A partir de Outubro as dragagens previstas no projecto Melhoria das Acessibilidades do Porto de Setúbal podem começar a qualquer momento. Em declarações a O SETUBALENSE a APSS confirma que o projecto “não só avança como já está no terreno desde que a obra de extensão do Terminal Ro-Ro começou”. Os setubalenses aguardam o que consideram ser “um futuro com falta de informação sobre como vai ficar o rio e a cidade”.
Desde a Doca dos Pescadores até ao jardim da beira-mar, frente à sede da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), mil manifestantes contra as dragagens no Sado fizeram ouvir as suas vozes em uníssono.
Uma manifestação pacífica durante a qual, Francisco Ferreira, presidente da Associação Zero, guiou a multidão e, na linha da frente, recordou intenções. Em declarações a O SETUBALENESE, o dirigente, afirmou “as dragagens no porto de Setúbal ainda podem ser paradas. Este não é um processo irreversível”.
Quando confrontado com a posição da APSS, que assume “um projecto já em andamento desde que começou a intervenção no Terminal Ro-Ro e sem volta atrás” Francisco Ferreira, contrapõem. “Estamos prestes a ter um novo Governo e temos esperança que ainda seja possível mudar o curso desta História”.
Também o ambientalista Pedro Vieira, presidente do clube da arrábida e co-fundador do movimento Sado de Luto, mantém a esperança no alto da sua voz. “Sim, tudo pode começar a qualquer momento, mas ainda aguardamos a decisão sobre uma última providência cautelar que apresentamos no Tribunal de Almada e cujo resultado pode sair a qualquer momento”.
A verdade das pradarias marinhas
“As pradaria marinhas do Sado não vão ser arrancadas e destruídas durante as dragagens. Elas vão morrer sim, porque a turbidez que será gerada nas águas impedirá a luz de penetrar e a fotossíntese de acontecer”. Para Raquel Gaspar, bióloga marinha e co-fundadora da Ocean Alive “vão simplesmente apagar a luz do Sado”.
A cadeia é simples. As pradarias marinhas são “a casa” de muitas espécies e fonte alimento também. Inclusive para os roazes do Sado. “Se este ecossistema entrar em desequilíbrio devido à morte das pradarias marinhas, até os roazes vão ficar em risco”.
Raquel Gaspar recorda um caso da Austrália, que decorreu com os mesmos contornos. “As pradarias marinhas foram afectadas devido à turbidez das águas e os golfinhos começaram a morrer. Aqui no Sado também já verifiquei, em outros momentos, a mesma relação entre quebras nas pradarias marinhas e maior mortandade na população de juvenis [golfinhos roazes jovens]”.
A bióloga explica ainda que, “problema não será apenas a turbidez, mas também os metais pesados que vão ser levantados do fundo com a remoção de areias”.
Sobre estes detritos, crómio, essencialmente, e presença de zinco, entre outros, Pedro Vieira explicou a O SETUBALENSE, “não quer dizer que sejam prejudiciais para nós em contacto directo com a água, ou pelo menos não no imediato. Serão prejudiciais sim para as pradarias marinhas que os vão absorver e para os peixes que, através das pradarias os vão comer. Então quando o peixe chegar à nossa mesa, então sim, vamos absorver estes metais”.
A troco de quê se apagará a luz do Sado?
Nem sobre metais pesados, nem do que mudará na circulação no Sado a APSS se pronunciou até ao momento. E o silêncio começa a pesar sobre os setubalenses que, com um Estudo de Impacte Ambiental aprovado, Outubro no horizonte e as dragagens prestes a começar, acusam “um silêncio onde ninguém explicou aos setubalenses como será a vida no Sado e à beira Sado, nos próximos meses”.
Uma opinião partilhada por Nuno Carvalho, cabeça de lista do PSD por Setúbal nas Legislativas. Presente na manifestação desta tarde, o candidato a deputado recordou a exposição enviada à APSS, “na qual o PSD de Setúbal questiona o que acontecerá no rio Sado quando as dragagens começarem, desde a circulação da marítimo-turística, aos pescadores, sem esquecer o ruído na cidade. Até agora, ainda ninguém disse como vamos viver com as dragagens e a troco de quê”, refere.
Contudo, a APSS já avançou “a troco de que será”. Esclarecendo que a obra apenas se concentrará em uma fase, ao contrário das duas fases que inicialmente se previam, a Administração do Porto define que “serão retirados cerca de 3,5 milhões de metros cúbicos de areia do fundo do Sado. Não 6,5 milhões de metros cúbicos de areia, como tem sido comentado”.
Nos objectivos deste projecto “não está, nem nunca esteve, trazer navios de Sines para Setúbal. Não temos capacidade para receber navios desse porte. O objectivo é tão somente trazer maior circulação e volume de carga movimentada. E estaremos a fazer este processo do melhor modo, assegurando que, nem as pradarias marinhas, nem os golfinhos, serão prejudicadas”.
Dores Meira não receia resultados do projecto
Ontem, a bordo do veleiro Pogoria de visita a Setúbal na Semana do Mar, a presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira revelou ao jornal que, “confia no projecto e no quando contribuirá para o desenvolvimento industrial e crescimento económico de Setúbal e da região”.
Quanto a questões ambientais a autarca confia. “Tenho a certeza que a APSS vai assegurar todas as medidas necessárias para proteger o Sado e o ambiente em redor”.