José Lobato diz que dois dos párocos já haviam sido objecto de processos canónicos e um outro encontra-se sob “jurisdição de diferente autoridade”
Os nomes de cinco padres suspeitos de terem abusado sexualmente de menores estão identificados na lista que a Diocese de Setubal explica ter recebido da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
A informação foi esta terça-feira avançada, em comunicado, pelo administrador diocesano de Setúbal, que revela continuar “a aguardar da comissão informações que, caso os testemunhos configurem novos factos, serão devidamente tratadas”.
Sobre dois dos padres referenciados, o padre José Lobato explica que “não existem, nos arquivos diocesanos, informações que permitam averiguar as denúncias que levaram a incluir esses sacerdotes na lista de alegados abusadores”.
Dos três clérigos restantes, um já se encontra sob “jurisdição de diferente autoridade eclesiástica”, à qual o administrador diocesano de Setúbal diz ter já dado conhecimento do caso. No entanto, “durante o tempo em que [o referido padre] esteve sob a jurisdição do Bispo de Setúbal, nada consta sobre denúncia de abusos de menores”.
Através da mesma nota, o padre José Lobato explica que outro dos padres identificados na lista, que diz ter recebido no passado dia 3 de Março, “foi objecto de processo canónico por abuso sexual de menores, já concluído”.
E o restante caso suspeito diz respeito a um pároco que “foi objecto de dois processos canónicos” e que se encontra “actualmente afastado do exercício público do ministério”.
“Os actos de que é acusado nos processos em curso não se enquadram na natureza de ‘abusos de menores’. No entanto, a Comissão Independente sinaliza um abuso de menor. Aguardamos da Comissão mais pormenores para organizar processo”, esclarece.
Nomes confrontados com dados existentes no arquivo diocesano
De acordo com o administrador diocesano de Setúbal, os nomes sinalizados pela comissão que estudou os abusos sexuais de crianças na Igreja “foram objecto de análise e confronto com os dados existentes nos arquivos diocesanos”.
Por agora, o padre José Lobato diz aguardar, “da Comissão Independente, informações que, caso os testemunhos por esta recolhidos configurem novos factos, serão devidamente tratadas, do mesmo modo como as que têm chegado directamente à Comissão de Protecção de Menores e Pessoas Vulneráveis da Diocese [de Setúbal]”.
Com as novas informações, a Diocese de Setúbal garante que vai poder continuar “a dar o contributo para erradicar, de modo justo e eficaz, os abusos contra menores e adultos vulneráveis, trabalhar na sensibilização e prevenção, adoptando uma atitude de “tolerância zero” perante estas situações e prestar apoio e cuidado às vítimas”.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa foi constituída “após um convite dirigido a Pedro Strecht no final de 2021 por parte de D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa”.
O então Bispo de Setúbal “definiu como objectivo o estudo dos abusos sexuais de crianças por membros ou colaboradores da Igreja, entre 1950 e 2022, para um melhor conhecimento do passado e adequada acção preventiva e de intervenção futura”.
Os trabalhos arrancaram em Janeiro de 2022 e foi definido “o tempo de um ano como prazo de duração dos mesmos, com a apresentação final de um relatório”. No total, a comissão validou 512 testemunhos, sendo que, no documento divulgado no passado dia 13 de Fevereiro, é revelado que Setúbal é o quarto distrito do País onde vivem actualmente mais vítimas de abuso sexual na Igreja, havendo registo de 30 pessoas.
Pedofilia Um padre já tinha sido afastado por abuso sexual de menores e voltou ao activo
A Diocese de Setúbal revela que um dos cinco nomes referenciados pela Comissão Independente pertence a um padre que já havia sido afastado por abuso sexual de menores.
Em comunicado, assinado pelo administrador diocesano de Setúbal, a diocese sadina explica que “um padre foi objecto de processo canónico por abuso sexual de menores, já concluído”. “Cumpridas as medidas daí decorrentes, o sacerdote que tinha sido afastado preventivamente retomou o exercício do ministério”, acrescenta.
Para já, e enquanto não receber novas informações por parte da Comissão Independente, a Diocese de Setúbal não vai afastar nenhum dos clérigos suspeitos de abusarem sexualmente de menores que estejam ainda em funções.