O antigo presidente da Junta de Freguesia do Sado (Setúbal) Eusébio Candeias afirmou hoje que os resíduos perigosos encontrados no Vale da Rosa nada têm a ver com as escórias de alumínio da Metalimex enviadas para a Alemanha.
“Posso garantir que as escórias de alumínio que se encontravam, no final os anos 90 do século passado, na antiga unidade industrial da Metalimex foram mesmo removidas do local em 1998 e que os materiais agora encontrados pela associação ZERO só começaram a ser depositados naquele local a partir de 2003”, disse à agência Lusa Eusébio Candeias, ex-presidente da Junta de Freguesia do Sado e ex-vereador comunista na Câmara de Setúbal.
A associação ambientalista ZERO alertou na segunda-feira para as consequências ambientais de um depósito ilegal de cerca de 30 mil toneladas de resíduos perigosos perto das antigas instalações da empresa Metalimex, junto ao Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal.
Segundo a associação, os resíduos perigosos encontrados a cerca de 600 metros da antiga unidade industrial poderiam ser “uma parte substancial” das escórias de alumínio importadas da Suíça e que “supostamente tinham sido enviadas para a Alemanha em 1998”.
O antigo presidente da Junta, que deixou o cargo na freguesia em Dezembro de 2001, depois de ter sido eleito vereador da Câmara de Setúbal, assegurou, no entanto, que “não se trata dos mesmos resíduos”.
“Na altura acompanhei bem o processo, acompanhei o desenvolvimento daquelas instalações da Metalimex e a vinda daquelas escórias, que nós desconhecíamos o que era. Entretanto soou alerta de que eram escórias de alumínio, altamente perigosas, o que motivou muitos protestos”, disse.
“O que posso garantir é que as escórias da Metalimex foram mesmo para a Alemanha, para onde estava previsto irem. Até a ministra Elisa Ferreira – atual Comissária Europeia para a Coesão e Reformas -, que na altura tinha a pasta do Ambiente, veio assistir ao último carregamento”, sublinhou.
Quanto aos resíduos que terão sido recentemente detetados, o ex-autarca comunista recordou que “só começaram a ser depositados nas imediações da antiga unidade industrial da Metalimex a partir de 2003” e que sempre lhe disseram que se tratava de “materiais inertes”.
“Na altura disseram-me que era material inerte, proveniente da empresa Eurominas, e que seria para fazer a base da estrada de acesso ao Complexo Municipal de Atletismo e dos arruamentos do empreendimento urbanístico que estava previsto para a zona do Vale da Rosa. Só agora é que ouvi dizer, pela primeira vez, que são resíduos perigosos”, disse.
A Câmara de Setúbal, que já tinha sido alertada para a existência de um depósito ilegal de resíduos no Vale da Rosa no passado mês de Fevereiro, também diz não ter qualquer elemento que permita relacionar estes resíduos com as escórias de alumínio da Metalimex.
A autarquia sadina confirmou também à agência Lusa que já notificou o Millennium BCP, proprietário dos terrenos do Vale da Rosa onde foi encontrado o depósito ilegal de resíduos, para proceder à limpeza daquele espaço.
Contactado pela agência Lusa, o Millennium BCP confirmou que é o proprietário de uma parte dos terrenos, que recebeu no âmbito do processo de insolvência de uma empresa, em 2017. A empresa em causa, apurou a agência Lusa, era a Pluripar, que se propunha a construir um empreendimento urbanístico com cerca de 7.000 fogos e um estádio de futebol naquela zona.
Fonte oficial do Millennium BCP esclareceu ainda que o banco desconhecia a existência de resíduos perigosos no local, mas já está a avaliar a situação, face à denúncia pública da associação ZERO.
O ministro do Ambiente afirmou na terça-feira que o Estado se encarregará de retirar as cerca de 30 mil toneladas de resíduos perigosos descobertos em Setúbal caso não se consiga apurar quem é responsável por ali estarem.
O Ministério do Ambiente e da Ação Climática lembrou na segunda-feira que o envio das escórias de alumínio da Metalimex para a Alemanha foi concluído em 1998 e revelou que a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo já está a verificar a situação denunciada pela associação ZERO.
Lusa