Há quem erradamente tome antibióticos para gripes ou constipações, não só é inútil como abre caminho para quando precisar de uma antibioterapia, esta tenha de ser mais agressiva. O Hospital de Setúbal está a desenvolver uma campanha para o uso correcto do antibiótico
O Hospital de S. Bernardo está a desenvolver durante este mês uma campanha de sensibilização sobre o uso de antibióticos. Hoje, terça-feira, a Comissão de Controlo de Infecções (CCI) da unidade de Setúbal reforça esta campanha com o Dia dos Antibióticos dirigido a informar tanto pessoal interno como utentes.
Para além de cartazes nos corredores, enfermeiras que integram esta comissão vão percorrer os serviços a chamar a atenção para o aumento da resistência aos antibióticos. “Têm de ser usados correctamente e só quando são estritamente necessários”, diz o clínico Nuno Luís, coordenador da CCI do S. Bernardo.
No caso dos profissionais de saúde não podem esquecer cuidados como a correcta lavagem das mãos e o uso de equipamento que evite a propagação das bactérias. Para os médicos, “é preciso reflectirem sobre qual a origem da infecção e o risco para as resistências”.
Para os utentes “não devem auto medicamentarem-se com antibióticos”, diz o médico. O risco é desenvolver resistência aos antibióticos e, quando necessários, passam a ter de ser usada uma antibioterapia mais forte e, como tal, mais prejudicial. “Há quem tome antibióticos para a gripe ou constipação é desnecessário, os antibióticos não são eficazes em infecções causadas por vírus”.
Nuno Luís refere um estudo recente desenvolvido no Sul do País, mais concretamente no Algarve, em que “30% dos farmacêuticos admitem já ter vendido antibióticos sem receita médica”.
Quanto à percentagem de população da região de Setúbal que consome antibióticos, o clínico diz que segue a média nacional. Ora o Serviço Nacional de Saúde pública com base em dados da QuintilesIMS que em Portugal, embora o consumo de antibióticos tenha descido 4% entre Outubro de 2015 e Setembro de 2016, ainda registou vendas de cerca 8,5 milhões de embalagens de antibióticos em farmácias.
O que se sabe é a tendência para o aumento da resistência das bactérias aos antibióticos. No caso do Hospital de Setúbal, Nuno Luís refere que a prevalência de microrganismos multirresistentes“ é mais baixa que noutros hospitais”, mas no caso da bactéria MRSA (Staphylococcus Aureus Resistente à Meticilina) “é mais alta do que a média nacional”. A explicação poderá ser a zona geográfica.
Dados relativos ao Hospital de Setúbal, referentes a um momento em 2017, deram que “13% dos doentes que estavam internados tinham uma infecção hospitalar, enquanto a média nacional é de 7,8%”, revela Nuno Luís, “e as mais frequentes eram infecções urinárias e pneumonias”, acrescenta.
A Comissão de Controlo de Infecções de Setúbal, que recentemente aumentou o seu quadro, tem como função monitorizar o uso de antibióticos, assim como a prevalência de microrganismos multirresistentes. Tem também a função do controlo da Legionella.