A líder do instituto fez um balanço positivo da primeira fase de acesso ao Ensino Superior e garantiu que os doutoramentos estão ‘a chegar’. Para breve está criação de um edifício para a Escola de Saúde, assim como as residências em Sines e no Barreiro
De aluna a presidente, Ângela Lemos mostra-se confiante no seu trabalho e acredita que o Politécnico de Setúbal está no rumo certo. Com o término da primeira fase de acesso ao Ensino Superior, Ângela Lemos faz um balanço muito positivo e acredita que este é o resultado de um trabalho de proximidade feito com as escolas. Em entrevista a O SETUBALENSE, a presidente do Instituto Politécnico de Setúbal explica que os doutoramentos estão para breve no instituto, sendo as áreas do ambiente, do mar e da sustentabilidade as que estão mais propicias a abrir inicialmente. A criação de um edifício para a Escola Superior de Saúde está cada vez mais perto da realidade, assim como duas novas residências, uma em Sines, com 45 camas, e uma no Barreiro, com 50. Quanto à Escola Superior de Sines, o projecto ainda não foi submetido ao ministério, mas tem-se desenvolvido em articulação com a Câmara de Sines.
Após terminar a primeira fase de acesso ao ensino superior, que balanço faz?
Faço um balanço muito positivo. Colocámos cerca de 1000 alunos na primeira fase, tínhamos 1212 vagas, portanto, aumentámos o número de alunos colocados e temos cerca de 86% dos alunos matriculados. Importante destacar que cerca de 96,2% dos nossos candidatos escolheram-nos como primeira opção. Isso é o reconhecimento que os jovens têm do trabalho que é feito no instituto e o reconhecimento de uma prática que o instituto tem vindo a desenvolver ao longo dos anos. É consolidação da oferta formativa, dos nossos 29 cursos, 21 foram preenchidos na totalidade e isso diz muito daquilo que é a procura. Temos alguns cursos com mais dificuldade, indo de acordo ao panorama nacional, na área das engenharias e das tecnologias. Temos um curso de Engenharia Civil que efectivamente não preencheu vagas. Temos outros cursos que, com toda a certeza na segunda fase, preencheram a totalidade das vagas, se não a totalidade, mais de 90% das vagas.
Registou-se a taxa de ocupação de 82,4%, uma ligeira subida relativamente ao ano passado. Porque é que acha que houve esta subida?
O que tem vindo a acontecer é que estamos muito próximos das escolas, fazemos um trabalho de muita proximidade, não apenas com o ensino secundário, mas também com o ensino profissional, mostrando aquilo que são as nossas opções. O que pode ter mudado é a afirmação, acreditarem que o nosso projecto tem valor, é que traz valor para a região. Temos uma taxa de empregabilidade que é próxima dos 100% e, portanto, isso faz com que os candidatos nos escolham como primeira opção e que escolham o instituto para vir para cá estudar. Tivemos aqui a nossa feira de empregabilidade e quem a visitou percebe o quanto os empregadores gostam do perfil dos estudantes formados no Politécnico de Setúbal.
A primeira fase de acesso terminou, vai abrir agora a segunda fase. Como é que pode convencer os estudantes que saem do ensino secundário a vir para o IPS?
Acreditando que efectivamente esta é a formação que os prepara para a vida profissional. Aquilo que nós pretendemos aqui no instituto, e a opção por vir estudar para o Instituto Politécnico de Setúbal, tem muito a ver com o pensar que no futuro os estudantes conseguem entrar no mercado de trabalho com uma boa formação prática e teórica. E, portanto, quando pensamos na taxa de empregabilidade, na forma como os nossos professores investem nos estudantes, a forma como construímos os planos de estudo, a forma como lhes damos espaço para construção de trabalho autónomo, permite criar perfis adequados e de excelência ao mercado e às exigências do mercado de trabalho. A opção pelo Instituto Politécnico é a opção por uma formação de excelência.
Que licenciaturas e mestrados é que faltam levar a cabo aqui no Politécnico?
Acho que ao nível das licenciaturas temos uma oferta muito consolidada. Tentámos abrir uma nova licenciatura na área dos audiovisuais, mas não foi acreditada. Há nomeadamente 4 licenciaturas que poderão ser alvo de uma reestruturação, como por exemplo, ao nível da engenharia civil, onde estamos a trabalhar na reorganização do plano de estudos. Ao nível dos mestrados, tivemos a acreditação este ano de um novo mestrado em gestão de Engenharia da Aquacultura. Vamos abrir um novo mestrado também em terapia da fala na área da saúde e temos apostado muito na consolidação do corpo docente.
O que falta ao IPS para arrancar com os doutoramentos?
O que falta essencialmente é termos as condições ou requisitos exigidos pela legislação. Temos um corpo docente muito qualificado, mas não temos nenhum centro de investigação acreditado e avaliado como muito bom ou excelente pela FCT e é isso que falta. A FCT tem aberto as candidaturas para a avaliação dos centros actuais e para a possibilidade de criação de novos centros. O instituto vai propor a criação de um novo centro, mais na área da sustentabilidade e vai associar-se a centros já acreditados com excelente ou com muito bom, no sentido de termos os nossos docentes integrados e de podermos vir a trabalhar na outorga do grau de doutor.
Em que áreas é que o IPS está a pensar abrir doutoramentos?
Esse é um trabalho que temos que fazer com a comunidade docente e com os investigadores. Diria que temos condições para avançar nas áreas do ambiente, do mar e na área da sustentabilidade. Agarrando nas parcerias que temos já com Évora, com a Nova de Lisboa, temos algumas parcerias que podem ser importantes para avançar com outorga do grau de doutor.
E a nível de renovação do campus, o que é que está a planear para o futuro?
Vamos lançar no próximo mês o concurso para a nova escola de saúde. A escola funciona, mas no edifício das Ciências Empresariais e, portanto, o campus vai ser reconfigurado com mais uma nova escola, a Escola Superior de Saúde, que será construída na zona sul do campus.
Analisando a situação imobiliária do país, o IPS tem a oferta da residência, mas tendo em conta toda esta situação, o que está pensado pelo Politécnico?
Temos a concurso três novas residências, ou seja, duas novas residências, uma em Sines, com 45 camas, e uma no Barreiro, com 50. Vamos também ampliar a residência de Santiago, que vai ser toda remodelada e teremos mais 85 novas camas. No total, no final de 2024, meados de 2025, terá para oferecer 474 camas, mais 180 camas do que actualmente.
Qual o ponto de situação da escola que vai abrir em Sines?
Temos vindo a trabalhar no projecto, é uma escola que irá estar muito virada também para a economia sustentável, para a economia azul, e para o digital. Terá de ser uma escola muito pensada para o estudante internacional e para captar estudantes da região de Sines, que está em pleno desenvolvimento. Precisamos de pensar numa oferta que seja diferente e que responda às necessidades daquela região. Estamos a construir o projecto, ainda não foi submetido ao ministério, temos vindo a trabalhar em articulação com a Câmara de Sines e com as empresas novas e as que estão já a laborar em Sines para criarmos uma oferta formativa que dê resposta às necessidades actuais da região.
Brevemente o IPS será vizinho da Cidade do Conhecimento. Como é que vai funcionar essa ligação entre estas duas instituições?
Temos vindo a trabalhar com eles no sentido de estabelecermos protocolos e no sentido de sermos um parceiro efectivo dessa realidade. O que se pretende é que possamos colaborar com os nossos laboratórios, com os nossos investigadores, fazer formação também nesta área e podemos fazer investigação. Uma investigação que responda às necessidades da região e que seja muito articulada com todas as entidades que virão a fazer parte da Cidade do Conhecimento. O que queremos ser é um parceiro activo e efectivo dessa Cidade do Conhecimento.
Já falamos vários projectos. De certa forma, a escola do Barreiro pode estar a ser deixada para trás?
A escola do Barreiro não está de todo a ser deixada para trás. Temos continuado a investir na formação e na consolidação da oferta. Muitas das nossas formações actuais são construídas em conjunto com as diferentes escolas e, portanto, o Barreiro está envolvido também em alguma formações que são leccionadas aqui no campus de Setúbal, assim como algumas das escolas do campus de Setúbal, têm docentes a leccionar no Barreiro em áreas muito específicas. Este ano vamos abrir um novo CTeSP em Técnicas Laboratoriais em Sines. Temos os CTeSP na área de Lisboa Norte e a escola do Barreiro tem CTeSP nessa área. A escola do Barreiro é mais uma das escolas do nosso do nosso instituto que está deslocalizada, mas faz parte integrante daquilo que é o desenvolvimento do instituto. A aposta numa residência do Barreiro demostra o quanto acreditamos no projecto do Barreiro.
Como é que foi passar pelo IPS na sua altura enquanto estudante entre 87 e 90?
Ser estudante no instituto nessa altura foi uma marca muito importante. Foi a primeira turma da Escola Superior de Educação, a par da turma do Primeiro Ciclo, que formava professores de primeiro ciclo, e nós não funcionámos aqui no campus. Tínhamos uma relação muito próxima com os professores e uma vida académica muito própria, porque não nos sentíamos ainda em ensino superior, porque éramos 45 alunos. Os professores tinham uma relação muito próxima e conviviam connosco, porque também não havia gabinetes, apenas um espaço onde é hoje o IEFP, onde eles tinham alguns espaços de trabalho, mas conviviam ali connosco e trabalhavam connosco. A ESE já nessa altura tinha muitos projectos na região, trabalhava muito na área da formação de professores, e isso foi uma mais-valia para o meu percurso profissional. Foi ali que aprendi a trabalhar em equipa, a respeitar os mais velhos e perceber que a experiência dá uma grande bagagem. Aprendi muito a saber fazer e aprendi muito a aprender a aprender.
Tem alguma pessoa que tenha marcado o seu percurso académico?
Ao longo do nosso percurso fomo-nos cruzando com pessoas que nos marcam. Tenho um estudante que me marcou, com quem trabalhei muito próximo depois. Chama-se Francisco e foi sempre educador de creche, portanto, formou-se em Educação de Infância e trabalhou sempre em creche. Foi um percurso que nos foi marcando quando começou a trabalhar com crianças tão pequeninas de berço, uma vez que não foi fácil os pais aceitarem que era um homem que estava a trabalhar, porque é uma profissão maioritariamente composta por mulheres. Ele foi sempre trabalhando em creche, ainda hoje trabalha, e, portanto, foi uma pessoa que nos foi marcando. Colaborou sempre com a ESE, já como vice-presidente, convidei-o para estar num dos nossos encontros e também esteve. Não por ser um aluno extraordinário, não por ser melhor ou pior que o que os outros estudantes, mas efectivamente, em termos de Educação de Infância foi um estudante que me marcou e com quem mantenho uma amizade de proximidade.
A presidência do IPS tornou-se, a certa altura, uma meta a atingir?
Nunca foi uma meta que pretendia atingir. A presidência do instituto surgiu como uma oportunidade que eu poderia agarrar ou não. Quando aceitei era para ser vice-presidente por 4 anos e depois se veria. As coisas foram-se alterando, a equipa da presidência também foi sendo alterada e o caminho foi-se fazendo. Entendi que teria condições para ser presidente, tenho tido no meu percurso muito a área da gestão, até como educadora de infância, eu comecei a trabalhar a gerir uma IPSS, onde fui logo coordenadora e diretora. A presidência do IPS surgiu como uma oportunidade e entendi que tinha condições e perfil para ajudar o instituto. Não era uma meta, surgiu e foi um projecto que eu abracei e espero que esteja a desenvolvê-lo com sucesso.
Para aqueles que agora chegaram e já se matricularam no IPS, que mensagem tem para eles?
Acima de tudo que sejam muito felizes, que consigam construir um percurso pessoal de amizades de todas as conquistas que se fazem quando somos estudantes, mas que consigam construir as suas competências profissionais e as competências profissionais são muito as nossas soft skills, as nossas competências mais pessoais, saber falar, saber argumentar, saber expor, saber pensar, aprender a aprender. Como é que eu aprendo a aprender? Isso faz com que eu tenha muito tempo de estudo além do estar apenas em sala de aula. É muito aí que nós já nos baseamos. Depois que sejam muito capazes de construir o seu perfil e quando chegarem ao mercado de trabalho, conseguirem ser pessoas que se afirmem pela excelência, pelo rigor, pelo sentido ético da profissão, independente de qual qual seja. Que consigam ser embaixadores, verdadeiros embaixadores do Instituto Politécnico de Setúbal.