10 Agosto 2024, Sábado

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José Elias de Freitas: “A estratégia para o Distrito de Setúbal é o ‘Alqueva das indústrias’”

José Elias de Freitas: “A estratégia para o Distrito de Setúbal é o ‘Alqueva das indústrias’”

José Elias de Freitas: “A estratégia para o Distrito de Setúbal é o ‘Alqueva das indústrias’”

Candidato do Volt defende a concentração de fundos comunitários para desenvolver polos industriais modernos na região

 

Nasceu em Lisboa e reside em Sesimbra. Licenciado em economia e reformado da Comissão Europeia, José Elias de Freitas é, aos 67 anos, o cabeça-de-lista por Setúbal do mais recente partido concorrente às eleições de dia 30. Nos anos 90 trabalhou com o então ministro Augusto Mateus na concepção do CEIIA, o Centro de Inovação para a Indústria Automóvel, para ajudar a região a ultrapassar o encerramento da Renault e a desenvolver o sector automóvel. Defende a reindustrialização com base numa espécie de Alqueva. O hidrogénio e as renováveis em Sines, o sector automóvel em Palmela e a indústria de defesa, em Almada, são os “três lagos” da irrigação que o candidato do Volt quer canalizar para a indústria do distrito.

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LEGISLATIVAS: Entrevista a José Freitas, cabeça-de-lista do Volt por Setúbal

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O Volt é um partido novo, o que pode trazer à democracia e à região de Setúbal?

O partido Volt é um partido recente, fomos legalizados recentemente e recebidos pelo senhor Presidente da República. É um partido pan-europeu, existem 16 partidos Volt em toda a Europa. É um partido federalista, isto é, pretende melhorar toda a democracia interna da União Europeia. E é um partido progressista, absolutamente a favor da melhoria das condições de vida das populações, do progresso económico e científico. E somos um partido pragmático, no sentido em que não ficamos definidos entre políticas de esquerda e de direita, mas procuramos trazer, para a política portuguesa, as melhores políticas europeias, adaptadas e construídas aqui dentro. E, nesse sentido, penso que somos qualquer coisa muito fresca e nova para a política portuguesa.

Porque aceitou ser candidato e pelo Distrito de Setúbal. Qual é a ligação?

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Depois de regressar de Bruxelas, onde trabalhei na Comissão Europeia muitos anos, tenho casa em Sesimbra e juntei-me ao Volt Setúbal, com o grande objectivo de ajudar o distrito a vencer os problemas da sua economia, os problemas industriais. O distrito de Setúbal ficou para trás, de alguma maneira. Setúbal foi sempre um distrito com muito potencial – aliás, a grande parte da indústria portuguesa começou no Barreiro – houve depois o grande projecto de Sines. É um território e uma população extremamente importantes no conjunto nacional, mas, claramente, tem ficado para trás no seu desenvolvimento. Aliás, todo o país na área económica está muito melhor, com a adesão à Europa, mas está para trás. Temos problemas de salários e de qualificações. O grande motivo pelo qual eu aderi ao Volt foi para ajudar a trazer uma política nova, industrial. Toda a Europa está no processo de renascimento industrial, e, para mim, chegou a hora de mudar a indústria em Portugal, e no distrito de Setúbal, avançar com os sectores do futuro. Não há razão para se esperar.

E como pode fazer-se a reindustrialização?

Nós temos uma estratégia de política económica e industrial para todo o país e para os sectores do futuro e, sobretudo, no meu caso, para o distrito de Setúbal. Essa estratégia passa por adoptar as boas medidas de desenvolvimento industrial e económico para as empresas e assenta numa peça-chave que é utilizar os fundos europeus de uma forma muito concentrada, na construção de centros tecnológicos de apoio às indústrias nas áreas do futuro. As áreas do futuro são o hidrogénio, a mobilidade eléctrica automóvel, e no nosso distrito temos polos com grande potencial. Começando em Sines, mais a Sul, temos o polo do hidrogénio, o polo da engenharia das energias renováveis, em Palmela temos o sector automóvel, em Almada, no Alfeite, temos um cluster de indústrias da defesa. Portanto, a estratégia será concentrar os fundos europeus no que eu chamo, no caso do distrito de Setúbal, fazer o ‘Alqueva das indústrias’. Como sabe, a barragem do Alqueva foi também um momento simbólico do desenvolvimento do Alentejo e veio irrigar toda a nova agricultura que se está a processar, enfim talvez devesse ser uma agricultura ainda mais amiga do ambiente, e menos intensa, mas isso não é o ponto de vista principal. O ponto principal é que o país e a região, no caso o Alqueva, esperou anos e anos, havia fundos, mas foram imensos anos para que fosse construído e, finalmente, quando foi construído, os efeitos estão à vista.

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O ‘Alqueva das Indústrias’, como disse, tem de passar pelos fundos europeus. Como pode concretizar-se esse projecto quando sabemos que a Península de Setúbal está numa situação administrativa desfavorável, em termos das NUTS, e que os fundos europeus não chegam cá como chegam às outras regiões pobres do País?

Exacto, é de facto uma contradição, mas nós precisamos mesmo de usar os fundos europeus nessa construção. O “Alqueva das Indústrias” tem três lagos e vai irrigar todo o distrito, toda a indústria e vai criar novas empresas e ajudar, sobretudo, as empresas existentes. A nossa ideia é apoiar muito as indústrias, por exemplo, da defesa, onde agora temos o senhor Almirante Gouveia e Melo, Chefe do Estado-Maior da Armada, e que apoia o desenvolvimento tecnológico do seu ramo, da Marinha. E toda a Europa tem essa política de defesa do uso duplo, e nós pensamos que o Alfeite e a Charneca da Caparica vão ser um lago nesse ‘Alqueva’ na indústria da defesa. E isso vai-nos ligar, por exemplo, aos grupos europeus, como o grupo Airbus militar, que tem uma importância enorme. O outro lago será Palmela, com o cluster automóvel, onde precisamos desenvolver a energia das baterias eléctricas para dar apoio às indústrias. O terceiro lago será Sines que vai irrigar o cluster do hidrogénio, das energias verdes. Quanto às NUTS, é evidente que Setúbal ficou para trás, sobretudo a península. Nós, partido Volt, reclamamos que seja dada uma compensação à Península de Setúbal pela perca de várias centenas de milhões de euros dos fundos europeus. Este ponto revela a importância de trazermos a Europa para mudar Portugal, porque, precisamente, nós vemos que os fundos existem, no caso da Península de Setúbal foram um pouco condicionados negativamente, mas não há nada que impeça de haver uma compensação das centenas de milhões de euros que nós perdemos. Aliás, gostaria de debater toda a utilização dos fundos para o tal ‘Alqueva das Indústrias’, com os candidatos principais, a deputada Ana Catarina Mendes e o dr. Nuno Carvalho, o PS e o PSD, porque um deles será, tipicamente, governo. Nós, se formos eleitos, daremos apoio a um desses partidos, negociando com um desses partidos que seja maioritário, precisamente para aplicar esta estratégia de desenvolvimento ao nível nacional, mas no caso de Setúbal, avançar com o projecto do ‘Alqueva das Indústrias’.

O que defende quanto ao mapa das NUTS?

No Volt do distrito de Setúbal, consideramos que a Península de Setúbal tem que mudar e tem que ser uma NUT II e III, portanto, ter autonomia. Aliás, nós defendemos, para esta legislatura, a regionalização. Só com a regionalização é que podemos ter um centro de poder em toda esta área de Setúbal, de Almada a Sines. O mapa será definido, mas tipicamente vamos precisar de um poder regional que tenha a motivação de correr os riscos e de ter os fundos europeus para fazer as aplicações mais importantes.

O que está a defender é que a região onde Setúbal ficar não deve incluir Lisboa, ou o mapa que admite pode ser o da actual Área Metropolitana de Lisboa?

O actual mapa prejudicou a Península de Setúbal. A Península de Setúbal, em grande parte, tem sido dormitório de Lisboa, e isso tem de acabar. Tem que haver, e vai haver, desenvolvimento no próprio território. Voltar à situação anterior, quando houver mudanças, de ficar integrado numa região onde há perda de fundos europeus não tem sentido, e nós não defendemos isso. Defendemos, num primeiro momento, que se transforme a península numa NUT II e III, num segundo momento, quando houver a regionalização, que será feita no quadro de um referendo, mais lá para o fim da legislatura, as populações e os peritos, em discussão, nessa altura, definirão melhor.

Sobre o aeroporto, qual é a posição do Volt?

O Volt apoia, decididamente, a localização de Alcochete. Os estudos demonstram que pode ter quatro pistas e ser um aeroporto intercontinental. Portugal está no extremo da Europa, somos quase uma ilha, porque a maior parte do país, a Oeste, é o mar, e nós precisamos de voltar a ser um país mais central. Se tivermos uma grande ligação área, à América e a África, inclusive à Ásia, mesmo ao extremo-oriente – como temos ligações culturais com a Índia e com a China -, isso é absolutamente vital para dar mais sinergias de desenvolvimento ao nosso país. Se nós ficarmos com um aeroporto intercontinental, em Alcochete, que joga, também, com o aeroporto intercontinental, de Madrid, isso coloca Portugal numa posição muito mais favorável e necessária, e coloca, mesmo, a Europa numa nova centralidade. Somos um partido com uma visão absolutamente ambientalista e contra as alterações climáticas, e esperamos a avaliação ambiental, que certamente será mais favorável que a avaliação do Montijo, onde os aviões vão colidir com os pássaros. Sabemos bem o que aconteceu em Nova Iorque e achamos incrível que se esteja a pensar em fazer um aeroporto no Montijo, destruindo o ecossistema e pondo as aeronaves em perigo.

Uma das ideias do Volt é o combate às desigualdades salariais na Europa. Propõe um salário mínimo europeu. Como é possível fazer isso apesar das diferentes realidades económicas?

O Volt propõe uma harmonização das leis do trabalho. No caso português, propõe um salário mínimo, para o próximo ano, de 715 euros. Os salários têm de conferir a dignidade ao trabalhador e vai ser necessário haver uma política coerente em toda a Europa. Nós queremos, basicamente, acelerar o crescimento económico na Europa do Sul, no caso português, consideramos que chegou a hora de mudar a fase da indústria e trazer os sectores do futuro para dentro do país. No distrito de Setúbal, temos esplendidas condições para isso. A harmonização dos salários será, necessariamente, um resultado do desencravar do marasmo económico de toda a Europa do Sul, mesmo da Europa do Leste, que tem muito menos capacidade de competição, de criar valor. Criar valor nas economias é uma coisa estudada, já todos os economistas sabem que estratégia se deve implementar, mas ninguém faz. Para responder à pergunta, a harmonização tem de nascer da realidade e a realidade é que tem de ser transformada e não há nenhuma razão para não seja agora.

O presidente do VOLT, Tiago Matos Gomes, aponta, como objectivo, que o partido consiga entrar na Assembleia da República. Para a região de Setúbal, o que é um resultado aceitável?

É sermos eleitos, porque nós podemos trazer para todo o distrito, um novo ímpeto industrial, de política de desenvolvimento das empresas. Nós sabemos que chegámos recentemente, o eleitorado não nos conhece ainda muito bem, mas temos a campanha toda para fazer passar esta ideia, nomeadamente com a metáfora do “Alqueva das Indústrias”. Penso que as pessoas compreendem a urgência de resolver o impasse económico e industrial do distrito. O resultado que desejamos é sermos eleitos, para, na Assembleia da República, podermos negociar com um dos dois partidos, PS ou PSD, essa nova política para resolver o problema da economia portuguesa e sobretudo, do distrito de Setúbal.

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