Apresentação de “As palavras que eu sou” esteve a cargo de Viriato Soromenho-Marques
A Casa da Cultura foi, na tarde de sábado, palco da sessão de lançamento do novo livro de poesia de Manuel Medeiros, que assina com o pseudónimo literário Resendes Ventura. “As palavras que eu sou” é uma obra que compila poemas inéditos da autoria do fundador da livraria Culsete.
Na Galeria do equipamento cultural setubalense, a Fátima Medeiros, que agradeceu a presença de todos na sessão de lançamento de “um lote de 498 poemas rabiscados em diversos papéis que se fizeram livro”, juntou-se o professor Viriato Soromenho-Marques para apresentar a obra.
“É um enorme prazer falar das coisas que importam, numa altura em que o discurso público está povoado de pulsão de morte, ódio e de hostilidade, poder falar sobre uma obra que exalta a vida e a coragem e a responsabilidade de viver”, começou por dizer.
Na sua intervenção, que dividiu em quatro elementos – o homem, o poeta, o livro e a poesia, apresentou Manuel Pereira Medeiros e o seu percurso de vida, no qual se inclui a fundação da Culsete, em 1973, “livraria que está na vida de muitas pessoas e se assumiu e assume enquanto sujeito cultural da cidade” e na qual verificou “uma situação única, a de um livreiro que escolhia leitores para os livros”.
Neste sentido, Viriato Soromenho-Marques recordou ainda o mês de Dezembro de 1973, altura em que tinha começado a escrever os seus poemas: “senti nessa altura uma grande vontade de os tornar públicos, falei com Manuel Medeiros e ele encorajou-me muito. A edição saiu a 9 de Abril de 1974, ainda antes do 25 de Abril, e devo-lhe imenso esta confiança para que eu pudesse publicar aquele livro”.
Sobre a poesia assinada por Resendes Ventura, “é uma poesia predominantemente reflexiva, tem um mundo dentro dela mas é um mundo sobre o qual se pensa. Tem ironia, detalhes e vai buscar a tradição da poesia popular e a musicalidade da poesia popular açoriana”, onde Manuel Medeiros nasceu. “Digamos que a proximidade da morte intensificou a adesão à vida e à elaboração literária poética”, continuou.
Continuar a publicar a obra e projectos de investigação entre os desafios lançados
Nas palavras de Viriato Soromenho-Marques, este livro agora apresentado “não é uma poesia completa” e “ao sair exige uma segunda obra, com todos os outros poemas. Pelo sentimento da Fátima Medeiros penso que será uma questão de tempo até se tornar realidade”.
O professor deixou ainda um apelo aos jovens investigadores: “este ano, temos dez anos sobre o falecimento de Manuel Medeiros, 50 anos sobre a fundação da livraria Culsete e 60 anos sobre a publicação da sua obra ‘Passos de viagem’”.
“A verdade é que temos aqui matéria para uma investigação sobre a figura de Manuel Medeiros, sobre a sua obra e também sobre a Culsete como obra colectiva que fundou. Há teses de mestrado ou doutoramento que podem ser feitas sobre isto, é um tema único que ninguém tratou. Aproveitem essa riqueza”.
No início e no fim do encontro, houve leitura de poemas, pelos elementos do Teatro Estúdio Fontenova, Patrícia Paixão, Graziela Dias e Rosa Dias, e a interpretação musical dos mesmos por João Mota, igualmente parte da companhia de teatro setubalense. A livraria Culsete, na pessoa de Raul Reis, também marcou presença na sessão de lançamento com a venda dos livros.