Utentes lamentam fecho do espaço e colocam-se ao lado dos comerciantes, que continuam a aguardar decisão judicial sobre providência cautelar
Os lojistas do Centro Comercial do Bonfim pernoitaram na madrugada desta terça-feira naquele espaço para impedir um novo encerramento, como o que aconteceu na véspera e que levou a PSP a identificá-los.
A decisão de passar a noite no centro comercial foi tomada ao final da tarde de ssegunda-feira, quando a PSP surgiu pela segunda vez no espaço a perguntar se iam sair.
António Gorrão, marido da comerciante proprietária da tabacaria T&T.com conta que estavam nessa altura todos reunidos e negaram sair. “Dissemos que não e a polícia foi embora. Revezámo-nos em dois grupos de cinco e fizemos turnos para não deixarmos o centro comercial sem ninguém durante a noite. As portas ficaram fechadas e de manhã voltámos a reabrir ao público”, disse.
Os comerciantes utilizaram mantas e ficaram no átrio principal do centro comercial. Esta noite devem voltar a ficar naquela superfíciecomercial.
José Cadimas, comerciante do pronto a comer Doce e Amargo, aberto há 34 anos, espera que haja diálogo com a empresa gestora do espaço, Célebres Assuntos, que no início de Dezembro deu 30 dias para que os lojistas desocupassem o centro. “Eu e a minha mulher temos aqui um projecto de vida que não podemos abandonar desta forma, temos clientes que já são amigos de longa data e não é possível sair assim, dum momento para o outro”, confessou.
A empresa alegou que os proprietários cessaram o contrato de arrendamento e por isso não podia renovar os contratos de subarrendamento com os lojistas.
Os comerciantes interpuseram então no Tribunal de Setúbal uma providência cautelar contra o encerramento e não entregaram as chaves das lojas. Até decisão judicial, não querem sair do espaço.
Durante a tarde, os clientes lamentavam o encerramento. “Este é um espaço de convívio para muitos idosos que moram sozinhos nas redondezas e que sem isto ficam em casa o dia inteiro”, sublinhou Maria João Vieira, 58 anos. A setubalense lembra-se de frequentar o espaço quando tinha ainda um cinema. “Morava no Barreiro e vinha de propósito ao cinema”.
Mitaldina Rufina, 79 anos, frequenta o centro comercial há décadas e lamenta o desfecho anunciado. “Ao longo dos anos o espaço foi ficando mais vazio, mas temos um comércio de proximidade, conhecemos todos os lojistas e eles não podem ser tratados desta forma”, considerou.
A Câmara Municipal de Setúbal admite “preocupação” face “ao encerramento do espaço comercial que reúne um número muito considerável de pequenos negócios de que dependem muitas famílias e que animam bastante a zona da cidade”.
O presidente da autarquia, André Martins, afirma que “ainda que a Câmara Municipal não tenha qualquer informação sobre as intenções dos proprietários do espaço, apela a que o processo, a ser irreversível, decorra no pleno respeito pelos direitos dos comerciantes ali instalados, criando as necessárias condições para que possam encontrar alternativas para a viabilidade futura dos seus negócios.
Trata-se, afinal, de um centro comercial que faz parte da identidade de várias gerações de setubalenses e que marcou, em particular, as décadas de oitenta e de noventa do século passado”, conclui o autarca.