Papel das 12 mulheres seleccionadas centra-se “na implementação de projectos de intervenção no meio rural”
O Estuário do Sado, a par de outras sete áreas protegidas, vai ‘ganhar’ 12 guardiãs da natureza, que vão estar focadas “na implementação de projectos de intervenção no meio rural”, sendo que, a nível local, estas mulheres vão estar “ligadas à pesca ou à conservação das pradarias marinhas”.
Através da “Rede de Guardiãs da Natureza e Desenvolvimento Sustentável do Mundo Rural”, promovida pela Business As Nature e financiada pelo Fundo Ambiental e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), pretende-se que, em simultâneo, as participantes “possam ser dinamizadores locais da regeneração, recuperação e conservação dos ecossistemas e da biodiversidade”.
Trata-se de um projecto-piloto, de âmbito nacional, que, na região de Setúbal, vai ser implementado na Reserva Natural do Estuário do Sado (RNES) com a parceria da Associação The K-Evolution.
Apresentado esta sexta-feira no Moinho de Maré da Mourisca, o plano tem como objectivo promover “o envolvimento e capacitação das mulheres como guardiãs e defensoras da sustentabilidade do meio rural”.
Além disso, vai permitir a cada umas mulheres “ter um projecto transformador”, criando “um negócio próprio” ou desenvolvendo a sua actividade profissional no mundo rural.
“Esta primeira fase é de criar esta rede e também dar alguma formação a estas mulheres, para cada uma delas ter um projecto transformador, projecto esse que elas até já podem ter, mas podem querer expandir”, explicou Susana Viseu, coordenadora do projecto.
As interessadas em ser uma guardiã da natureza têm até dia 15 de Setembro para se inscreverem no programa, através do preenchimento do formulário disponível na página oficial da Business As Nature.
Para se ser uma guardiã, reforçou a coordenadora do projecto, é necessário, entre outras características, “amar e respeitar a natureza e querer desenvolver a sua actividade profissional no mundo rural, aproveitando os recursos endógenos e os saberes locais”.
As mulheres escolhidas devem igualmente “querer divulgar os seus produtos ou serviços, ter capacidade de comunicação, dinâmica, capacidade de liderança e ser corajosas, resilientes e persistentes”. Depois de feita “a selecção das participantes”, haverá uma formação, durante os meses de Outubro e Novembro.
“É o equivalente a quatro dias de formação, ou seja, um total de 24 horas em que vão haver várias temáticas ligadas ao desenvolvimento sustentável e economia circular, conservação da natureza e utilização eficiente dos recursos hídricos”.
Vai também ser abordada “a oportunidade de negócio e empreendedorismo”, assim como está previsto um workshop “dos laboratórios de mudança, com pensamento sistémico, para ver qual a melhor forma de implementar os projectos”.
“A seguir a essa formação presencial, vão haver algumas sessões on-line, envolvendo universidades, centros de investigação e empresas para poderem dar algumas ideias de inovação e para poderem estabelecer algumas parcerias no sentido de desenvolver os projectos que venham a ser apresentados”, frisou Susana Viseu.
Para Dezembro, por sua vez, está agendada “a sessão final de apresentação do projecto, para apresentar as guardiãs e quais os projectos que cada uma tem”. Já no segundo ano será tempo de “arranjar condições para a implementação dos projectos”.
“Vamos ter de identificar potenciais empresas para poderem financiar os projectos ou através de fundos comunitários”, disse a coordenadora. “Queremos também expandir e internacionalizar a rede já a partir do próximo ano, para outras geografias, para os países de língua portuguesa, onde já temos parcerias, e para as regiões autónomas”, acrescentou.
Além da RNES, o projecto actua nos parques naturais Montesinho, Litoral Norte – Esposende, da Serra da Estrela, do Vale do Guadiana e no Parque Natural da Ria Formosa e nas reservas naturais das Dunas de São Jacinto e do Paúl de Arzila, sendo que nestas áreas protegidas “as actividades podem estar ligadas mais ao mundo rural, como a produção de queijo, apicultura, pecuária, agricultura sustentável ou produção de vinhos”.
Mesa-redonda e apresentação do Estuário do Sado marcam manhã
A apresentação do projecto ficou igualmente marcada por uma apresentação sobre os valores naturais que existem no Estuário do Sado, por Ana Sofia Palma, bióloga e técnica superior do ICNF, e pela realização de uma mesa-redonda, com o tema “Mulheres na Conservação da Natureza e do Desenvolvimento Sustentável do Território”, cuja moderação esteve a cargo de Luísa Schmidt, investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
A iniciativa contou com a participação de Sandra Lázaro, pescadora e guardiã do mar na Ocean Alive, Alexandra Silva, presidente da Associação The K-Evolution, Fátima Barata, co- -criadora da Azeitão Eco-consciente e do projecto Cafés ConSerto Portugal, Paula Serrano, da Quinta Maravilha, e Andreia Mourão, do projecto Momentum Housekeeping.
Antes, Cristina Coelho, chefe do Gabinete de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Emergência Ambiental da Câmara de Setúbal, disse esperar que o projecto “traga uma mais-valia para o território do ponto de vista da conservação da natureza”.
Também presente esteve Rui Pombo, director regional do ICNF de Lisboa e Vale do Tejo, assim como Marco Serrano Augusto, comandante-local da Polícia Marítima e capitão do Porto de Setúbal.
A manhã terminou com a intervenção de Jorge Amado, do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, que disse considerar que “as mulheres são umas verdadeiras guerreiras nesta área e que têm muito potencial e outra sensibilidade”.
“Foi um prazer ter estado aqui. Acho que o vosso projecto tem potencial para chegar muito longe. Cresçam, pensem grande e colaborarem connosco”, frisou, a concluir.