Projecção de fotografias de Renato Monteiro, leituras poéticas de Sara Loureiro e António Marrachinho e a apresentação da obra “Dionísias” preencheram a tarde de sábado
No âmbito da exposição fotográfica “Festas de Nossa Senhora de Tróia”, da autoria de Renato Monteiro, o Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal recebeu, na tarde de sábado, uma sessão sobre as Festividades populares de Tróia e as celebrações Dionísias.
A tarde começou com a intervenção de Joaquina Soares, directora do MAEDS, que definiu a sessão como “muito rica” e “muito participada” pelas suas três componentes: a projecção de fotografias de Renato Monteiro que não foram expostas, leituras poéticas associadas à temática, pela Sara Loureiro e pelo António Marrachinho Soares, que são, na opinião da directora do Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal, “experts em literatura, na leitura desses textos e também na escrita, que tão amavelmente se dispuseram a animar a tarde de hoje” e pela apresentação do livro “Dionísias”, dedicado às festas dionisíacas.
Mais do que as 33 imagens a preto e branco que se encontram expostas nas paredes do MAEDS até ao dia 20 de Março, na tarde de sábado foi exibido um vídeo que Renato Monteiro, fotógrafo que se dedica a acompanhar, desde 2003, as Festas de Nossa Senhora de Tróia, realizou em complemento à exposição.
“Sou um grande admirador deste museu há décadas. É um museu diferente porque tem, além do valor científico do seu projecto museológico e editorial, tem esta abertura à comunidade. Ao longo dos anos, o MAEDS tem sido parte activa na vida de Setúbal e tem beneficiado a comunidade com a esta abertura, a que tentamos retribuir vindo cá e usufruindo da simpatia e competência científica do MAEDS”, começou por explicar António Marrachinho, um dos curadores da mostra sobre as “Festas de Nossa Senhora de Tróia”, apresentando de seguida Sara Loureiro que, nas suas palavras, “dispensa apresentações por ser das pessoas mais activas na dinamização cultural de Setúbal e arredores”.
António Marrachinho explicou à plateia a dinâmica das Festividades de Tróia e destacou a forma de trabalhar de Renato Monteiro, “fruto de um método, de uma sensibilidade, de uma persistência em conseguir alcançar determinados objectivos. Ao longo do tempo vai-se familiarizando até não se dar por ele. Está no meio dos pescadores e estes já conduzem as suas tarefas sem reparar na figura do fotógrafo”. A arte fotográfica de Renato Monteiro, segundo António Marrachinho, “é de dentro. Estas imagens são vividas do lado de dentro. Nunca participei nas festas, as fotografias que me saíram melhores são postais, vistas de longe. E estas são de dentro, o que torna esta exposição diferente. Obrigada, MAEDS, pela oportunidade e felicidade desta ocasião”.
Dinis H. Machado fala sobre “Dionísias” e nova obra a caminho
Prémio Literário Revelação Cesário Verde em 2003, a obra “Dionísias”, sobre as celebrações gregas em honra do deus Dionísio, é “um festim de imagens sequenciais onde deuses e demónios se subjugam aos impulsos primitivos do humano”, onde os poemas revelam “uma violência na descrição das relações humanas e uma carga emocional e sexualmente explícita que é usada para cravar a imagem e o sentimento na alma do leitor”.
Na tarde de sábado, o poeta, Dinis H. Machado, apresentou no MAEDS esta sua colecção de poemas que escreveu quando tinha 19 anos e recuperou recentemente, 25 anos depois. “Sou um apaixonado pelos livros, e pela escrita, desde os 12 anos. Escrevi bastante até aos 20. Curiosamente, a vida académica e profissional acabou por me afastar da escrita. Em ler o que escrevi sobre as celebrações Dionísias passados 25 anos há um sentimento interessante. Parece que não fui eu que escrevi”, conta.
Apesar de ter tido intenções de o publicar anteriormente, o livro acabou por ficar na gaveta até agora. Hoje, Dinis Machado tem a sua própria editora. Chama-se The Poets and Dragons Society, tem um espaço físico na Costa da Caparica e, para além de publicar livros, tem como objectivo promover a poesia e a literatura infantil. “É um projecto que está a correr muito bem. Já temos crianças que pegam nos livros e a primeira coisa que fazem é cheirá-los”, partilha, adiantando que “para este ano já está prevista a edição de seis livros. Desempenho neste momento funções de editor mas continuo a escrever porque gosto muito de escrever”. Dinis H. Machado revelou ainda que daqui a dois meses sairá uma nova obra da sua autoria, denominada “Heathcliff”, e brindou os presentes com a leitura de um excerto da mesma.
No final, para terminar a sessão, todos foram convidados a ler, em voz alta e em uníssono, o poema “Liberdade” da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen.
