No ano em que celebra 40 anos, o IPS consolida um novo ciclo de estabilidade e crescimento. Após a grave crise económica que afectou o país, em 2018 atingiu o recorde de 7 mil estudantes
O Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) apresentou esta semana um estudo sobre o impacto económico que tem na região. A conclusão principal é que a comunidade politécnica, alunos, docentes e funcionários, deixam 58 milhões de euros em consumo por ano, sobretudo nos concelhos de Setúbal e Barreiro. Em entrevista, o presidente do IPS, Pedro Dominguinhos, aponta os desafios presentes e futuros do ensino superior na península e aborda outros aspectos da acção do instituto.
Qual é a grande conclusão do estudo sobre o impacto deste polo académico na região?
O impacto é claramente positivo e crescente. Primeiro ao nível da qualificação da população, com mais de 20 mil diplomados formados pelo IPS. Algo muito relevante para que as empresas da região possam ser mais competitivas. E, sobretudo, para a equidade de oportunidades.
Se o Politécnico não existisse muitas pessoas dificilmente poderiam obter formação superior, por dificuldades económicas, sociais, profissionais. O IPS contribuiu para a formação com equidade, funcionando como elevador social.
Um veículo na democratização do acesso ao ensino superior?
Gosto da palavra democratização. Não gosto da palavra massificação. Democratização porque é uma questão de direito. Sabemos que pessoas mais qualificadas conseguem obter salários mais elevados, resistir melhor a situações de desemprego e lutar com outras armas no mercado de trabalho. Depois existe a questão da inovação, empreendedorismo e transferência de tecnologia. Ter pessoas mais qualificadas no mercado facilita a concretização de projectos de investigação com empresas, hospitais, autarquias. Há aqui a capacidade de um “upgrading” [incremento] tecnológico para alavancar um desenvolvimento económico positivo do qual as empresas beneficiam, pela existência de uma instituição de ensino superior na região.
Refere-se à retenção do talento na região?
Sim. Esse é talvez um dos desafios mais relevantes que temos. O IPS retém cerca de 65% dos seus diplomados. Ou seja dois terços das pessoas que são formadas ficam na região. Um contributo inestimável para a qualificação do território porque permite atrair investimento qualificado. E o investimento que nós queremos ter aqui [na região] tem que ser mesmo mais qualificado e não baseado nos custos reduzidos da mão-de-obra. O que significa a necessidade de ter profissionais especializados, não apenas pela formação inicial, mas também na formação ao longo da vida.
Formar também as pessoas que estão no mercado de trabalho e que tiveram que abandonar os estudos e agora têm necessidade de voltar a fazer formação para enfrentar os desafios da digitalização e novos conceitos.
A escola agora é, mais do que nunca, a nossa casa permanente. É importante termos essa noção. Ao longo da vida vamos precisar voltar ao ensino para conseguir responder aos desafios do mercado. Muitas vezes através de formações mais curtas e intensivas que não envolvem apenas o ensino superior. E no contexto dos sistemas regionais de formação os politécnicos desempenham um papel fundamental.
Quem são os alunos do futuro no IPS?
A nossa capacidade de receber estudantes e investigadores estrangeiros é cada vez mais relevante. Sabemos que está projectado um inverno demográfico para os próximos anos e por isso é importante retermos cada vez mais imigrantes. Eles vão desempenhar um papel determinante num futuro próximo para consigamos manter a nossa actividade económica.
Nós [IPS] nesse contexto estamos a preparar o futuro. Exemplo disso é a procura crescente por parte de empreendedores internacionais no âmbito do programa “start up visa”. Neste momento temos três empreendedores instalados no IPS. E nas próximas semanas vão chegar mais três, para instalar as suas empresas no Politécnico de Setúbal e, a partir de Portugal, ter uma base exportadora global. Estas são empresas com pessoas altamente qualificadas, a maior parte com doutoramento.
A nossa capacidade de atracção, para localizar empresas dentro de um centro de produção de conhecimento é crucial. Esse papel deixa-nos o desafio de encontrar espaço dentro do campus, para podermos ter outro tipo de actividades que nos permitam encontrar soluções para um futuro sustentável.
Como é que o IPS sobreviveu à grave crise económica do inicio da década?
Sobrevive-se com muito sacrifício interno e impactos significativos. Passámos de cerca de 6 mil alunos, para 5 mil no espaço de dois anos. Com a particularidade de que o IPS tem cerca de 40% de trabalhadores estudantes. Naturalmente, num contexto de quebra de PIB esses estudantes têm como objectivo a sobrevivência familiar, deixando as suas formações em suspenso. Ao mesmo tempo, nessa época, precisávamos aumentar a qualificação do corpo docente o que apenas foi possível realizar porque existia e existe uma situação financeira sólida. Foi difícil de gerir, mas conseguimos manter o nível de actividade e criar os alicerces para recuperar.
Exemplo disso é o facto de termos fechado 2018 com quase 7 mil alunos. Um número que nunca tínhamos alcançado. Temos também mais alunos de CTeSP [Cursos Técnicos Superiores Profissionais] e mais alunos de mestrado, porque houve a capacidade de o IPS se transformar e ser mais atractivo na região e no panorama nacional.
Fotografia: Alex Gaspar