População de roazes-corvineiros residente no Sado é única no País e uma de três de que se tem conhecimento em toda a Europa
Ao longo do ano passado morreram quatro golfinhos roazes-corvineiros no Sado, um dos quais uma cria cujo cadáver não foi recuperado. O balanço é feito pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e contrasta com os dados de 2023, ano em que nasceram seis crias de golfinhos roazes-corvineiros no Estuário do Sado, um recorde absoluto desde que há registo.
A população de roazes-corvineiros residente no Sado é única no País e uma de três de que se tem conhecimento em toda a Europa. De acordo com o ICNF, em 2024 morreram três de indivíduos adultos, com idade superior a 40 anos, e um uma cria com menos de 1 ano de idade.
“O resultado das necropsias efectuadas aos indivíduos adultos não permitiu esclarecer as possíveis causas de óbito, por se encontrarem em avançado estado de decomposição. Em relação ao indivíduo com menos de um ano de idade, desconhece-se a causa de óbito por não ter sido possível recuperar o corpo”, aponta o ICNF.
O ICNF explica a ausência de nascimentos no ano passado pelo elevado número em 2023. “As fêmeas com capacidade de se reproduzir tiveram crias em 2023. A espécie apresenta uma maturação sexual tardia, um período de gestação de 12 meses e intervalo de repouso de gestação de 3 a 4 anos”.
Actualmente, contabilizam-se 26 indivíduos nesta população, número que está dentro da média das duas últimas décadas, entre 25 e 32 indivíduos. No histórico de nascimento, as seis crias nascidas em 2023 revelaram-se como um recorde nunca vistos nos 40 anos de monitorização dos golfinhos no Sado. Foram as crianças de escolas básicas de Setúbal, Palmela e Grândola que deram os nomes às crias. Nos dois anos anteriores, 2022 e 2021, não houve nascimentos e morreram dois adultos. Entre 2017 e 2020 nasceram onze golfinhos, quase três por ano.
No estuário do Sado têm sido tomadas várias medidas de protecção da população, visando principalmente as embarcações de avistamento de golfinhos que, em demasia, podem causar stress junto dos golfinhos.
“Durante o mês e Agosto de 2024, definiu-se a interdição de observação e permanência das embarcações, na entrada do estuário do Sado, e a suspensão diária de actividade de observação de cetáceos, no período entre as 13 e as 15 horas. Essa medida foi aplicável a todas as embarcações marítimo-turísticas e de recreio. As embarcações marítimo-turísticas foram informadas dessas medidas definidas no Edital e não se registaram incumprimentos”, aponta o ICNF.
Os roazes-corvineiros, ou Tursiops Truncatus, devem o nome “roaz” ao facto de gostarem de roer as redes que os pescadores deitavam ao mar. Já “corvineiro” vem do gosto que esta espécie tinha pela corvina, quando ela existia em abundância na zona do estuário e que agora voltou.