De Almada a Tomar. Doentes Covid-19 do distrito podem ser transferidos para hospitais do Médio Tejo

De Almada a Tomar. Doentes Covid-19 do distrito podem ser transferidos para hospitais do Médio Tejo

De Almada a Tomar. Doentes Covid-19 do distrito podem ser transferidos para hospitais do Médio Tejo

Secretário de Estado coloca hipótese em cima da mesa se Garcia de Orta continuar com capacidade de resposta esgotada

 

António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, confirma que a capacidade de resposta à Covid-19 na Unidade Cuidados Intensivos (UCI) do Hospital Garcia de Orta está totalmente esgotada e avança possíveis transferências para o Centro Hospitalar do Médio Tejo, tal como já aconteceu em outros momentos. Mas, sindicatos e comissões de utentes acusam a Saúde de planeamento desorganizado.

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Durante a conferência de imprensa da Direcção-Geral da Saúde, realizada na passada sexta-feira, o secretário de Estado afirmou que, apesar das treze camas da UCI do Garcia de Orta afectas ao tratamento de casos Covid-19 estarem ocupadas, “o Serviço Nacional de Saúde [SNS] funciona em rede”. Sendo sempre considerada a transferência de doentes para outras unidades “a nível regional” ou “inter-regional”, Lacerda Sales recordou que “há pouco tempo” foram transferidos doentes do Garcia de Orta “para o Médio Tejo”. Uma solução possível agora, “símbolo de interoperacionalidade dos hospitais portugueses”, afirma.

Recorde-se que o Centro Hospitalar do Médio Tejo abrange os hospitais de Torres Novas, Abrantes e Tomar. E a ser colocados, por exemplo, em Tomar, os utentes podem ficar a uma distância de mais de 150 quilómetros relativamente à península de Setúbal.

Hospitais de Almada, Setúbal e Barreiro no limite da capacidade

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João Proença, dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul refere que o Hospital Garcia de Orta, tal como o Hospital de São Bernardo (Setúbal) e o Hospital Nossa Senhora do Rosário (Barreiro) estão “há muito tempo no limite da sua capacidade. Sendo, por isso, urgente duplicar as equipas, desde os auxiliares da acção médica, a enfermeiros, médicos e técnicos de diagnóstico”. Assim como “organizar zonas de resposta adequadas para doentes Covid”.

Corredores de separação total que continuam a não ser possíveis e que têm surgido “de uma forma desorganizada e provisória”, refere.

Um panorama que representa também grande fragilidade para os doentes não Covid, “sem a devida resposta assistencial num SNS de ‘pensos rápidos’, que entrará em implosão em 2021”, afirma João Proença, destacando o maior índice de mortalidade registado este ano em outras doenças, além da Covid-19.

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“No seu dia-a-dia os utentes estão bloqueados, sem respostas adequadas ou demasiado deslocadas e acabam por ficar em casa, sem tratamento, ou a aguardar mais tempo do que deveriam por tratamentos considerados urgentes”.

A situação agrava-se ainda mais nos centros de saúde, “com a dificuldade no acesso a consultas e a impossibilidade de se estabelecerem os contactos telefónicos”.

Com problemas identificados e soluções equacionadas, o dirigente sindical acusa o Governo de incapacidade de concretização. “Não há negociações sobre carreiras e melhores salários e desta forma não é possível reter médicos no público”.

No SNS os salários base, sem horas, “alcançam os 2 200,00 euros, para um total final de 1 600,00 euros após descontos. No sector privado são o dobro”. E esta incapacidade de concorrência traduz-se nos resultados do último concurso público, no qual 30% das vagas abertas pelo Estado ficaram por preencher.

Aliás, para o distrito, estaria prevista a contratação de 80 médicos, entre hospitais, centros de saúde e delegações locais de saúde. O Garcia de Orta receberia a maior colocação: 26 médicos no total, que ainda assim não seriam suficientes.

“Neste momento todos os profissionais são bem-vindos”, afirma João Proença. “Mas serão sempre insuficientes para áreas Covid e não Covid, porque temos o dobro dos médicos a serem reformados por ano”. Faltas que poderiam ser resolvidas se, “os profissionais subcontratados a empresas fossem directamente colocados no SNS”.

Plano     Comissão de Utentes acusa Governo de favorecer grupos privados

A Comissão de Utentes da Saúde do Concelho do Seixal (CUSCS) “não concorda com a deslocalização de doentes para o Médio Tejo”, não apenas pelo distanciamento face à zona de residência e famílias. Mas, também, por considerar que o Serviço Nacional de Saúde “teve tempo para preparar a resposta à 2ª vaga da Covid-19, tendo em conta o que foi observado nos países vizinhos e no norte do país”. No entanto, “o SNS preferiu resguardar-se sobre o alibi de não ter capacidade para entregar respostas a grupos privados de saúde”, afirma José Lourenço, porta-voz deste grupo.

Ainda com uma 3ª vaga Covid-19 já a ser equacionada por especialistas, a CUSCS afirma estar “totalmente de acordo” com o Sindicato dos Médicos da Zona Sul. “Não haverá capacidade de resposta dos hospitais da região nos próximos meses. Nem para a Covid-19, nem para os cuidados de saúde que a população continua a necessitar. Basta olharmos para a subida da mortalidade não relacionada com o novo vírus e analisar os atrasos no acesso a tratamentos”. Nestes casos, “há situações oncológicas graves, em os utentes estão meses a aguardar”, destaca José Lourenço.

Por isso, no decorrer desta semana a CUSCS vai pedir uma reunião com o conselho de administração do Garcia de Orta, “a fim de esclarecer os pormenores da possível transferência de utentes para as unidades do Centro Hospitalar do Médio Tejo”.

 

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