do livro que comemora o 170.º aniversário do jornal O SETUBALENSE contribuiu com cerca de uma centena de entradas desde movimentos sindicais a figuras históricas
Diogo Ferreira, historiador de Setúbal, foi um dos convidados para participar no “Dicionário da História de Setúbal”, obra que procura fazer uma resenha de grandes momentos, personalidades e acontecimentos que fazem parte da história da cidade de Setúbal.
Em entrevista a O SETUBALENSE o investigador destaca o nível de pormenor da obra, a diversidade de áreas envolvidas na construção da mesma e o significado e impacto que esta vai ter não só na história do concelho, como em futuras investigações.
Como é que lhe foi apresentado este projecto?
Quando o professor Albérico me apresentou o projecto, a dinâmica foi bastante livre, mas ao mesmo tempo com umas ‘guidelines’ [linhas orientadoras] pré-estabelecidas na metodologia que pretendia para a obra. O dicionário é sempre um tipo de trabalho de história principalmente, tem sempre a questão de se querer conjugar a inovação com a síntese, ou seja, tentar construir um texto que permita transmitir de forma sintética dados de maior relevância, seja numa dinâmica temática ou bibliográfica, que foram as duas grandes linhas deste livro.
Entreguei ao professor, entre temas e biografias, entre 90 e 100 entradas. A parte cronológica, também foi um desafio para mim, porque fui buscar diferentes contextos históricos – século XIX e século XX. Acho que o professor teve a preocupação inteligente de procurar dirigir os temas a pessoas que já estivessem minimamente ligadas àquele tema ou àquela pessoa.
Qual foi a metodologia de investigação que utilizou para construir essas entradas?
O professor deu-nos liberdade para termos três fórmulas de trabalho. No fundo, poderia ser uma síntese daquilo que já tinha escrito noutras ocasiões e noutros trabalhos, mas, noutros casos, obrigou a investigar – por exemplo, os sindicatos, obrigaram-me ainda a investigar, a ir ver documentação nova. Tive de ir à Torre do Tombo consultar a documentação. Os jornais da época, O SETUBALENSE, naturalmente que é sempre o nosso refúgio principal como historiadores locais. E outros periódicos que existiram ao longo do tempo, muitas vezes até os próprios sindicatos tinham os jornais próprios. Portanto, havia essa tentativa de resumir o que já tivesse escrito ou pesquisando sobre determinada pessoa, reconstruir texto ou acrescentar alguns dados novos que, entretanto, pudesse ter apanhado. Também tínhamos, sempre que possível, ir procurar uma fotografia do biografado ou da biografada, e também uma imagem minimamente alusiva ao tema, que estivéssemos a escrever.
Não fiz só entradas sobre homens, também algumas mulheres, por exemplo, a Maria Campos. Infelizmente, na história, há um grande desfasamento entre as figuras femininas e os homens, com grandes destaques. Mas este livro parece-me que se preocupa em enaltecer as grandes setubalenses.
Qual é a importância deste livro para a história local de Setúbal e para a comunidade?
Quando se terminar o dicionário, do A ao Z, posso dizer que vai ser, se calhar, o maior contributo para a historiografia de Setúbal alguma vez feito. Esta ideia que o professor teve foi absolutamente brilhante. É um esforço que tinha de ser sempre colectivo, acho que nunca houve tanta gente, ao mesmo tempo, a colaborar num trabalho desta dimensão e em tão pouco tempo.
O nível de pormenor que isto tem é tão esmagador, é uma coisa tão incrível, secalhar estamos a falar num total de 1500 páginas e que, para além de ser esse exercício de compilação incrível, tem outra coisa muito importante: acho que nunca houve tanta gente com tanta formação académica e competência técnica para fazer este tipo de trabalhos.
Temos pessoas de diferentes áreas científicas, não é só da história, da antropologia, da sociologia, da arqueologia, do jornalismo. No fundo consegue-se abarcar diferentes dinâmicas com diferentes especialistas sobre diferentes matérias.
E também tenho de dar os parabéns a O SETUBALENSE pela iniciativa, porque estamos a viver períodos negros na democracia e um jornal que ainda consegue manter a imparcialidade também é uma coisa de grande importância, mas é um jornal que se preocupa muito com a parte cultural. No fundo há essa preocupação também em difundir e em preservar a memória do concelho, e isto também merece esses parabéns de se arriscar a associar-se a isto e a ter esta ideia que é uma ferramenta de trabalho extremamente útil.
Ainda não vi o livro integralmente, mas daquilo que sei, que já li e partilhei com outros colegas, vai ser uma coisa mesmo incrível e que vai marcar a história da historiografia de Setúbal. Acho que é a frase que sintetiza esta pergunta: vai marcar a história da historiografia de Setúbal este conjunto de livros.
JULHO | Apresentação da obra marcada para dia 19
O primeiro volume do “Dicionário da História de Setúbal” é lançado já no próximo mês, naquela que é também uma forma de marcar os 170 anos do nosso jornal. O primeiro volume – de uma obra que vai contar com outras duas partes, lançadas em 2026 e 2027 respectivamente – é apresentado a 19 de Julho no salão nobre da Câmara Municipal de Setúbal, a partir das 18 horas. A obra, cujo primeiro volume terá sensivelmente 450 páginas é coordenado pelo historiador Albérico Afonso Costa, edição do Jornal O SETUBALENSE e apoio da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS).
Envolvidos estão cerca de meia centena de profissionais de áreas como arqueologia, sociologia, antropologia, economia, arquitectura, jornalismo que, em conjunto, foram responsáveis por escrever mais de mil entradas e biografias que contam a história deste concelho.