Cabeça-de-lista social-democrata recusa a ideia de uma derrota. Garante que não vai disputar a distrital do partido, que continua vereador porque o seu foco é Setúbal e aponta uma causa para os próximos tempos: trazer duas direcções-regionais de Lisboa para a Península
Como vê os resultados eleitorais?
Quando foram anunciados os cabeças-de-lista, em que me incluo, com muito orgulho, as sondagens indicavam resultados bem mais baixos. Isto mostra que a estratégia permitiu crescer, até relativamente às autárquicas e às europeias.
Perder um mandato não é uma derrota?
Não, porque há crescimento e afirmação. O partido cresceu, conseguiu recuperar e posicionar-se como uma solução alternativa de governo. E é preciso ver as condições em que o PSD discutiu estas eleições.
Como classifica o envolvimento do partido na campanha em Setúbal?
Do ponto de vista nacional foi uma campanha muito corajosa e muito bem dirigida por parte do presidente do partido. No distrito, foi uma campanha que teve duas frentes. Uma externa, onde um conjunto de pessoas teve muita coragem, para ajudar o PSD a ganhar. E houve uma frente interna que fez exactamente o contrário, que procurou que o PSD perdesse todos os votos. Esta frente teve uma posição contrária áquilo que é natureza de qualquer partido, que é procurar ganhar, oferecer a melhor solução e discutir medidas para as pessoas. Discutiram apenas questões internas, da pior maneira possível, montaram um esquema de contra-campanha, retirando meios à campanha numa altura em que o partido precisava de todos os militantes e de todos os meios. Por isso, esta é uma dupla vitória, nos campos externo e interno.
Tentaram pressionar e condicionar a campanha. Desde aparecerem constantemente nos jornais com insultos à minha pessoa, e mentiras, como dizerem que eu servia interesses económicos, quando isso não é verdade. São calúnias sobre as quais o Ministério Público terá que actuar, uma vez que já apresentei queixa-crime.
Apesar de alguns tudo terem feito para me condicionar, através de pressões inadmissíveis, que foram muito para além da minha pessoa, a verdade é que o apoio de muitos outros deu-me a força e energia necessárias para continuar o combate político para que o PSD pudesse ter o melhor resultado neste distrito. Independentemente de tudo, serei sempre o deputado para todos e de todos, sem excluir ou discriminar alguém.
Mas tinha que revelar isto, porque nunca vi nada assim no PSD, a que pertenço desde os 14 anos. Nunca exerci um lugar político remunerado e, da primeira vez que me candidatei a um cargos desses, num projecto renovador e interessante, que fez com que o partido crescesse, chego à conclusão que as pessoas que não dependem da política incomodam muita gente. Não me sinto incomodado por esta gente e pelas suas ameaças. Não tenho receio nenhum de enfrentar os podres que estão na política.
Quem são essas pessoas?
Estas pessoas já falaram demais e, se tiverem coragem, elas que falem. Eu não alimento mais a questão. Só falei agora para que percebam que não tenho medo.
Nesse quadro, que PSD existirá no futuro no distrito?
O mesmo PSD que se viu na campanha. Um PSD voltado para as pessoas, que vai lutar para que a Península de Setúbal não esteja a receber migalhas de fundos comunitários, como os 15 milhões agora anunciados pelo Governo, e que a região esteja ao nível, por exemplo, do Alentejo, a que Setúbal devia pertencer para efeitos das políticas de coesão da União Europeia.
O PSD vai ter eleições para a distrital. Vai haver uma lista da sua parte?
Não vou candidatar-me à distrital. Nunca pensei faze-lo. Não tinha que fazer esse esclarecimento durante este processo para as legislativas, mas nunca passou pela minha cabeça candidatar-me à distrital. Mas acho que devemos fazer tudo para afastar as pessoas que concorrem a esse lugar apenas porque dependem da política. O perfil que defendo é esse, uma pessoa que não dependa da política. Espero que apareça essa pessoa.
Agora que foi eleito deputado o que vai fazer na Câmara de Setúbal?
Trabalhar ainda com mais afinco para Setúbal e manter-me como vereador, naturalmente.
Não vai suspender nem renunciar ao mandato?
Não. É um mandato que assumi, não sou vereador remunerado, e tenho condições para manter essa actividade com a mesma intensidade. Tenho sido o vereador que faz mais propostas e quero continuar assim, não só pela quantidade mas sobretudo pela qualidade das propostas. Acho que temos ajudado pela positiva e que temos marcado a agenda.
A CDU acusou-o, há uns meses, de estar a posicionar-se para eleições europeias ou legislativas. Na altura negou, mas agora a realidade desmente-o.
Até parece que a CDU já tinha falado com o dr. Rui Rio antes de mim. Na altura eu não imaginava que iria surgir este convite, que recebi com a mesma surpresa que o militante do PCP Miguel Tiago também recebeu para ser agora candidato em Viseu. E aceitou depois de dizer também que não aceitaria. Ser candidato em Setúbal, onde os partidos de esquerda tem uma força muito grande, é um desafio a que, sendo militante do partido, não podia dizer que não. E é completamente diferente participar numa lista e ser cabeça-de-lista. Aceitei o desafio, mas não estava nos meus planos. O PCP que não se preocupe, porque eu tenho o foco no concelho de Setúbal e vão poder contar comigo na cidade durante muito tempo.
Na campanha lançou a ideia da Península de Setúbal acolher as sedes de duas direcções-regionais. Que proposta é essa?
Seriam duas direcções da Região de Lisboa e Vale do Tejo, em que estamos inseridos, como, por exemplo, a Administração Regional de Saúde ou a CCDR. Estas são muito pesadas e mais complexas. O que sugiro é que haja outras que possam ser deslocalizadas de Lisboa para a Península de setúbal de forma a que o Estado dê um exemplo que possa ser seguido pelo sector privado. Estou a pensar na Entidade Regional de Turismo, que assentaria que nem uma luva na cidade de Setúbal, e a Direcção-Regional de Industria e Energia, para o norte do distrito. Mas podem ser outras. O importante é perceber que boa parte dos problemas de desequilíbrio nos movimentos pendulares entre a Margem Sul e Lisboa decorrem de tudo estar centralizado em Lisboa. Isso obriga milhares de pessoas a deslocarem-se diariamente entre as duas margens, com os custos inerentes para a vida das pessoas e para o ambiente. Isto gera problemas na habitação e nos transportes públicos.
Que outras causas vai defender?
Queremos o Estado a funcionar melhor, organicamente e nos serviços públicos. Não podemos manter a disfuncionalidade do Estado, por exemplo, entre as áreas social e saúde. O mesmo relativamente à relação com as empresas, que são obrigadas a burocracias desnecessárias, como comunicarem repetidamente as mesmas informações a diferentes serviços do Estado, através de múltiplas declarações, quando bastaria uma se houvesse organização entre os organismos oficiais.
Nota: Noticia rectificada às 13.12, na resposta à terceira pergunta, por não corresponder à versão correcta, publicada na edição em papel.