Colaborador no livro que celebra os 170 anos d’O SETUBALENSE destaca a importância da obra como instrumento de consulta e ponto de partida para novas investigações
João Reis Ribeiro é um dos autores que integram o Dicionário da História de Setúbal, obra coordenada por Albérico Afonso Costa no âmbito das comemorações dos 170 anos de O SETUBALENSE. O convite para participar no projecto chegou directamente do coordenador e foi recebido com surpresa, mas também com “sentido de responsabilidade”.
Em entrevista a O SETUBALENSE, João Reis Ribeiro fala sobre a participação no dicionário, o papel da obra na preservação da memória local e a importância de figuras históricas menos conhecidas, nomeadamente ligadas ao Convento da Arrábida. Aborda ainda o contributo de Setúbal para acontecimentos de dimensão nacional e a utilidade que espera que o dicionário venha a ter para futuras gerações.
Como é que surgiu o convite para participar nesta obra?
O convite foi feito directamente pelo Albérico Costa. Recebi-o com surpresa, porque não sabia que isto era um projecto que estava em curso. No dia em que ele me anunciou, convidou-me logo para ser colaborador. Senti-me muito honrado com o convite, por o facto de achar que vai ser uma obra importante para a história do concelho de Setúbal.
Senti-me também honrado pelo convite porque já fiz outros trabalhos com o professor Albérico Costa que correram muito bem.
Há algum episódio ou personalidade da história de Setúbal que acha que devia ser mais conhecido do grande público?
Ao longo dos tempos as personalidades ligadas a Setúbal têm tido um tratamento interessante. Houve já duas obras na historiografia setubalense que trataram de biografias de personalidades. Foram dois volumes feitos por João Francisco Envia, de biografias ordenadas alfabeticamente e foi um livro de Fran Pacheco, que é ‘Setúbal e as Suas Celebridades’.
Aquelas que me parece que não têm sido dado destaque, e também não sei explicar porquê, é sobretudo figuras que estejam ligadas ao Convento da Arrábida. Houve várias figuras ligadas à história do Convento e à religiosidade daquele espaço, não naturais de Setúbal, mas que estiveram cá muito tempo, e, exceptuando o Frei Agostinho da Cruz, não temos muita mais informação sobre as outras figuras.
A informação existe, não está trabalhada, não está tratada, e não tem havido pessoas a debruçarem-se sobre essas figuras. Acho que eram figuras que mereciam estudo e que deveriam ser alvo de algum destaque mais.
Qual considera ser o papel deste dicionário na preservação da memória colectiva de Setúbal?
Acho que é muito importante. O livro chama-se dicionário, mas, na verdade, talvez fosse mais justo ser um dicionário enciclopédico, porque um dicionário é sempre uma lista de palavras, uma lista de conhecimentos. E depois, digamos que dicionário é um termo que entra melhor na mente das pessoas. O que é que as pessoas pensam logo à partida? Que há uma série de entradas, de factos, de personalidades ligadas a Setúbal e que estão ordenadas alfabeticamente, portanto, nós temos acesso fácil.
Vai ser uma referência para a historiografia de Setúbal. Nunca será um ponto de chegada, mas acho que vai ser, sobretudo, um ponto de partida para muitas outras coisas, para outras investigações. E até para virem a ser completadas. Não podemos esquecer que qualquer enciclopédia está datada, nasceu numa determinada altura.
Isto nunca será um trabalho completo, é sempre um trabalho que é partida para os outros investigarem também e é partida para os dados virem a ser completados à medida que for sendo possível.
Vai ser uma obra importante para a historiografia setubalense e para o conhecimento do que é a identidade setubalense, e uma forma até de homenagear, ou reconhecer, o papel que muitas figuras têm tido na história deste concelho.
Como gostaria que este dicionário fosse usado pelas gerações futuras?
Primeiro como instrumento de consulta. Depois como ponto de partida para mais investigações, para mais alargamento dos conhecimentos. E, depois, até para afirmação do papel histórico ou cultural que teve esta região, seja no sentido de figuras proeminentes daqui deste concelho que tiveram projecção local ou até projecção nacional. Não nos podemos esquecer, por exemplo, falando de presos políticos, em Setúbal houve uma quantidade de presos políticos que acabaram por fazer parte de um bolo maior, de um todo, que foi a questão dos presos políticos a nível nacional antes do 25 de Abril.
Portanto, tem também essa função de reconhecimento e de apontar o essencial. Muitas vezes não sabemos se isto ou aquilo foi importante ou não, e um dicionário pode ajudar a percebermos qual foi a importância de um acontecimento nacional em Setúbal ou que contributo é que o concelho de Setúbal deu para determinado acontecimento nacional.
De alguma maneira, este dicionário dá também para vermos qual a interligação entre Setúbal local e Setúbal como protagonismo nacional ou associado a acontecimentos nacionais, e é importante sabermos isso por questões de identidade.
Fez alguma descoberta enquanto escrevia as biografias que tenha achado curiosa?
Houve uma biografia que eu fiz, não vou dizer de quem é, mas eu praticamente não sabia nada sobre essa pessoa. Sabia que existia, conhecia até os seus livros e a questão era, está bem, ok, mas o que é que há para além dos livros. Portanto, não foi difícil arranjar a informação, mas foi um satisfazer da curiosidade. O que é que se está a fazer, quem é que está por trás disto que foi produzido, quem é que está por trás destes livros que foram escritos, ficar a conhecer melhor esse lado deu-me alguma satisfação.