26 Junho 2024, Quarta-feira

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Obstetra garante ter prestado os melhores cuidados de saúde e contesta indemnização

Obstetra garante ter prestado os melhores cuidados de saúde e contesta indemnização

Obstetra garante ter prestado os melhores cuidados de saúde e contesta indemnização

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Artur de Carvalho defende que prestou à mãe de Rodrigo “os melhores cuidados de saúde” e que não viu malformações do bebé

 

Artur de Carvalho, o obstetra expulso da profissão pela Ordem dos Médicos depois de não ter detectado as mal formações com que o bebé Rodrigo nasceu em Outubro de 2019 em Setúbal, sem o olho esquerdo, nariz e um terço da face, contestou o pedido de indemnização civil movido pelos pais do menino no Tribunal de Setúbal e que ascende aos 300 mil euros. Na contestação, Miguel Matias, advogado do ex-obstetra, defende que o profissional “não deixou de prestar à Marlene Simão os melhores cuidados de saúde, não deixou de exercer a sua profissão de acordo com as leges artis, pelo que não infringiu aquelas, ainda menos da forma displicente que lhe é imputada, não tendo visualizado as malformações do Rodrigo por um facto fortuito que não sabe explicar e que embora raro não é impossível de suceder, mas que cabe dentro da margem admissível para um exame como os que realizou à Marlene Simão”.

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A contestação foi entregue ao Tribunal de Setúbal, que vai agora agendar uma audiência prévia com as partes envolvidas. O advogado considera que os pais do bebé não têm razão em pedir indemnização por lhes ter sido negado o direito de interrupção da gravidez, pois “não são titulares de um direito positivo a interromperem a gravidez, mas a não serem punidos por esse facto”, nem o menino, uma vez que, de acordo com o documento, “nenhuma acção ou omissão do Réu foi apta a causar as malformações de que o bebé Rodrigo padece”. O advogado requereu ainda que o tribunal chamasse ao processo a seguradora do profissional, com quem Artur de Carvalho tinha um seguro de responsabilidade civil até final de 2019.

Os pais pedem indemnização pelo sofrimento, a angústia e o desgosto de terem sido confrontados com as mal formações do filho apenas no parto e pelos custos dos tratamentos do filho. O bebé é representado pelos pais, que alegam, pela parte deste, o sofrimento que sente e que vai ter ao longo da vida, por um lado devido à falta de autonomia e independência e por outro, à própria imagem, devido às mal formações com que nasceu e que vão causar danos na auto estima ao longo da vida.

Na contestação, Artur de Carvalho sublinha não ter sido “responsável pelas malformações”, e no ponto em que se exige ressarcimento pelas despesas de tratamento, considera que “não se encontram verificados os pressupostos exigíveis para a indemnização pelo agravamento da economia doméstica dos Autores, consultas médicas e terapêuticas, despesas medicamentosas, próteses e equipamentos, lucros cessantes, educação especial, deslocações e alimentação dos pais e do filho tanto presentes como futuras”. A contestação vai mais longe e refere que “os autores alegam que a sua economia doméstica era já precária, pelo que o nascimento de uma criança, ainda que completamente saudável, sempre teria impacto na disponibilidade financeira do casal”.

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O parecer da Ordem dos Médicos que ditou à conduta de Artur de Carvalho é posto em causa enquanto prova na contestação. Miguel Matias diz que este é baseado numa premissa falsa: “a visualização das ecografias realizadas pelo Réu, quando é certo que não existe registo vídeo destas, mas meros fotogramas”. O parecer será arrolado nas provas que os pais vão levar a julgamento. Para o advogado de Artur de Carvalho, “como é óbvio, não é possível a partir destas imagens e relatórios disponíveis no processo (disponibilizados pelos pais de Rodrigo) concluir se tais malformações poderiam ter sido visualizadas nas ecografias”. Também a validade é posta em causa, visto que o parecer, não uma perícia, não se encontra assinado pelo autor, um médico que não se sabe qual a especialidade, graduação, anos de exercício ou experiência clínica. “Tudo o referido abala a idoneidade do parecer em causa para os fins a que se destina destituindo-o de qualquer força probatória”. Artur de Carvalho viria a ser expulso na sequência de outros casos de mal formações não detectadas.

Rodrigo tem tratamentos todos os dias e já fala 

“Está bem, está um reguila, já repete tudo”. Marlene Simão, mãe de Rodrigo conta que o menino milagre tem terapias todos os dias. Rodrigo fez quatro anos este sábado, contra todas as expectativas, visto que à nascença a esperança de vida era precária e foi mesmo internado nos cuidados paliativos pré natais no Hospital de Setúbal.

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“É seguido no Hospital de Setúbal, no Hospital da Estefânia, faz Fisioterapia, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional, Musicoterapia na Associação Dom Maior, em Lisboa e reabilitação da cegueira na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”, diz Marlene Simão. A mãe de Rodrigo aponta para os apoios estatais de 139 euros que o filho recebe como insuficientes para cobrir os custos das terapias. Estes têm sido cobertos por donativos, sorteios, eventos e recolha de tampinhas.

MP arquivou caso contra obstetra 

Artur de Carvalho viu o MP arquivar o processo-crime contra ele, tendo em conta que não foi o causador das mal formações nem estas podiam ser evitadas se fossem detectadas a tempo. Os pais de Rodrigo não recorreram.

PJ investiga clínica Eco Sado  

A PJ de Setúbal está a investigar a clínica Eco Sado por fraude ao Serviço Nacional de Saúde. Os inspectores realizaram buscas nesta clínica e apreenderam documentação e ficheiros informáticos de natureza contabilística e bancária, requisições médicas e correio eletrónico.

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