O livro da autoria de João Firmino resulta das vivências e emoções do autor ao longo de uma viagem não turística que realizou durante três meses pela Índia. No dia 8, há nova apresentação no Espaço Nosso Bairro, Nossa Cidade da Bela Vista.
A sala polivalente da Biblioteca Municipal de Setúbal recebeu, na tarde de sábado, a apresentação do livro “Onde o teu nome estiver escrito”, de João Firmino. Com a plateia preenchida, Lígia Águas, a coordenadora das bibliotecas e pólos da autarquia, deu início à sessão, agradecendo a presença de todos “na casa das palavras vivas”.
Uma viagem guardada em 350 páginas
Há cerca de dois anos, João Firmino realizou uma viagem não turística de três meses pela Índia. Permaneceu dois meses num mosteiro budista nos Himalaias, em pesquisa e trabalho voluntário, e um mês na planície de Rajastão, mais propriamente na cidade de Pushkar.
Este livro surge após um pedido do responsável do mosteiro para que fosse divulgado em Portugal e no Ocidente o trabalho realizado no mosteiro, que tinha sido destruído por causas naturais e reconstruído com a força e trabalho de todos, e a via do Budismo naquela região do norte da Índia. “O responsável pelo mosteiro budista que visitei e onde fiz trabalho voluntariado fez-me o convite para escrever um livro sobre a destruição e reconstrução do mosteiro e sobre a via do Budismo no Sikkim”, começou por explicar o autor da obra, adiantando que a sua “religiosidade é universal. Não sou budista, hinduísta, católico. Sou todos e não sou nenhum”. Com esta viagem, aprendeu muito e traz consigo ensinamentos como “felicidade é fazer o outro feliz” ou “na Índia tudo é possível”.
“Depois de regressar a Portugal, e dando um tempo para me conseguir distanciar das experiências e emoções que vivenciei durante a viagem à Índia, comecei lentamente a resolver o conflito interior e a imaginar o livro que queria e podia escrever”, contou. “Esta viagem à Índia não foi apenas um confronto com o plano divino e com o círculo da vida. Foi sobretudo a vivência brutal e inesperada do próprio consigo mesmo, e este contacto levou-me por sua vez à perceção de uma unidade chamada ‘universo manifesto em mim, universo manifesto em ti, universo manifesto em nós’, prosseguiu.
Na tarde de sábado, João Firmino explicou ainda que isto, por sua vez, o levou “à perceção de que as religiões, as ideologias, os rituais, os nossos próprios pensamentos e emoções são construídos em ordem num determinado plano divino, que é o que nós homens construímos, onde pode não caber a perceção de ‘universo manifesto em mim, em ti e em nós’ mas apenas um certo padrão que é na verdade projecto e idealizado pelas igrejas romanas”. Terminou o seu discurso e explicação sobre a viagem e sobre o livro em que agora a conta com um “muito obrigado e namasté”.
Resultado da pesquisa realizada e do conhecimento adquirido através da presença de João Firmino no local, “Onde o teu nome estiver escrito” reúne assim reflexões, vivências, emoções e intuições do autor, sem se esquecer de revelar “os contrastes profundos entre o Budismo e o Hinduísmo e o encontro e cruzamento entre Ocidente e Oriente”.
Maria João Figueira e Francisco Queirós apresentaram a obra
Francisco Queirós e Maria João Figueira foram os responsáveis pela apresentação da obra que, editada pela Chiado Books, faz parte da Colecção Palavras Soltas. “Este é um livro onde o João expressa muito de si e desta viagem, e que tem uma escrita em estilo de reportagem jornalística. Ao lê-lo, quase temos necessidade de ir atrás, de chegar ao fim. A escrita suscita um interesse constante, de saber o que vai acontecer a seguir”, considerou Francisco Queirós sobre a obra apresentada. “Neste livro, surge também algo que considero uma aventura do João em termos literários: a transcrição integral, total, fiel e transparente de troca de mensagens no Facebook com os amigos que fez na Índia e que são as personagens desta obra”, continuou, elogiando a capacidade de abertura, de se confessar, de ter a coragem de colocar no livro as suas vivências e emoções experienciadas no local e até de “comunicar o seu conflito, e a sua harmonia, com o seu corpo” durante a viagem.
Maria João Figueira, por sua vez, é amiga de João Firmino há cerca de 40 anos. “Esta é apenas mais uma etapa de uma grande jornada, que nos juntou ainda adolescentes”, começa por dizer. “Nessa altura começámos a reflectir e nunca mais parámos de questionar a vida, de questionar tudo, a começar por nós. Somos os maiores críticos um do outro e tem sido um percurso fantástico, de uma riqueza, de uma intensidade que penso que é um privilégio poder ter alguém na vida com quem possamos fazer esta viagem”, acrescentou, com emoção.
Sobre o amigo, disse ainda que “João é perito em sair do caminho supostamente traçado, direito e seguro”. Neste livro, partilha a experiência da viagem à Índia na primeira pessoa, “nos locais estranhos e exóticos, com as pessoas estranhas e exóticas”. Nas palavras de Maria João Figueira, “esta é sobretudo uma viagem que se faz de dentro para fora e de fora para dentro. Quando voltamos, voltamos sempre mais ricos, porque as viagens são isso mesmo”. No final da sua intervenção, aproveitou ainda o momento para agradecer ao amigo “o facto de poder ter acesso a estas ‘flashadas’ que a “obrigam a reflectir”.
Na apresentação que fez do seu livro, João Firmino mostrou ainda “as ambiências contrastantes das regiões que visitou e as diferentes culturas, religiões e tradições” e partilhou muitas das histórias que viveu aquando da sua estadia na Índia através de fotografias, vídeos, sons e canções indianas que trouxe consigo.
Por: Inês Antunes Malta