Fernando José diz que renúncia do PSD seria “alteração das circunstâncias” porque CDU passaria a ter maioria absoluta
O PS admitiu ontem renunciar a todos os mandatos na Câmara Municipal de Setúbal, e com isso provocar a queda deste órgão autárquico e a convocação de eleições intercalares, se “todos” os eleitos do PSD tomarem primeiro essa iniciativa.
A possibilidade de os socialistas acompanharem uma renúncia de toda a oposição foi admitida pelo primeiro vereador do PS, Fernando José, em declarações aos jornalistas á margem da reunião de câmara.
O autarca do PS justifica a possibilidade de os socialistas avançarem com a renúncia, nessa condição de o PSD avançar primeiro, com a “alteração das circunstâncias” políticas no município.
Fernando José argumenta que, com a saída dos dois vereadores do PSD, a CDU, que tem actualmente cinco eleitos, passaria a ter maioria absoluta, uma vez que o PS tem quatro vereadores.
Essa alteração, de maioria relativa da CDU para maioria absoluta e a falta de representatividade, pela renúncia dos vereadores do PSD, seriam motivo, segundo Fernando José, para “o PS reunir em 24 horas e provavelmente decidir pela renúncia”.
Mesmo com esta abertura agora revelada pelo PS, a renúncia em bloco da oposição é improvável uma vez que o primeiro vereador do PSD, Fernando Negrão, tem rejeitado a hipótese de renunciar ao mandato, apesar da proposta ter partido da concelhia do PSD de Setúbal.
Questionado por O SETUBALENSE, depois destas declarações do PS, Fernando Negrão disse vai manter “a posição inicial”.
André Martins entra em blackout
A Câmara Municipal de Setúbal não pretende fazer mais declarações públicas sobre o caso do acolhimento de refugiados ucranianos por cidadãos russos, disse o presidente da autarquia no início da reunião pública do executivo municipal, depois de ter lido uma declaração onde fez uma resenha sobre o desenvolvimento da polémica.
“Na manhã de hoje [ontem], foi-nos comunicado que se iriam iniciar em breve, nesta autarquia, diligências para apuramentos de factos em matéria de acolhimento de refugiados. (…) A partir deste momento entendemos que não devemos voltar a comentar publicamente este assunto.”, afirmou André Martins.
O Governo ordenou uma sindicância pela Inspecção-Geral de Finanças e solicitou uma investigação à Comissão Nacional de Protecção de Dados. O autarca da CDU informou que tomou a decisão de “evitar” fazer declarações públicas sobre a matéria por ter sido notificado por uma destas entidades, que não especificou.
O vereador do PS, Fernando José, entretanto informou que Igor Khashin já não é presidente da Edintsvo, a associação de imigrantes de leste que tem estado no centro da actual polémica. De acordo com o vereador socialista, a presidente da associação, já desde o ano passado, é Yula Kashina, esposa de Igor Khashin e funcionária do município.
Apesar das cerca de duas dezenas de perguntas feitas pelos vereadores da oposição, Fernando José (PS), Fernando Negrão (PSD), Sónia Martins (PSD) e Joel Marques (PS), André Martins recusou-se a responder, argumentando que “muitas das perguntas” serão respondidas pelas investigações previstas.
PS fala em “enxovalho” e Negrão em inquérito parlamentar
Durante o período antes da ordem de trabalhos, a oposição falou sobre o caso dos refugiados, com Fernando José a classificar a polémica como um “enxovalho para Setúbal e para os setubalenses” e a insistir em que André Martins tem “obrigação de responder” a pelo menos três perguntas.
“Foi aberto inquérito interno sobre protecção de dados? Em que condições e qualidade participou Igor Kashin nos inquéritos? Onde estão os dados recolhidos guardados?”, questionou o eleito socialista.
“Senhor presidente tem que assumir que esta foi uma trapalhada. Houve incompetência, pela sua parte e do vereador Pedro Pina, na análise e na acção. Nunca poderiam ter colocado cidadãos russos a acolher refugiados que vêm duma guerra, fragilizados.”, sintetizou Fernando José.
Pelo PSD, Fernando Negrão, não tendo também obtido resposta às 12 perguntas que colocou, aventou a hipótese de ser aberto um inquérito na Assembleia da República.
“Não nos responde aqui. Prefere responder a uma putativa comissão de inquérito sobre a matéria?”, atirou o vereador social-democrata, que é também deputado, para André Martins. Fernando José, que também é deputado, remeteu a decisão sobre um eventual inquérito parlamentar para a direcção do grupo do PS na Assembleia da República.
Divergência Posição de Fernando Negrão causa engulho e deixa concelhia muda
A posição divergente de Fernando Negrão, em relação ao repto público lançado pelo PSD Setúbal ao PS tendo em vista a renúncia em bloco dos vereadores destes dois partidos para obrigar à realização de eleições intercalares para a Câmara Municipal, causou engulho na estrutura local social-democrata.
E deixou a nu a débil relação existente entre o vereador – que foi cabeça-de-lista pelo PSD nas últimas autárquicas – e a concelhia laranja.
A recusa de Negrão em renunciar ao mandato, por considerar que primeiro deve ser apurada a dimensão da responsabilidade da gestão CDU no caso do acolhimento dos refugiados ucranianos, inviabiliza o desejo da comissão política do PSD de fazer cair, no imediato, o executivo presidido por André Martins (PEV), na eventualidade de os socialistas aceitarem o desafio – a oposição (quatro eleitos do PS e dois do PSD) teria de se demitir em bloco para provocar falta de quórum no executivo, composto ainda por cinco elementos da CDU.
Paulo Pisco, presidente da concelhia social-democrata, recusou-se a comentar a decisão tornada pública por Fernando Negrão, mas O SETUBALENSE sabe que a posição do vereador causou embaraço e veio acentuar uma clivagem profunda, que já vem de trás, entre o autarca e a estrutura local do partido.
Negrão, que desempenha também a função de deputado à Assembleia da República eleito pelo círculo de Setúbal, defendeu que seguiu aquela que é a posição do partido a nível nacional