A Comunidade Portuária de Setúbal tem na sua composição as maiores empresas da região de Setúbal e estas, afirma o seu presidente defendem a modernização do Porto de Setúbal. Quanto aos dragados provenientes da obra, diz haver muita falta de informação
O receio com a deposição dos dragados consequentes das obras para melhoria das acessibilidades marítimas ao Porto de Setúbal está, há quase um ano, na linha de notícias. São os protestos dos pescadores que receiam perder recurso de pesca no Sado, são os protestos de ambientalistas que receiam pela flora e fauna do estuário, e também empresas, algumas delas ligadas ao turismo, que receiam perder clientes.
Receiam; mas suavizam os protestos quando se fala em potenciar a capacidade de resposta de um dos cinco maiores portos do país, isto apesar de alguns – mais uma vez a expressarem receio – que o aumento de estrutura do Porto de Setúbal implique maior pressão nas estradas do concelho com movimentação de carga.
Mais tranquila está a Comunidade Portuária de Setúbal (CPS) que garante não existirem motivos para tantos receios, apesar de reconhecerem que as dragagens não são completamente inócuas. Contudo, “é possível criar medidas mitigadoras que resolvam uma situação inesperada”, afirma Joaquim Franco, gerente da Operadora Portuária Navipor, uma das sócias da Comunidade Portruária.
Em entrevista a O SETUBALENSE-DIÁRIO DA REGIÃO, tanto Porfírio Gomes. Presidente da CPS, como Joaquim Franco, como Pedro Constantino administrador da Tersado, concessionário do Terminal Multiusos do Porto de Setúbal, garantem que existe “muita confusão na opinião pública com os dragados para o alargamento da acessibilidade ao porto.
“Quando se fala em 6,5 milhões de metros cúbicos de areias dragadas, não é verdade”. Esta obra de alargamento implica duas fases, e o que vai acontecer é apenas a execução da primeira fase, o que significa que estamos a falar de 3,5 milhões de metros cúbicos de areias”, explica Porfírio Gomes.
Aliás, o presidente da CPS deixa bem claro que a prevista segunda fase da obra “não irá acontecer nos próximos muitos anos”. Esta só foi assinalada no projecto para apresentar a quem analisa e passa as licenças de obra, como a Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Foi para inscrever a “perspectiva mais gravosa”, porque “é assim que são feitos os planos de impacte ambiental”, explica ao mesmo tempo que insiste que “o real são 3,5 milhões de metros cúbicos de areias”.
Alargamento do porto é acompanhado de reforço ferroviário
Para a CPS não há volta a dar: o Porto de Setúbal tem de ser alargado e modernizado para poder receber navios de maior calado e manter-se concorrencial entre os portos nacionais e conquistar posicionamento em Espanha. A marinha mercante “aposta cada vez mais em navios maiores”, diz Pedro Constantino. Trata-se de conseguir economia de escala em que “o mesmo navio consegue transportar mais carga”.
Para responder ao mercado, “as acessibilidades náuticas têm de ser mais fundas”, acrescenta Joaquim Franco e por sua vez Porfírio Gomes explica que o projecto em cima da mesa considera aumentar o calado de 13 para 15 metros dentro da barra, e cerca de 13,5, no máximo, dentro do canal do porto.
Com o Porto de Lisboa “em quebra de movimentação de carga”, o presidente da CPS avança que a infraestrutura de Setúbal “para se manter competitiva, tem de ter a obra de modernização dentro de ano e meio, no máximo”. Mais ainda quando a grande perspectiva de crescimento está no movimento de contentores. A visão de futuro caso não seja feita obra é, “em vez de um porto comercial, passamos a ter em Setúbal um simples atracadouro”, afigura Joaquim Franco para a seguir vincar que “os portos que não forem competitivos perdem armadores que constroem navios cada vez maiores para eles próprios serem mais competitivos”.
Anexado ao projecto de melhoria das acessibilidades marítimas ao Porto de Setúbal, que vai permitir dois navios a manobrar ao mesmo tempo no canal do estuário, está a construção de uma ligação ferroviária para facilitar a entrada e saída de mercadorias no porto. Diz o presidente da CPS que este estudo “está em fase bastante avançada, e a ser discutido com os terminais do porto sobre a forma com se vai funcionar”. Ou seja, a electrificação de todas as linhas até à entrada dos terminais e ainda a elaboração de uma grelha de horários para que “os comboios de transporte de mercadorias e os de passageiros não conflituem”.
Com a entrada em cena do comboio associado à modernização do porto, Porfírio Gomes tem a certeza de que “não haverá problema nas acessibilidades à cidade de Setúbal”, a isto Pedro Constantino acrescenta muitas empresas veem no alargamento do Porto de Setúbal uma oportunidade de crescimento da sua própria estrutura de negócio.
Aliás, a ideia de crescimento da economia local e regional, e de alguma forma de um território mais alargado, sustenta a pressão da Administração do Porto de Setúbal de levar a obra em frente, e não há dúvidas que tem o apoio das empresas ligadas à Comunidade Portuária. Como diz Joaquim Franco, “na génese de muitas cidades estão os portos e, quanto mais desenvolvidos estes forem, mais desenvolvidas são as cidades que os envolvem”.