Iniciativa é dinamizada pela 50 Cuts Associação Cinematográfica e pelo município de Setúbal
A Sala José Afonso da Casa da Cultura recebeu, no domingo, a quarta edição do Encontro de Realizadores e Produtores de Cinema, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, no âmbito do programa municipal Set’Curtas.
Num olhar sobre a criação cinematográfica em Portugal, o objectivo passou por debater “o papel do guião e do guionista no actual contexto audiovisual português e a sua importância como parte integrante da produção cinematográfica”, cruzando experiências e dificuldades, “nomeadamente as que decorrem do não reconhecimento do trabalho por parte dos realizadores e produtores e da instabilidade da natureza do mercado de trabalho”.
Para Diana Lima, da 50 Cuts Associação Cinematográfica, “uma vez mais se constatou como são importantes estes momentos de reflexão e debate sobre as questões que afectam o cinema português”.
“Escolhemos este tema porque a importância do guião e do guionista no processo de criação de um filme é, na maior parte das vezes, esquecida ou ignorada”.
No seu entender, por norma, associam-se “os filmes aos seus realizadores esquecendo quem criou ou contou a história, que sem guião não há filme e, na verdade, quem escreve o argumento continua a não ser parte integrante da produção cinematográfica”.
Na tarde de domingo, agradeceu “aos oradores por terem aceitado o convite e partilhado as experiências e problemas que enfrentaram e continuam a enfrentar”, concluindo que “os problemas que afectam o trabalho dos guionistas afectam também outros profissionais de cinema”.
“Em Portugal não é fácil trabalhar como guionista, como não é fácil ser trabalhador criativo, seja em que área for. Ainda há muito caminho a percorrer até que o trabalho dos agentes culturais seja respeitado”. Neste sentido partilhou, ainda, estar expectante “para ver o que significa o anunciado ‘compromisso firme do Governo para com a Cultura’, para os próximos quatro anos”.
“A proposta de Orçamento do Estado para 2023 promete, diz o ministro da Cultura, ‘boas verbas’, com aumentos que ultrapassam os 100%, nomeadamente para artes visuais, e anuncia mais 12 milhões de euros para o Fundo de Apoio ao Turismo e Cinema”.
Profissionais partilham experiências na primeira pessoa
A programação abriu, no primeiro painel, com Rosa Coutinho Cabral, que falou sobre “O estado actual do guionismo no contexto audiovisual português”.
“O que me interessa no argumento, no guião e no trabalho de cinema é acompanhar as pessoas, conhecê-las, perceber através delas o que pode ser e ir escrevendo o guião a partir do que vamos recebendo do sítio”, disse.
Por sua vez, a realizadora Matilde Calado, natural de Setúbal, teve como ponto de partida “O difícil trabalho do guionista: uma experiência pessoal”, a partir do qual explicou o seu processo de criação, “conjugado entre a exploração de arquivos e a observação do que acontece para perpetuar esta ideia de olhar incessantemente”.
Na manhã de domingo, partilhou ainda vários excertos dos seus trabalhos “Registo de Nascimento” e “Quando for tarde”, revelando sentir falta de “tempo para reflectir, que devia ser efectivamente pago”.
No período da tarde, o segundo painel do encontro contou com o jornalista e guionista Pedro Marta Santos, que abordou “O guião e o guionista enquanto parte integrante da produção cinematográfica”. Também o cineasta setubalense Pedro Augusto Almeida participou, com a sua intervenção subordinada ao tema “Jovens guionistas: que futuro?”.
Todas as conversas foram moderadas por Teresa Neto, da Câmara Municipal de Setúbal. A programação deste quarto encontro encerrou com uma sessão de curtas-metragens “Best of Vila do Conde 2022”, com os filmes “Potemkinistii”, de Radu Jude, candidato Curtas Vila do Conde aos European Film Awards, “Ice Merchants”, de João Gonzalez, considerado o melhor filme da competição nacional e prémio do público da competição internacional, e “Nest”, de Hlynur Pálmason, que venceu o grande prémio do concurso.