À frente do negócio desde 2015, Célia Soares vendeu em 2019 cerca de sete toneladas de gelados, mas garante que vai vender mais este ano
Foi em 1938 que a histórica gelataria Valenciana abriu em Setúbal. Agora situada em pleno Largo da Misericórdia e prestes a completar 82 anos em terras sadinas, a história que começou com um casal espanhol em fuga da Guerra Civil espanhola continua com a família de Célia Soares.
“Acho que é a mais antiga [gelataria] do país, certamente uma das mais antigas. Não percebo o porquê de em Setúbal não se dar valor às casas antigas, porque já não temos muitas. Pelo menos para dar a conhecer à população”, refere a O Setubalense, desde logo ressalvando que não precisa de publicidade porque já tem a melhor: “o chamado ‘boca a boca’”.
Por coincidência, depois de uma fase em que esteve desempregada juntamente com o marido, um curso de cozinha e pastelaria tirado por Célia levou o casal a procurar um negócio, “longe de pensar que seria a Valenciana”.
Mas assim foi e, em 2015, compraram o negócio ao “Sr. Fernando”, um dos genros do fundador da histórica casa de gelados. De uma família para outra continuou a Valenciana.
Célia Soares garante não poder falar com toda a certeza, porque “o que o cliente diz vale o que vale”, mas já ouviu queixas que, nos últimos anos antes da família Soares, os gelados já não tinham a mesma qualidade. “Isto são coisas que ouço, que a casa estava um pouco em baixo”, confessa.
Actualmente na fábrica, com o genro à frente da gelataria, Célia faz tudo, desde “tirar o pé do morango”, diz como exemplo. “É uma grande trabalheira e no Verão é muito duro”, frisa, mas deixa outra garantia: “só trabalho oito horas, mas é porque não aguento mais. Nem preciso de ginásio”.
Gelados em duas rodas… até às 7 toneladas
“O ano passado não trabalharam muito bem, porque ganhámos a concessão do Parque Urbano de Albarquel e tivemos muito trabalho, mas em 2017 e 2018 correu muito bem”, diz Célia Soares sobre as duas bicicletas que tem a vender gelado pelas ruas de Setúbal.
Mas mesmo com as bicicletas a terem o pior ano desde o seu aparecimento, a dona da Valenciana considera que 2019 foi um bom ano. “De gelado de leite, apenas, não chegámos às quatro toneladas. Foi três oitocentos e qualquer coisa… Mas estamos a falar provavelmente de umas sete toneladas de gelado vendido, número que esperamos ultrapassar este ano. Estou convencida que vamos superar”, diz.
O que tem mudado também são as gerações, “com cada vez mais jovens, ano após ano”. “Mas vêm aqui pessoas bastante idosas, isto acompanha várias gerações. Muitas pessoas de 70 ou 80 anos dizem-me que em novos faziam pequenos favores aos donos e depois recebiam um ‘geladinho’”, refere entre um sorriso, o mesmo com que contou a história da mítica casa sadina.
Fechada desde Setembro do ano passado, os gelados da Valenciana estão à venda a partir do mês de março.