José Maria Dias: O alentejano que fundou o Festival Internacional de Teatro de Setúbal

José Maria Dias: O alentejano que fundou o Festival Internacional de Teatro de Setúbal

José Maria Dias: O alentejano que fundou o Festival Internacional de Teatro de Setúbal

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Encenador dá pernas, braços e asas à Festa do Teatro, cuja 24.ª edição começa esta quinta-feira. A primeira experiencia de teatro foi ainda em Alcáçovas e para os estudos universitários voltou a Évora, mas é em Setúbal que se torna uma referência do teatro

 

José Maria Dias nasceu em Alcáçovas (Évora) e é uma grande referência do teatro em Setúbal. A sua primeira recordação teatral é da infância, com 4 ou 5 anos, mas parece que não correu muito bem, conforme descreve. “Fui pintado de negro e senti-me muito desconfortável, porque estava todo mascarrado com uma tinta viva e não podia colocar na camisa a gravata que tinha levado e que tanto queria usar.”, conta.

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Aos 6 anos vem para em Setúbal estudar, para a primeira classe, na escola das Praias do Sado. Esteve também na escola dos padres, colada à Capela do Bonfim e, mais tarde, foi para a primeira escola preparatória de Setúbal.

José Maria Dias licenciou-se e é mestre em Teatro pela Universidade de Évora.

O primeiro grupo de teatro de que fez parte foi aos 13 anos, no grupo de jovens da Igreja da Anunciada, um grupo de teatro de revista e cómico sobre rábulas de programas de televisão. Este grupo, contava também com Álvaro Félix (já falecido) e Pompeu José, actualmente no Acert, em Tondela. O Álvaro Félix encenou a sua última peça, ‘Antes e depois’, que falava de uma paródia sobre o que havia antes do 25 de abril e o que vinha a seguir, e que criou, nessa época, grande polémica.

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Uma cisão, em 1974, deu origem ao Grupo Autónomo Experimental de Setúbal Sobe e Desce.

Das várias peças que encenou, José Maria Dias destaca ‘As Mãos de Abraão Zacut’, que apresentamos com palavras do próprio encenador.

“A encenação de ‘As Mãos de Abraão Zacut’ tem como objectivo principal tentar que ninguém, depois de assistir à sua representação, fique indiferente aos seus problemas e se deixe paralisar pelo medo. Para que, quando for preciso actuar, estejamos mais conscientes, Não julgando que só acontece aos outros e deixando que se engrosse a injustiça sem que se actue contra ela, só reagindo, muitas vezes tarde demais. Nesta peça, os judeus e os seus perseguidores não passam dum pretexto para se falar de perseguidos e perseguidores, injustiças e injustiçados. O holocausto nazi só foi possível porque todos se retiraram das suas posições políticas, uns por medo, outros por indiferença e, por último, seguramente a maioria, pelo comodismo de alinhar pela ordem instituída, sem sequer a questionar. A estas atitudes que se verificaram nefastas para a humanidade, temos que contrapor o nosso alerta, dando a nossa contribuição para que não volte este ou qualquer outro tipo de despotismo baseado em ideias racistas e xenófobas. Tentamos que a interactividade posta nesta abordagem, contribua para uma melhor sensibilização do público, conseguindo, desta forma alcançar o nosso objectivo. Podemos resumir todo o nosso alerta, citando o autor, nas palavras de David Levi: “…enquanto o corpo ouve o que a boca canta, não ouve a morte que canta na boca!” (José Maria Dias)

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Outra referência na sua longa e segura carreira profissional é ‘Guerra Santa’, de Luís de Sttau Monteiro, que na altura não autorizou a encenação, “pois as forças armadas estavam no auge e não era recomendável que se falasse mal delas”, contudo a peça foi ao palco.

Em 1978 José Maria Dias entrou no Serviço Militar, que durou dois anos, e em 1980 fez parte dos grupos de teatro Presença e a Teia. Em 1985 nasceu o Teatro Estúdio Fontenova (TEF), cujo nome remete para o facto de o grupo “ser uma nova fonte”, conforme afirma José Maria Dias. Fizeram a sua estreia a 15 de setembro de 1985 numa sala da Junta de Freguesia da Anunciada com a peça ‘Uma noite com Bocage’, de Fernando Guerreiro, acontecimento que foi notícia no jornal O SETUBALENSE.

O TEF teve sede na Quinta Alves da Silva numa estrutura pré-fabricada da Junta de Freguesia, e foi, posteriormente, acolhido pelo Círculo Cultural de Setúbal. Em 1998 foram convidados a sair e ensaiaram neste espaço a última peça, ‘A Noite dos Assassinos’, do já falecido dramaturgo cubano José Triano, com encenação de Luís de Matos. Regressaram novamente à Quinta Alves da Silva, local onde ainda hoje têm sede.

No ano de 1995 o TEF fez 10 anos de existência e para comemoração nasce o primeiro Festival Internacional de Teatro de Setúbal (FITS), que já conta com vinte e quatro edições. Esta festa do teatro tem tido, ao longo dos anos, as suas maiores dificuldades na procura de espaços para a realização das peças. “O único espaço com condições é o Fórum Municipal Luísa Todi e, por isso, são necessários outros espaços alternativos”, refere José Maria Dias. Durante algum tempo o INATEL foi um desses espaços. “O FITS precisaria de uma sala alternativa para 200 lugares”, acrescenta José Maria Dias.

Um dos acontecimentos mais interessantes do Festival é a presença internacional o intercâmbio entre companhias e pessoas de vários continentes.

O FITS decorre desta quinta-feira, dia 18, a 27 de Agosto. Reserve já os seus bilhetes no Fórum Luísa Todi e nos locais de espetáculo, antes que esgotem.

 

 

Participação Internacional no FITS 2023 (mês de Agosto)

Dia 19 às 19h – Grupo Teatral Damba Maria, “Heroínas sem Nome”, Angola;

Dia 20 às 11h – Projeto Bebi na Fonti, “Nha identidádi – Stórias de Lá!” de Adriano Reis;

Dia 20 e 21 às 18h – Cia. Bipolar, “Dínamo”, Argentina;

Dia 25 às 22h – Divadlo Continuo, “Hic Sunt Dracones”, Chéquia.

Estreias

 

Estreias nacionais no FITS 2023

Dia 19 às 22h – Grupo Cru, “Proibido virar à esquerda”, vencedor do Mais Festa 2021

Dia 21 às 22h – Setúbal Voz, “Acampamento das Carmens”

Dia 24 às 19h – Cães do Mar e SejaDonodoSeuNariz, “Amijik”

Dia 26 às 19h – Carla Madeira, “Noite, Homilia para um perdão”

Dia 19 às 22h – Coprodução Buzico!Produções, UMCOLETIVO e CAE Portalegre, “Má sorte”, de John Ford

 

Observação de teatro

José Gil, Professor Adjunto de teatro da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal

Maria Simas, atriz do Teatro Politécnico de Setúbal e Mestranda

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