Em dia de festa Rui Canas sublinha importância dos pescadores na vida da cidade, mas profissionais têm outras preocupações
Já arrancou, no Parque Urbano da Albarquel (PUA), a oitava edição da Mostra das Tradições Marítimas, e, em dia de celebração, Rui Canas, presidente da União de Freguesias de Setúbal, quis “mostrar a importância que o pescadores ainda têm na vida da cidade”, mas os pescadores estão mais preocupados com ausência de trabalhadores novos e com os prejuízos criados por falta de peixe, lamentando que esta profissão só seja lembrada “nos restaurantes ou nestes dias”.
Mesmo tratando-se de um dia importante para todos que vivem deste sector, nem todos os pescadores o celebram com grande emoção. Mário Cruz e Paulo Rebelo são dois exemplos, que vivem da pesca há mais de 20 anos, e revelam as dificuldades que têm vindo a sentir, desde a falta de trabalhadores novos até aos prejuízos criados por falta de peixe.
Mário Cruz, que aprendeu a arte de ir para o mar através da sua família, clarificou em como os pescadores “não têm horários” no mundo da pesca e que “os ordenados são incertos” devido à apanha do peixe. Nos meses de “mau tempo”, em que o peixe “não é muito e o seu valor a ser vendido na lota é cada vez mais barato”, o pescador explicou como “os custos estão cada vez mais caros” acabando por ter mais prejuízo do que lucro.
Já Paulo Rebelo sublinhou que a burocracia que existe no sector piscatório é um dos “impedimentos” dos barcos irem para o mar e que “os subsídios são muito difíceis de se obter”. No seu entender, a necessidade de trabalhadores jovens é “outro problema a ser combatido” e acrescentou o seu desagrado por algumas tripulações “quererem trabalhar e não conseguirem” por falta de empregados.
Mário Cruz fez a comparação entre a pesca e a agricultura, em que se vê “na televisão apoios para a seca” e diz que a profissão do pescador está esquecida porque “só se lembram do peixe ou do pescador nos restaurantes ou nestes dias”.
Palavras de “carinho e apreço” para os pescadores
Neste certame o objectivo do programa é dar a conhecer todas as actividades à volta do mar e “mostrar as tradições marítimas àqueles que o conhecem menos”, explica Rui Canas, em declarações a O SETUBALENSE. A abertura deste certame no Dia do Pescador teve um valor “simbólico” e o autarca esclarece que se pretende “mostrar a importância que os pescadores ainda têm na vida da cidade”. Para “todos os sadinos envolvidos num trabalho tão antigo como a pesca”, Rui Canas deixou “uma palavra de carinho e de apreço” através deste evento.
Uma das novidades desta edição, organizada pela União de Freguesias de Setúbal e realizada pela Junta de Freguesia de São Sebastião, Junta de Freguesia de Sado e Câmara Municipal de Setúbal, foi a bênção de três embarcações que representaram o tradicional e o típico da cidade. Nesse momento, realizou-se a bota-abaixo em que os padrinhos partiram uma garrafa na proa dos barcos. Rui Canas sublinhou que a reabilitação destas embarcações é para “estar ao dispor da comunidade”, nomeadamente na União de Freguesias de Setúbal.
Desde a passada sexta-feira, e até dia 16 de Junho, que os setubalenses podem contar com várias iniciativas como espectáculos musicais, baptismos de mar e actividades desportivas, como canoagem e stand up paddle. Dentro desta iniciativa, o evento vai receber cerca de quatro mil crianças e jovens para dar a conhecer as práticas do mar, podendo eles próprios participar em momento educativos que passam desde a aprendizagem do processo da apanha do peixe e da técnica “puxar na arte-xávega”.
A Mostra das Tradições Marítimas inclui ainda exposições, gastronomia, animação musical, actividades náuticas, oficinas educativas, acções de sensibilização, dias temáticos e uma homenagem aos pescadores. No Parque Urbano de Albarquel fica patente uma exposição de apetrechos de pesca, artesanato do mar, círios marítimos, oficinas marinhas e das tradições marítimas.
Organização quer evento com dimensão muito maior
O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, revelou na abertura da oitava edição da Mostra das Tradições Marítimas, que a organização do evento está a trabalhar para que em 2025 tenha uma dimensão muito maior.
“Todas as freguesias de Setúbal têm uma relação directa com o rio e com o mar, por isso queremos que este projecto, iniciado pela União das Freguesias de Setúbal, seja de futuro. Estamos a trabalhar para que no próximo ano seja alargado para uma dimensão muito maior”, afirmou o autarca.
O autarca salientou a necessidade de se “incentivar” quem está ligado à pesca a “continuar a luta e a actividade”, defendendo que se deve lutar para que os pescadores tenham melhores condições de trabalho.
André Martins sublinhou a ligação da Setúbal Pesca a este certame, desejando que todas as crianças do ensino básico possam dele beneficiar. “Que tenham ligação às tradições e conheçam melhor a terra onde nasceram e vivem. A nossa responsabilidade é permitir-lhes que conheçam melhor a origem da nossa cultura, a importância da pesca e a dureza da pesca”, realçou.